29 de maio de 2015

Revolta e Confissão

Caminhando por ruas do centro da cidade, o que se constata, com certa tristeza e preocupação, é que nas portas das lojas, ora fechadas, no lugar dos letreiros com os nomes dos estabelecimentos ou anúncios dos produtos ou serviços oferecidos, o que se vê são cartazes e placas assim: “Passa-se o ponto”; Liquidação para entrega das chaves” ou “Aluga-se”

Em contrapartida, nas calçadas o número de ambulantes não para de crescer. Vendem de tudo, sem pagar impostos, e furtando energia fazendo os apelidados “gatos”. E vendem produtos furtados e contrabandeados, sem qualquer controle das autoridades.

Emporcalham a cidade e atravancam o livre trânsito nas calçadas, obrigando as pessoas a caminhar como caranguejos, meio de lado.

Até comida vendem impunemente. Vez ou outra uma "ôtoridade” aparece, não para fiscalizar ou coibir, mas para pegar uma graninha, um cala boca.

Acontece, até, de fazerem alarde pontualmente, para iludir a população. Os jornais noticiam blitzes (aportuguesado)*, fotografam os fiscais  agindo e, naquele dia, os camelôs somem.

Para reaparecerem no dia seguinte, nos mesmos pontos. Há quem diga que  é melhor  ter estes ambulantes do que assaltantes nas esquinas. Que tristeza, não é não? Lembro  do Paulo Maluf, governador de  São Paulo, em apelo aos estupradores que depois assassinavam suas vítimas: “Estupra, mas não mata”.

Temos a seguinte opção
1) Conviver com a venda de produtos contrabandeados, ou roubados, de qualidade duvidosa, sem garantia, que não geram impostos e reduzem o movimento no comércio legalizado. Que por sua vez ou fecha as portas, ou atrasa o pagamento de impostos, ou reduz o número de empregados.

2)  Proibir ou disciplinar o comércio ambulante (ambulante de lugar fixo?) e os camelôs não terem alternativa senão virarem traficantes, trombadinhas ou assaltantes mesmo.

O governo do PT é o único culpado deste estado de coisas? A resposta honesta é que não, eles agravaram o problema, aprofundaram as raízes do mal.

Precisamos tomar vergonha na cara e deixar de comprar em camelôs, e  escolher melhor os representantes do povo nas câmaras e assembleias. E mais critério ainda na escolha de parlamentares que integrarão o Congresso Nacional.

Vou fazer uma confissão. Dois velhos amigos, um do tempo de infância, da escola primária, e outro dos bancos universitários, os dois também amigos um do outro, em oportunidades diferentes candidataram-se a função de vereador em Niterói.

Só para situar, esclareço que ambos, em oportunidades distintas, ajudaram-me muito,  em nome da nossa camaradagem.

Quando um deles postulou a vereança coincidiu de eu me mudar para São Paulo. Assim fiquei livre de votar nele e, pior, se eleito, ter que declinar do cargo de “chefe de gabinete” que ele apregoava seria meu.

Quanto ao outro não tive escapatória. Votei nele e, pior, consegui mais três votos.  

É preciso deixar claro que quando nos conhecemos éramos crianças, que crescemos e viramos adolescentes que bebiam chopp juntos. Era um rapaz educado, cuidadoso com a aparência, namorador, enfim, normal para os padrões daquele tempo. Estou falando dos anos 1940/1960.

O tempo passou e nossas vidas tomaram rumos diferentes. Perdemo-nos nas brumas do tempo.

Reencontramo-nos quando retornei de São Paulo, para onde meu destino me levou. Já então casado e com filhos.

Ele apareceu candidato e pediu meu voto e dos familiares que eu conseguisse conquistar.

Estava me reinserindo nas coisas da cidade, reencontrando antigos amigos, e ouvi rumores que ele não era muito correto na função que então desempenhava. Parece que, servidor público, não resistiu à tentação do ganho fácil com fraudes.  Era o que constava.

Na minha história, na minha vida, fora um personagem diferente, que me ajudou quando precisei. E parecia honesto e responsável.

Não sem um certo mal-estar decidi votar nele e pedi aos meus filhos e mulher que o fizessem. Felizmente ele não se elegeu. Quitei meu débito de reconhecimento pela ajuda no passado e fiquei bem na fita.

Mas quando ele me telefonou, na eleição seguinte, convidando-me para um jantar em sua casa, em homenagem ao Roberto Jefferson (aquele mesmo), pude declinar do convite e até pilheriar : me deixa fora desta.

Estou confessando que votei de forma irresponsável uma vez, porque no fundo não queria acreditar que aquele meu amiguinho de infância tivesse se transformado num corrupto. Mas errei. E fui anistiado porque ele não se elegeu. Como o primeiro que aludi.

Voto é coisa séria. É preciso usar corretamente. E comprar em camelôs é tiro no pé. Nem vou falar do absurdo que são os "desmanches" (ferro velho) e "compra de ouro" que são receptadores de roubos. Ficará para outra oportunidade.

Nota do editor: Blitz é abreviação da palavra alemã blitzkrieg, que significa “guerra relâmpago”.

http://www.portuguesnarede.com/2008/07/qual-o-plural-de-blitz.html

21 comentários:

Jorge Carrano disse...

Um destes amigos não vejo há anos, não porque eu esteja me esquivando dele, mas porque vivemos em mundos distintos.
O outro vez ou outra encontro no Forum eis que é advogado militante, ainda, embora mais velho do que eu.

Com política não me envolvo diretamente porque só botaria a mão em merda se estivesse distraído. Mantendo equidistância posso livremente manifestar minhas opiniões.

Freddy disse...

Já votei errado, já errei por não votar.
Nunca acertei, porque desde que tirei meu título, não me lembro de um candidato que seja que tenha correspondido (= atuado corretamente) ao meu eventual voto. Que fase!!! (parafraseando Milton Leite, narrador esportivo).

Quanto à alteração de caráter e personalidade de pessoas que pleiteiam cargos eletivos, ou quanto aos que orbitam em torno delas, várias frases me ocorreram:

- O poder corrompe.

- Toda pessoa tem o seu preço. Se você ainda não se vendeu é porque não chegaram nele.

- Quer testar o caráter de um homem? Dê dinheiro (ou poder) a ele.
Quer testar o caráter de uma mulher? Tire o dinheiro dela.

Cada uma delas dá um post inteiro.
Abraços
Freddy

Riva Revoltado disse...

E eu que votei no sapo barbudo ? Fazer o que, que fase ......

Podem me criticar, mas a única forma que encontrei nos últimos anos de deitar a cabeça tranquilo no travesseiro foi anulando todo e qualquer voto. E vou assim até a morte simplesmente porque as raízes já estão muito profundas em política, contaminando filhos, genros e noras, netos e bisnetos, todos roubando, todos legislando em causa própria, cagando para o Brasil de amanhã.

De novo, não vejo reversão, não percebo nenhum processo de reversão, até porque, como em Informática, o MAL sempre caminha muito à frente do BEM, que infelizmente é 100% reativo.

Teremos um Brasil Bandido consolidado em muito pouco tempo. Estudos assustadores existem, projetando uma população carcerária igual à população não carcerária em pouco mais de 60 anos. Imaginem o cenário, como deve ser ir comprar um pão na esquina ! Com certeza o serviço de "delivery" vai bombar nos próximos anos, porque ninguém vai querer sair de casa, nem para trabalhar.

Como se mudaria isso ? Não conheço nenhum método eficiente na história da humanidade que não contemple sangue, muito mesmo, muita tolerância zero (ou alguém aqui acha que estaríamos hoje com essa liberdade toda se não partissem pra dentro da Alemanha, e se não jogassem aquelas bombas no Japão ?)... mas isso não faz parte da História do Brasil contemporâneo .... e tem os tais dos direitos humanos, que para mim não vale para vagabundo.

#simplesassim

Jorge Carrano disse...

Operação aritmética:
75 (minha idade) + 60 anos (projeção do Riva) = 135
Ou seja, improvável presenciar este cenário.
Mas só a previsão narrada já parece um rascunho do inferno.

Riva Revoltado disse...

Olha, todos que aqui frequentam esse blog são pessoas muito bem informadas, inteligentes.

Por favor, me apontem qualquer ação concreta sendo realizada para reverter esse processo de gangrena no estado brasileiro :

Professores sendo agredidos por alunos e pela polícia.
Universidades com a infraestrutura arrasada.
Hospitais públicos idem.
Estradas esburacadas.
Ferrovias inexistentes.
Assaltos e assassinatos em escala progressiva.
Trânsito caótico.
Congresso corrompido em todos os níveis.
Desemprego.
Planos de saúde com preços escorchantes.
Comunicação super cara e com panes constantes.
Sistemas de energia não suportam a demanda.
Reservas hídricas nos limites.

Aumentem a lista ......

Esse é o cenário em 2015, imaginem em 2025, 2035, etc ...

Jorge Carrano disse...

Riva,
Diferentemente de você nunca votei em Lula. E a razão é muito simples.
A melhor alternativa a Fernando Henrique Cardoso e a sua política chamava-se José Serra, que embora abrigado sob o mesma sigla partidária não tinha ou tem ver com FHC.
Já escrevi no blog e repito, José Serra era o nosso mais bem preparado e experiente candidato à presidência.
Tanto quanto Lula combateu o regime militar. Se o primeiro foi líder sindical o segundo foi líder estudantil. Ficou exilado no exterior e aproveitou o tempo para estudar
A diferença cultural entre Lula e Serra era abissal.
Vamos a fatos concretos. Serra foi um bom ministro da saúde, isto mesmo, ministro da saúde, e porque e eu era diretor de um laboratório farmacêutico acompanhei sua atuação a frente do ministério.
Citarei apenas duas das medidas, extremamente positivas e benéficas para a população e que contrariavam os interesse da poderosa indústria farmacêutica. Quebrou patente dos produtos oncológicos e implantou os medicamentos genéricos. A ideia dos genéricos foi do Itamar Franco, mas quem levou adiante e implantou foi o Serra.
Os banqueiros temiam a vitória de Serra, porque ele iria modificar a política de juros. E sabemos todos, no Brasil os bancos são agiotas com CNPJ. O lucro que os bancos apregoam a cada semestre são indecorosos. Mas são comemorados como um feito a ser aplaudido. O que Lula fez, ou o que Dilma faz, no sentido de colocar o setor bancário no trilho onde sua atuação se justificaria?
Não é, seguramente, o de financiar governos comprando seus títulos e aprofundando déficits.
Voltando as eleições, Serra não teve nenhum apoio de FHS, metido a intelectual, vaidoso ao extremo. Ou seja, a máquina governamental não funcionou a favor do candidato da situação que, volto o afirmar, tinha outro perfil e iria dar uma sacudidela na economia.
No nordeste o Serra era desconhecido porque suas ações no ministério e no congresso não chegavam lá, porque não eram medidas demagógicas. Até mesmo em Niterói, quem mora aqui sabe, não houve campanha a favor do José Serra. Não se encontravam cartazes ou faixas a seu favor.
Não sei se Serra é passado e suas aspirações políticas deverão ficar restritas ao senado. O que sei é que ele foi traído por seu partido, principalmente por Fernando Henrique, que não sendo burro antevia seu obscurecimento com os resultados que seriam obtidos por Serra.
Tenho por dito e repetido.

Riva disse...

Votei no sapo barbudo em 89, contra o Collor.

Jorge Carrano disse...

Se ele tivesse sido eleito, estaríamos trumbicados ha muito mais tempo (rsrsrs).

Jorge Carrano disse...

Mesmo gripadinha, a musa venceu:
http://espn.uol.com.br/noticia/513961_mesmo-gripada-sharapova-bate-stosur-e-chega-as-oitavas-de-final-em-paris

Riva disse...

Pensando num post sobre a FIFA, mas nem sei por onde começar ....

Jorge Carrano disse...

Que tal pelo tricolor João Havelange (rsrsrs)

Jorge Carrano disse...

É uma ideia a considerar? Ou seria barbárie? Controla-se o crescimento populacional na área do pobreza e neutralizamos malfeitores. Que acham?

http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2015/05/delegada-defende-castracao-dos-suspeitos-de-estupro-coletivo-no-piaui.html

Incógnita disse...

Todos nós já fizemos escolhas equivocadas em algum momento a vida. Até na vida pessoal em questões de trabalho, amor ou amizade. Isso não nos desqualifica para continuar a decidir sobre nosso destino.
Por este motivo rejeito a abstenção sob a forma de ausência ou anulação do voto. Mesmo sabendo que posso errar, não colocarei o futuro de meu país e indiretamente a minha vida apenas nas mãos de outrem.

Jorge Carrano disse...

Algumas pessoas agem como a coruja de Minerva, recentemente trazida a imprensa pelo Veríssimo numa crônica dominical.
Na crônica ele refere Hegel (estamos indo longe - rs) que comentara que a citada coruja, da deusa romana da sabedoria, só voava à noite, para não enxergar as verdades do momento.
Boa analogia. Parabéns à coruja, a Minerva, a Hegel e ao Veríssimo (rs).

Riva disse...

Para os sábios do nosso blog, então abram meus olhos e minha mente :

- o que é a verdade e o que é a mentira para vocês ?
- o que é o belo e o que é o feio ?
- o que é o certo e o que é o errado ?
- o que é cegueira e o que é visão ?

Cada um age como quiser, e ninguém tem condições de julgar ; só julgam aqueles que se acham na posição certa, bonita, verdadeira, clara. etc, etc, etc.

Há corujas, há incógnitos (uma espécie de coruja que esconde a si própria), há dragões, serpentes, ratazanas e seres humanos.

Há de tudo ...

A insensatez é o combustível consumido por uma nave repleta de mediocridade, em sua longa jornada rumo ao Reino da Mesmice
(do filósofo Paulo Magog).

Riva disse...

Alô, Veríssimo !

O mundo tem diversas formas, dependendo de cada olhar.
A coruja enxerga à noite muito mais que a maioria dos humanos.

Visite Las Vegas, e conheça as duas las vegas : uma durante a luz do dia, e outra à noite - exemplo bem simples para os mais obtusos. E muitos acham ser a mesma cidade ... rs

Incógnita disse...

Não entendi a indireta do comentário do senhor que assina como "Riva".
Ou não entendi a abertura do blog a comentários.
Não censurei ninguém. Dei minha opinião e posição como cidadã. A cada cabeça uma sentença e a cada sentença sua consequência.
Porém, se assumir posição é agressivo aos senhores, farei como a já citada coruja. Observarei e ficarei calada.

Jorge Carrano disse...

Em hipótese alguma, Incógnita. Suas opiniões, assim como todas as bem fundamentadas, pertinentes e respeitosas serão bem vindas e são essenciais para nossos debates de ideias.

Não seja coruja, seja papagaia (é assim o feminino?).
E obrigado pela participação.

Riva disse...

Não entendi, também expressei minha opinião.

Prezada Incógnita, não seria a anulação ou abstenção do voto uma ausência tal qual o anonimato ?

Seja bem vinda, sempre, participe.

Riva disse...

Sobre o Centro de Niterói, está parecendo Calcutá ou Bombaim.

Mas nosso prefeito Rodrigo Neves prefere investir na revitalização de uma das ruas de Icaraí, na zona sul, do que desenvolver o projeto de revitalização do centro da cidade, que precisa de muitas implementações em sua infraestrutura.

Afinal, onde dá mais visibilidade ?

Freddy disse...

Sobre camelôs, abordados no texto.
A polícia carioca fez um arrastão e apreendeu centenas de itens contrabandeados e roubados à venda no chamado Camelódromo, no centro do Rio. E aí eu me lembrei...

Como assim existir um conglomerado oficializado de barracas e quiosques regiamente estabelecido com acesso direto por metrô? Quantas firmas e comerciantes legalizados não pagariam rios de dinheiro por uma mordomia dessas na sua porta? (vide Ed. Avenida Central)
E quem dela usufrui? Camelôs!
Não fecha legal em minha cabeça...