12 de novembro de 2013

O fim da inocência




Por
Carlos Frederico March
(Freddy)






Um dos maiores problemas pelos quais estamos passando é uma overdose de verdades. Nem mesmo os mais tenazes seguidores das notícias de jornais, TV e rádio jamais teriam, no passado, acesso a tanta informação junta como hoje, com a globalização das comunicações e disseminação de redes sociais. 

Isso é bom? Sei não... 

Estamos acostumados a conhecer somente alguns dos perigos que rondam nossas nem sempre pacatas vidas. Isso alivia parte de nosso estresse. Permite que juntemos forças para atacar com fé e com vontade cada um dos revezes que o destino nos aprontar, mas apenas quando ele o aprontar. Os demais permanecem escondidos, aguardando sua vez - e podem simplesmente não acontecer, é vero. 

Imagino que a maioria das pessoas comuns desabaria em crises nervosas ou de pânico se tivessem conhecimento de todos os perigos - internos ou externos - que as cercam no cotidiano. O peso desse conhecimento poderia ser maior que sua capacidade de suportá-lo. 

Incluo por exemplo doenças que estejam silenciosamente se desenvolvendo. Um coágulo pronto a se desprender (pode não soltar), uma pinta que pode vir (ou não) a se tornar um câncer, uma artéria prejudicada por camadas de gordura (virá a ficar bloqueada ou não), uma retina mal fixada que pode (ou não) soltar com uma cabeçada num jogo de futebol... Tantas possibilidades e incertezas... 

Contudo, o que me trouxe ao tema não são os perigos internos, muitos dos quais podem efetivamente ser combatidos ou prevenidos, e sim as ameaças externas. Elas também contribuem para aumentar 
nosso nível de preocupação e estresse - e isso também nos faz mal! 

Temos agora conhecimento, através de redes sociais e de notícias on-line, de tudo de ruim que acontece ao nosso entorno, muitas vezes logo aqui ao lado. Sequestros, latrocínios, abuso de poder pela polícia e órgãos responsáveis pela ordem urbana, corrupção generalizada seguida de impunidade, governantes que nada ou pouco fazem em prol do povo que o elegeu. Manobras políticas e judiciais, compra de votos para manutenção do poder, mau uso de verbas oriundas de impostos retirados a fórceps de nossos bolsos...

A insegurança é generalizada. O aparato policial é desviado para defender só o que afeta ao governo e seus interesses imediatos. Para "limpar" o Rio de Janeiro, foco das atenções internacionais por causa da Copa da FIFA e das Olimpíadas de 2016, os traficantes e bandidos são apenas expulsos de suas bases. Se resolvem se estabelecer nas cidades vizinhas, nenhuma providência adicional é tomada. Já não afeta o plano de metas.

O clímax, para mim, está sendo o perigoso momento que começamos a vivenciar na política brasileira, fruto da impunidade declarada. Coisas como "- Desviei verba sim, e daí?" ou "- Levei propina para que a empresa de meu correligionário vencesse a concorrência sim, e daí?" ou "- Comprei voto através de assistencialismo sim, e daí?". 

Pior para nós, pois perpetuará o status quo, será quando constatarmos: "- Vou usar a máquina pública para fazer campanha sim, e daí?" 

Não podemos mais fingir que não vemos. As informações são jogadas em nosso colo, todos os dias. 

Estamos sendo obrigados a encarar a verdade dos fatos mais crus e hediondos. O processo que a psicologia chama de "fuga" está sendo impedido pela enxurrada diária. Não há onde ou como se esconder. Mesmo não querendo ler o noticiário, uma nota de um "amigo" no Facebook lhe alfineta o espírito e o faz lembrar do maldito mundo real. 

Não há mais como se manter inocente quanto ao mundo que nos cerca. Não há mais como bancar o avestruz e enterrar a cabeça no solo para não saber de nada (com exceção do Lula, é bom frisar).

Livros serão escritos a respeito de como a nossa sociedade, ou cada um de nós individualmente, deverá lidar com essa nova realidade. 

Imagino que alguns são naturalmente fortes, outros se entregarão à luta, raros se manterão incólumes, neutros. Síndromes emocionais como pânico ou estresse excessivo já acometem muitos dos que gostariam de manter-se à margem e não conseguem. 

A partir de agora, com a globalização da informação, ninguém mais será inocente.

11 comentários:

Jorge Carrano disse...

Pois é, caro Freddy, se não há como ignorar as notícias, porque as pessoas de bem amantes da lei, da ordem, da disciplina e da retidão de conduta, que presumivelmente seriam a maioria da população, não manifesta pelos meios possíveis a sua indignação e inconformismo com o status quo?
Como fazê-lo? Sugiro votar melhor, com mais consciência; manifestar-se nas redes sociais assumindo opinião critica; escrevendo para as redações de jornais e revistas semanais; enviando e-mails para o senado federal e a câmara dos deputados; dando pitaco aqui no blog.
E, porque não, indo para as ruas nos protesto pacíficos. O que não é possível é ficarmos calados. Ou então não estamos indignados.
A torcida do Vasco deu uma demonstração da força, fazendo um time chinfrim, que perdia de 2 e com dois jogadores lesionados e substituídos, tudo isto até os 26 minutos de jogo, jogar o suficiente para arrancar um empate heroico. Se, sei lá, os 60.000 tivessem ficado mudos, calados, a vaca ateria ido para o brejo com corda e tudo.

Freddy disse...

Como já andei dizendo em algum comentário passado, fui criado como alienado político. Talvez por isso pra mim seja difícil admitir (ou conviver com) o fim da inocência.
Por outro lado, discordo que a maioria votante no país seja de "pessoas de bem", que leem jornais, acessam redes sociais, tem opinião formada sobre movimentos reivindicatórios, ou seja, tenham um mínimo de cultura e educação cívica.
Claro, não vou dizer que o miserável no sertão não seja uma boa pessoa, mas a maioria no país é de pessoas sem cultura, sem informação, carente de tudo, que se vende (ou troca seu voto) por qualquer benesse momentânea.
Vou admitir que ficar calado não é a melhor solução, mas vejo pouca chance no curto prazo de nossa indignação postada nos meios ao nosso alcance faça alguma diferença no resultado das próximas eleições.
=8-/
Rreddy

Riva disse...

Freddy, o que houve ?

Freddy disse...

Lendo jornal demais...
Lendo posts políticos demais...
E olha que nem vejo TV...
=8-/

Riva disse...

Recebo O GLOBO nos fins de semana, e só vejo amenidades. Não leio uma linha de assuntos políticos ou policiais. Idem na web. Só coisas boas. E como acho que já falei, também na atual fase, descartando pessoas que não agregam nada legal na minha vida.
Muita música, leitura, família e filmes sobre a Natureza na SKY - aliás, ontem vi um desbundante de quase 2 horas com imagens aéreas do Canadá .... deslumbrante o programa.

Amanhã temos reunião no condomínio - pensando se vou ...cansei de ser o beija-flor levando minha gotinha para apagar o incêndio. Deixando para os mais jovens.

Domingo, não sei se viram, uma reportagem com S.Antonio, dono do famoso restaurante de Nikity. O cara construiu tudo aquilo, já entregou para o filho, e disse que só quer saber de aproveitar a vida que lhe resta, gastando muita grana com viagens e coisas que lhe dão prazer.

Jorge Carrano disse...

Ontem, no canal Globosat+ (34 da Sky)teve documentário parecido, visto do alto, só que sobre o Reino Unido (Inglaterra e Irlanda).
Muito bacana também.

Freddy disse...

Por contingências de momento, estou sem TV em Niterói, apenas canais abertos e mesmo assim pegando mal.
Como não vou a Friburgo faz tempo, estou pagando Sky à toa. Isso vai acabar.
Mas posso afirmar que, por índole, não vejo TV. É mais fácil me ver navegando nos sites bacanas de imagens. Sou seguidor de alguns no Facebook, como "Amazing Things in the World" ou "Awessome World", fora os científicos sobre astronomia, uma paixão.
Só que... ultimamente fraquejei e deixei o mundo entrar, aí... bem, deu nesse post!
=8-/
Freddy

Riva disse...

Freddy, se vc não vê TV, como sabe tanto em detalhes sobre futebol atual ? Inclusive sobre os outros times !!!
Me engana que eu gosto ....rrsrsrs

Freddy disse...

Eu sigo na Internet.
Pode passar aqui em casa e constatar que eu não tenho TV na sala e a do quarto está com uma antena interna jogada num canto.
Em Friburgo, onde tenho Sky, eu não vejo simplesmente porque não tenho mais ido lá!
;-)
Freddy

Jorge Carrano disse...

Vocês notaram que não dei pitaco na conversa ?
Para quem não sabe, está chegando agora no blog, estes irmãos se amam e respeitam, inobstante serem muito diferentes.
E em conversa de família não se deve meter o bedelho.

Riva disse...

Freddy, voltando ao futebol .... as análises profundas que vc faz dos jogos não são de quem vê notícias pela internet ..... me engana que eu gosto ! rsrsrs