6 de novembro de 2013

Bibliotecas públicas e privadas

Lí, no Estadão (edição de 19.09.2013), que em São Paulo as bibliotecas, públicas e particulares, andam às moscas.


Muitas delas seriam praticamente desconhecidas da população e vivem vazias. É dado como exemplo, entre outros, a da Academia Paulista de Letras, instituição fundada ha 103 anos, e que está sediada no centro da cidade.


Possui 80.000 títulos, inclusive algumas primeiras edições raríssimas, dos séculos  XVII e XVIII. A média de visitantes é de oito por mês.


Acervos imensos, existentes em algumas dezenas de prédios na cidade, não são visitados por uma viva alma, em alguns meses. Há um caso relatado, de uma biblioteca que tem mais funcionários do que visitantes/leitores. E, ainda, de uma outra onde há quem vá apenas para ler os jornais diários.  


Pudera, tivemos um presidente que se jactava de jamais haver lido um livro. Não estou imputando apenas ao ex-presidente a responsabilidade pelo desinteresse pela leitura. Mas quem diz que "nasceu analfabeto, como a mãe", e chegou à presidência,  não obstante não ler, é um péssimo  exemplo. 


Outros fatores devem estar contribuindo para o esvaziamento das bibliotecas públicas. O aumento da renda média do brasileiro, que permite investimento em educação e lazer (leia-se compra de livros) impressos. Os e-books e algumas resenhas encontráveis no Google, em alguns casos obras completas e os programas de distribuição de livros didáticos, poderão ser outros fatores.

Há um outro fator que está afastando as pessoas dos livros, mesmo e-books: são os iPhones. Os possuidores não tiram os olhos dos aparelhinhos nem enquanto conversam com você. Observe nos elevadores, nas lanchas (Rio-Niterói), nos ônibus, as pessoas estão todas cabisbaixas, olhos fixos nos aparelhos que trazem numa das mãos.

Entretanto, a "Feira do Livro", na Barra, no Rio, teve este ano um recorde de público, formando filas e congestionando o trânsito. E com muitas crianças, felizmente. 




Eu me lembro que, pobre e estudante do Liceu, precisava frequentar a (muito boa) Biblioteca Estadual localizada em frente, do outra lado da praça da República (foto acima). Principalmente para fazer trabalhos que exigiam pesquisas.


Como costumo guardar velharias (embora já tenha feito ao longo dos últimos 5 anos muita faxina em meus alfarrábios, incinerando muito "lixo", tenho ainda meus cartões de "sócio" ou frequentador, da Biblioteca Pública. Conforme se verifica na imagem abaixo, depois de 2 anos de afastamento dos livros, retomei minha inscrição.







Também recorria àquela biblioteca para a leitura dos clássicos da literatura universal. Foi lá que fui apresentado a Fiódor Dostoievski (Crime e Castigo), Leon Tolstói (Ana Rarenina, Guerra e Paz), Kafka (O Processo), Victor Hugo (Os Miseráveis).


Li, também, lá na Biblioteca Estadual, os filósofos franceses na moda (no Liceu) Rousseau, Sartre, Voltaire;  e também os romances Madame Bovary, Cyrano de Bergerac,  e como não poderia deixar de ser, os Dumas (pai e filho): Os 3 mosqueteiros, A Rainha Margot, A Dama das Camélias.

Quando já estava na fase de prestar vestibular, porque estavam no programa,  li Machado de Assis, José de Alencar, Euclides da Cunha (um parte dos Sertões), passei a leitura dos portugueses, Eça de Queiróz, em primeiro lugar, e os do romantismo, Alexandre Herculano (O Pároco da Aldeia), Almeida Garret, Camilo Castelo Branco.

Mencionei o que li de Herculano, porque o normal seria ter lido "Eurico  -  o Presbítero" por causa do amigo Eurico César Rodrigues da Costa, a quem sempre associava a obra (apenas pelo título).

Já que falei do vestibular, vale assinalar que foi ótimo ter lido Guerra e Paz, porque na prova de português (na época eliminatória), o tema da dissertação foi "A Guerra e a Paz). Notaram que não era especificamente Guerra e Paz e sim uma contraposição de estágios - a guerra e a paz. Mas é óbvio que quem leu a obra de Tolstói tinha assunto para encher linguiça.

Cortázar
Anos mais tarde  pude desfrutar de livros de amigos, em especial o Hermes, que tinha uma boa variedade de obras em casa.  Fui, por ele, apresentado a ótimos escritores latinoamericanos, inclusive nacionais. Assim conheci Jorge Luiz Borges, Ernesto Sabato, Julio Cortázar, Gabriel Garcia Marques, Mario Vargas Llosa.

Entre os nacionais, para minha surpresa (agradável), pelo preconceito, gostei de "O Coronel e o Lobizomem", de José Candido de Carvalho (única obra que conheço do autor), que utiliza um linguajar tipico,  e Chapadão do Bugre (Mario Palmério), que é muito melhor do que a novela ou minissérie (não lembro) produzida pela Band, há alguns anos. E João Ubaldo Ribeiro, um de meus favoritos até hoje.




Além do acervo literário, algumas destas bibliotecas (tema do post) são patrimônio arquitetônico, como é o caso, aqui no Rio, do Real Gabinete Português de Leitura, que comparo à Confeitaria Colombo. A Colombo é o Real Gabinete da gastronomia, enquanto este é a Colombo da literatura.
As imagens a seguir traduzem bem o que quero dizer. Se não pelo conteúdo literário, justifica uma visita o belo projeto do edifício e sua decoração.


















A Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, é um portentoso prédio (foto abaixo) que abriga um incomensurável número de obras literárias, técnicas, científicas, teses, revistas, jornais e documentos importantes.


A própria por mim citada Biblioteca Pública de Niterói, embora num prédio mais acanhado, tem (ou tinha, já não frequento) uma boa coleção de romances e livros didáticos. E a arquitetura é clássica, como podem constatar na foto.

Biblioteca Pública ( Niterói)
Sem conhecer as estatística ouso dizer que o quadro aqui no Rio de Janeiro/Niterói, não difere muito da situação em São Paulo, apresentada na matéria jornalística.


Belíssima foto de um belíssimo ambiente de leitura


Imagens: todas obtidas no Google. A última, do interior do Real Gabinete Português de Leitura, consta na própria foto o crédito do autor.

21 comentários:

Jorge Carrano disse...

Antigamente não havia a ponte Rio-Niterói e não tinham sido lançados os iPhones.
A travessia da baia da Guanabara era longa e a leitura era uma distração.
E no horário de almoço também era uma boa pedida complementar o tempo com leituras amenas.
E, acho, as pessoas se preocupavam um pouco mais com seu enriquecimento cultural.

Riva disse...

Acho que estamos numa espécie de entressafra. Tenho observado muita gente adepta do e-book, realmente - nos catamarãs e ônibus. E claro, à moda "antiga", com um livro na mão também.

Não tenho, como o Carrano, a sensação de que estamos lendo menos. Acho que diversificou mesmo. Acho até que tenho percebido mais pessoas lendo algum livro. O ideal seria acessar os números das vendas no Brasil. Aí si teríamos a realidade no assunto.

Continuo resistindo ao e-book. Simplesmente não consigo. E olha que lá em casa tem um equipamento de um dos meus filhos para utilizar.

Gosto - ainda - de manusear um livro, folhear, cheirar, rabiscar às vezes. Carrego sempre comigo um na mochila.

Hoje mesmo atravessei para o Rio na barca antiga. Ahhh ... 25 minutos de leitura, refestelado naquela poltrona dos anos 50. Muito bom !!!

Minha leitura atual : The lifeboat, de Charlotte Rogan, adquirido na última viagem.

Jorge Carrano disse...

O que me impressionou, Riva, na matéria jornalística, foi a informação de que existem bibliotecas que não recebem uma viva alma em alguns meses.
O quê está havendo?
São os e-books? As pessoas agora compram mais do que no passado? É a internet que publica resenhas e até íntegra de algumas obras?

Anônimo disse...

Com tanta leitura e até hoje o blogueiro não aprendeu a escrever?

Jorge Carrano disse...

Veja só Anônimo, a importância de ser persistente. Entre outras, esta é uma razão para que eu não abandone os livros. Já melhorei muito. Aos 3 anos meu vocabulário era muito menor e não sabia escrever, só pronunciar, as vezes errado.
Agora, 70 anos mais velho, tenho o prazer de tê-lo como leitor. Obrigado.

Jorge Carrano disse...

O que vocês fazem com os livros após a leitura? Guardam nas estantes? Botam para circular entre parentes e amigos? Vende no sebo mais próximo?

Confesso que antigamente não gostava de emprestar meus livros. Quando o fazia, anotava num caderninho o titulo da obra e a quem emprestei, com data.

Os e-books decretarão o fim das estantes? Assim como o pen drive está eliminando a discoteca?

Riva disse...

Emprestar jamais !!!!!!! E também não pego emprestado com ninguém.

Mantenho uma pequena biblioteca, com os que sei que vou reler ou consultar, e faço doações constantemente. Às vezes também vendo alguns por quantias ridículas - tipo 5 ou 8 reais.

Riva disse...

Ah, sim, sobre as bibliotecas. Acho que não cabe mais um empreendimento desses, com a web acessível a quase todos. Talvez nas universidades ainda continue por um bom tempo. Sei que na Europa ainda são muito utilizadas pelos estudantes, mas .... até quando ?

Jorge Carrano disse...

As bibliotecas mundo afora estão digitalizando seus acervos.

Riva disse...

A digitalização é o pulo do gato de hoje, para eliminar espaços, muito valiosos para qualquer empresa.
Falando nisso, estou pensando em vender TODOS os meus CDs, que ocupam um espaço enorme na minha casa.
Não ouço mais CDs ..uso somente as "playlists" do meu iPhone ...

#simplesassim

Jorge Carrano disse...

E se um dia voltarem à moda, como os LPs de vinil agora?

Jorge Carrano disse...

Era para rir, Riva.

Riva disse...

rsrsrs
Quando me desfiz dos LPs, fiquei com os que mais gostava. Ainda tenho o pick up.

Idem com os CDs quando for vender.

Jorge Carrano disse...

Falou!

Freddy disse...

Aos poucos estou me desfazendo de minha biblioteca particular. Já dei várias coleções, muitos livros avulsos, retenho apenas alguns poucos que (esperança...) penso ter vontade de ler novamente.
O Google não deixará pedra sobre pedra. Tudo que eu preciso consultar está à distância de um ou dois cliques...
Uma imensa biblioteca como as mostradas nas fotos está mais para museu que para fonte de consulta, hoje em dia. Infelizmente. Eu gostava de manusear um livro, e ainda resisto aos e-books, cansam muito a vista. No entanto todas as minhas pesquisas se dão pela Internet.
Abraços
Freddy

Hugo disse...

Boa noite.

Eu ainda prefiro livros, compro muito de sebo, anoto em um papel as partes que gostei mais e depois passo para um caderno (com índice...), faz muita diferença.

Ray Bradbury dizia que na internet você não lê um livro, mas um manuscrito e as pessoas querem ler livros e não manuscritos. Estou com ele, ainda que aparentemente seja minoria (e aliás parece-me que "ler" já me coloca entre as minorias), mas no final das contas gosto de estar do lado de Bradbury, mesmo que seja apenas para massagear meu ego.

Obrigado.

Jorge Carrano disse...

Caro Hugo,
Você não avalia a alegria que me dá retornando ao blog.

Somos parte da minoria digna de todos os encômios: dos que gostam de ler.

Tirante a música, que também me agrada e emociona, diria que nada mais nos enriquece do que a leitura.

E assim como você gosto do livro impresso.

Obrigado, de novo, pela visita virtual.

Riva disse...

Prezados Hugo e Jorge,

Eu continuo compartilhando meus livros nos catamarãs Rio-Niterói. Após lido, e sem interesse na guarda e/ou sem nenhum parente ou amigo interessado, "esqueço" o livro no assento do catamarã, com um recado, incentivando o compartilhamento posterior.

Não me adapto à leitura eletrônica. Nem em grandes textos de matérias na web consigo me fixar.

Hugo, também faço muitos apontamentos mas nos próprios livros, grifo, faço observações naquelas páginas vazias do fim do livro,para pesquisas posteriores, etc.

Também adoro o cheiro dos livros, acreditem.....como não amá-los ?

Terminei essa semana a autobiografia da Rita Lee (uma loucura total rsrsrs), e vou iniciar "Homo Deus- uma breve história do amanhã", de Yuval Noah Harari.

Bom FDS a todos ! ...e que vença o menos pior no sábado .... (rs)

Jorge Carrano disse...

Hugo,
Para você ficar situado e entender o final do comentário do Riva, informo que ele é tricolor e eu vascaíno.

Esta prática de "esquecer" livros nos assentos de catamarãs, ou ônibus ou ainda bancos de praças, que o Riva adotou há muito tempo e já relatou no blog, é também de minha irmã, que inclusive a guisa de dedicatória esclarece que foi intencional, que quem encontrou pode e deve ficar com o livro ... e ler.

Doar para bibliotecas de escolas públicas também é boa iniciativa.

Bom final de semana para todos nós.

Jorge Carrano disse...

BIENAL DO LIVRO, versão 2017

Agora no início de setembro será instalada a Bienal do Livro, ótimo programa para quem gosta de ler.

Ótima oportunidade para levar filhos e netos a fim criar neles o gosto pela leitura.

Jorge Carrano disse...

A Biblioteca Pública, na Praça da República, agora é municipal, desde 2016, por causa da falência do Estado do Rio de Janeiro, que ficou sem recursos para mantê-la.

Ates de sr um lástima foi uma vergonha. Cabral e sua quadrilha quebraram o Estado.