2 de novembro de 2013

O Elefante e as Religiões












Por
Carlos Frederico March
(Freddy)








Faz tempo que eu queria escrever sobre isso, mas não gosto muito de polemizar sobre religião. Sabe como é, o modo mais rápido de se perder um amigo ou se meter em confusão é debater sobre futebol, política e religião. No entanto, o próprio patrocinador deste espaço, nosso amigo Carrano, adora acirrar ânimos, portanto lá vai!
    
Existe uma piada acerca de como 7 ceguinhos descreveram um elefante ao serem apresentados ao imenso paquiderme.

- O primeiro disse que o elefante era uma corda com um tufo na ponta, como se fosse um espanador. Havia pego o rabo.
- O segundo disse que o elefante era uma parede! Havia tocado o animal pelos flancos.
- O terceiro disse que ele era como uma mangueira de bombeiro, mas enorme: pegou a tromba.
- O quarto disse que ele era uma verdadeira arma, parecida com uma baioneta mas estranhamente encurvada: obviamente pegara uma das presas. 
- O quinto avaliou e disse que achava o elefante um tronco de árvore. Ele havia abraçado uma das patas.
- O sexto, disse que ele parecia uma cortina, daquelas bem grossas! Havia pego uma das orelhas. 
- O sétimo pensou que elefante era uma caverna úmida, acessara a bocarra do animal!

Elefante
A tese que pretendo apresentar é a de que todas as religiões atuais, ao menos as maiores e mais bem estruturadas, se comportam como cada um dos ceguinhos ao descrever o elefante. Abordamos facetas de Deus e de sua criação, mas ainda não temos capacidade de abarcar o todo. Cristãos (católicos, evangélicos e espíritas), islâmicos, judeus, budistas, todos tocam partes do Criador com mãos toscas mas sem conseguir enxergá-lo em sua grandeza e plenitude. 

Voltemos um pouco no tempo. Se você fosse um maia, ou inca (que nem a roda conhecia), um egípcio na idade antiga, juraria de pé junto que o ambiente que o cercava era todo ele regido por deuses diversos. Essa era sua verdade, ou melhor, a verdade que sua sociedade conseguia enxergar e descrever com os conhecimentos que tinha. 

Doenças eram curadas com ervas e preces. De vez em quando nada dava certo e pestes dizimavam tribos inteiras, safras se perdiam e a fome grassava implacável. Para esses povos, tudo isso era punição por algo que alguém fizera. Raios, trovões, enchentes, erupções vulcânicas e outras catástrofes naturais, eram todas elas associadas ao mau humor dos deuses. De acordo com seus ritos religiosos, para aplacar a incompreensível ira divina, eles sacrificavam escravos, virgens, animais, o que fosse.

Oh! Isso não! Você dirá que hoje somos cultos e sabemos o que significa um trovão, um raio, uma erupção vulcânica. Um cometa que apareça e ilumine os céus com sua espada flamejante é nada mais que uma rocha cheia de gases que se volatilizam ao se aproximar do Sol e não um sinal dos céus de que algo importante (positivo ou negativo) está para acontecer. 

A humanidade já dispõe de uma ampla gama de remédios e procedimentos médicos que curam inúmeras doenças, e aquelas que ainda não têm cura você sabe que é uma questão de tempo, não da vontade de um Deus vingativo. Nossa ciência já avançou até aí. 

Faça agora, caro leitor, um exercício de imaginação: viaje ao futuro! A essa altura a humanidade já terá colonizado a Lua, Marte e estabelecido bases científicas em alguns satélites de Júpiter e Saturno. 

A maioria absoluta das doenças já será curável, viver mais de 100 anos será corriqueiro. A ciência já explicou nebulosas e galáxias e agora entende como a matéria e energia que permeiam o espaço sideral foram criadas. 

Imaginando-se nesse futuro, olhe então para trás e menospreze aqueles povos idiotas (nós hoje) que cultuavam várias religiões diferentes e se digladiavam entre si, cada uma defendendo seu Messias ou seu Guru, cada um com suas regras e ritos e ditames. Islâmicos querendo esmagar os infiéis, evangélicos berrando suas preces, católicos defendendo sua estrutura milenar com unhas e dentes, espíritas evocando vidas passadas, budistas orando por todos os demais, e por aí vai. 

Parece-lhe um futuro improvável? Sei não... Coloque-se novamente na pele do tal maia ou inca, ou de um faraó egípcio, de gregos e romanos da Idade Antiga. Procure em profunda reflexão imaginar como era a vida naquela época primitiva, com todas as limitações e o pouco saber. Cada povo explicando a Natureza ao seu redor, ao lado, acima e abaixo, através de sua tosca religiosidade...

Pirâmides de Gizé - Egito

Sinta-se vivendo nesse passado longínquo e procure refletir como absorveria (se é que teria condições mentais de absorver) a notícia de que no futuro haveria antibióticos, operações a laser, controle de safras. Imagine-se recebendo explicações sobre transmissão de imagens e comunicação à distância (TV, internet), máquinas voadoras, eletricidade, automóveis e naves espaciais. 

Dá para perceber que o conhecimento daquelas sociedades não tinha base científica alguma para entender o que estariam lhes contando? Para elas, tudo isso não só era coisa de deuses (uma enorme quantidade deles) como em alguns casos era tão inadmissível que nem deuses seriam capazes de realizar! 

Oh, mas NÓS sabemos! Já temos tecnologia e conhecimentos científicos para descrever a Natureza ao nosso redor, curamos doenças e nos comunicamos globalmente on-line! É bem verdade que ainda não conseguimos entender muito bem o Universo nem como ele pode ter sido criado... 

Como não?! Eu - católico, evangélico, espírita, islâmico, budista, judeu, etc etc etc - conheço o Criador e sua obra! Eu oro para Ele e/ou para Seu representante entre nós todo dia, toda hora, ou a cada instante! Cumpro todos os ritos e exerço a minha fé (cada um em sua religião) com dedicação, respeito e temor! 

Não se iluda porém, caro leitor! Haverá um tempo à frente em que você será um maia ou inca ou egípcio da era dos faraós para um povo do futuro. E então esse povo olhará o passado e dirá que, como cada um dos 7 ceguinhos, nem de longe você conseguiu compreender o que é um elefante! 

Cometa Hale-Bopp (1997)


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Créditos das imagens

Elefante
http://www.animalgalleries.org/Large-Land-Mammals/Elephants/ 

Pirâmides de Gizé
http://misteriosfantasticos.blogspot.com.br/2012/03/piramides-do-egito.html

Cometa Hale-Bopp (1997)
http://apod.nasa.gov/apod/ap131013.html

Image Credit & Copyright: Jerry Lodriguss (Catching the Light)

15 comentários:

Jorge Carrano disse...

Bom dia, Freddy!

Como disse no email acusando o recebimento de post, achei interessante sua tese de evocar crenças religiosas do passado, projetando, quem sabe, novos costumes, convicções e fé no futuro, diferentes das que hoje professamos. E possamos chegar (embora eu duvide) mais próximos da questão da existência de um Deus único.
Enfim, gregos e romanos nos deixaram fantástico legado filosófico, legislativo, ético e moral. E não obstante veneravam e temiam mais de um Deus. Havia os da guerra e os da paz. Muitos protegiam, mas eram inclementes nos castigos. O Diabo ou Demônio é criação mais recente, foi idealizado por nós para personificar as forças do mal que estão dentro de nós. E livrar a cara de Deus que passaria a ser só piedoso e fiel.
Mas há registro bíblico de que Deus, ele mesmo, castigava os infiéis, e com requintes de perversidade, como em Sodoma a Gomorra, onde nem mesmo as crianças foram poupadas.
Deuses eram conspícuos e muitas vezes promíscuos. Tinham relações com mortais e entre eles. E pouco escrúpulo às vezes.
Peguemos como exemplo Jupiter (cujo equivalente para os gregos seria Zeus). Jupiter era filho de Saturno, que apegado ao poder devorava seus filhos assim que nasciam, portanto, um tirano impiedoso. Salvo pela mãe, Jupiter sobrevive e adulto se vinga do pai, tomando-lhe o poder (Olimpo).
Mas acontece que Jupiter tinha suas deformações de caráter para os padrões hoje vigentes. Casou-se com uma irmã (Juno) e teve relações com mortais como Semele, de cuja união nasceu Baco (nosso Deus preferido, ou não, Freddy?) Mas Jupiter teve também filhos divinos, tais como Marte e Venus.
Veja que havia incesto, dissimulação (Jupiter se vestia com pele de cabra para seduzir humanas mortais). Muita orgia, muito castigo cruel.
Ainda assim estas civilizações, seus povos, com suas crendices, foram o berço de nossa “civilização” ocidental.

Freddy disse...

O mais importante de seu comentário é que, para o povo daquela época e lugar, tudo isso que você descreveu era a verdade absoluta e inquestionável.
Hoje prega-se outras (diversas) verdades, em defesa das quais alguns fanáticos até matam.
Minha tese é que lá na frente (no tempo) também seremos apenas história, quando não ridicularizados por nossas crenças.
Abraço
Freddy

Anônimo disse...

Embora já tenha comentado antes sobre este tema, volto a afirmar que, de fato, daqui a 100 anos todas estas tecnologias de hoje serão motivo de galhofa, como hoje rimos das antigas.
Euclides

Jorge Carrano disse...

E Deus, será motivo de chacota, Euclides?

Anônimo disse...

Hereges!!!!

Jorge Carrano disse...

Quanto a mim, diria melhor agnóstico.
E você Anônimo, que não assume suas convicções, ocultando-se atras do escudo protetor do anonimato, acredita em que? Conhece a verdade?

Jorge Carrano disse...

Entrando no espírito natalino, vou puxar o coro:
"Jingle bells, jingle bells
Jingle all the way
Oh, what fun it is to ride
In a one horse open sleigh"

Riva disse...

Na incapacidade e necessidade de assumir sua pequenez diante da natureza, o homem criou a figura de um deus, superior a todos.

E infelizmente a maioria não consegue perceber a igualdade absoluta existente entre os seres humanos, animais de todas as espécies, plantas, minerais, a natureza como um todo.

Aqueles que continuam essa busca por algo superior, serão eternamente infelizes consigo mesmo e com as outras espécies.

E felizes aqueles que, pelo menos em alguns momentos, já conseguem perceber essa igualdade.

Parem de procurar um deus, e me expliquem o INFINITO, por favor. Grato !

Freddy disse...

Eu ou qualquer um que explique o INFINITO de uma maneira coerente e convincente será elevado imediatamente a superstar da filosofia, pois que a mente humana não consegue alcançar tal conceito com os limites que tem.
Abraços
Freddy

Anônimo disse...

Vou-lhe explicar Riva o que é infinito: é o lugar onde as paralelas se encontram.

Jorge Carrano disse...

Temos um piadista no pedaço. Só que no post errado.

Freddy disse...

Recomendo a leitura do livro "Os Dragões do Éden" do falecido Carl Sagan (The Dragons of Eden - 1977). Apesar da visão materialista, baseada exclusivamente na teoria da evolução, ele explica cientificamente o porque de nossa situação superior frente aos demais animais, no momento presente da evolução da vida na Terra.
Abraços
Freddy

Riva disse...

Freddy toca exatamente no problema da raça humana : consideram-se superiores aos demais animais. Essa é uma visão 1000% humana, e causadora de todos os nossos problemas - no planeta Terra.

O homem não respeita a si próprio, e nem as outras espécies, não respeita a natureza. E usa a existência de deuses (superiores) como muleta para sua estupidez.

#simplesassim

Anônimo, você está próximo da iluminação, pois tem real conhecimento de que as paralelas se encontram. A raça humana, em geral, não tem essa visão ainda ....

FLUi .... rumo à Série B

Freddy disse...

Hmmm... Série B...
Vasco tem pela frente "apenas" Santos, Grêmio, Corinthians, Cruzeiro, Atlético-PR...
Tem também o Náutico, mas para quem perdeu pra Portuguesa, Ponte Preta, Criciúma e empatou com Bahia deve ser páreo duro...
Se ele conseguir somar mais uns 6 pontos até o final, já é muito...
;-/
Freddy

Jorge Carrano disse...

Sobre elefante não podem deixar de ler:

http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=167772&tm=&layout=121&visual=49

https://adfinitas.wordpress.com/2012/04/22/a-viagem-do-elefante-jose-saramago/

http://www.posfacio.com.br/2012/05/07/a-viagem-do-elefante-jose-saramago/