11 de janeiro de 2012

Palmadas e mochilas

Gente do céu!
O Congresso Nacional se supera a cada dia. Além de abrigar corruptos de vários matizes e estirpes, fisiologistas e bandidos que, como substantivo, segundo o Aurélio, significa malfeitor, facínora, bandoleiro, e, por extensão, também pessoa sem caráter, de maus sentimentos, acolhe em seu ventre também idiotas, no sentido amplo de pouco inteligente, estúpido, ignorante, imbecil, ainda segundo o famoso dicionarista.

Antes de prosseguir na minha tese, quero fazer dois registros:
1)   eles estão lá porque eleitos, mas posso afirmar que não por minha culpa;
2)   é possível que tenha vida inteligente e íntegra no congresso, mas bem feito para eles por se misturarem com a ralé, com a escória. Ficam com o rótulo genérico, como os medicamentos que tais.

Mas porque falei em superação? Porque tramitam lá naquele antro dois projetos que correm risco de aprovação e significam uma intromissão indevida na vida privada dos cidadãos.

É o estado querendo estender seus tentáculos, pautando e controlando o comportamento da sociedade. Uma mistura de George Orwell (1984) com Aldous Huxley (O admirável mundo novo)







O pior de tudo é pretenderem estabelecer regras para coisas incontroláveis. Como proibir palmadas nas crianças e limitar o peso de mochilas.

Começo pelas mochilas que como sabem os poucos (mas bravos) que me acompanham aqui e os que estão ao meu redor familiar, que sou sério crítico da maioria dos mochileiros urbanos, do dia-a-dia, que entram nos elevadores com suas enormes cangalhas nas costas e resolvem virar de frente para a porta, esbarrando e até machucando com sua tralha as pessoas que lá estão naquele ambiente em geral apertado.

Também nos corredores dos ônibus vão batendo nas cabeças das pessoas sentadas nos bancos junto ao corredor do veículo.

Bem, aproveitei para de novo descarregar minha ira sobre os mal educados que se encaixam neste comportamento relatado (minha irmã e um dos filhos, mochileiros,  não se enquadram no perfil).

Mas afinal o que pretende o projeto de lei que tramita no legislativo? Vejam o enunciado do artigo primeiro: “O estudante não poderá transportar material escolar  em mochilas cuja carga  exceda 10% (dez por cento) do seu peso corporal”.

Você está pensando que alguns fiscais ficarão nas portas das escolas com duas balanças, uma para pesar o aluno e outra para pesar sua mochila (e talvez uma calculadora pois no serviço público tudo é possível); e abrirão concurso para contratação de fiscais de mochilas.

Não, você se enganou, não haverá uso de balança, pois o próprio projeto estabalece que a aferição do peso do aluno será feita mediante declaração escrita pelo próprio, se este estiver cursando o ensino médio, ou de seus pais se estiverem em creche ou no ensino fundamental.

Imaginem a criancinha da creche ter que exibir declaração assinada pelos responsáveis, informando seu peso. E a outra ter que exibir a caderneta escolar para provar que já cursa o ensino médio e pode, em consequência, assinar a declaração de peso.

 Acho que o projeto não define se haverá necessidade de reconhecer a firma do aluno, na declaração de próprio punho, quando estudante do ensino médio.

Querem o nome do parlamentar que apresentou o projeto? Atende pelo nome de Sandes Junior. Talvez os pais fossem fãs da dupla de irmãos Sandy e Junior.

O outro projeto que reputo hipócrita, já foi bastante veiculado na imprensa e já sofreu muitas criticas, mas também alguns aplausos. Ué, tem gente que aplaude Fiuk, donde o espanto?

Mas o projeto é o que proíbe palmadas nas crianças.

Vamos esperar que o pessoal da área de tecnologia desenvolva um equipamento capaz de medir se foi uma palmadinha, uma palmada forte ou já foi um tabefe de lutador de  UFC.

A quem caberá denunciar?  Vai dar bode, porque uma intromissão indevida do vizinho pode dar briga feia e resultar até em morte.
Casais separados poderão, por puro revanchismo, ou para questionar a guarda dos filhos, inventar agressões as crianças.

A quem caberá apurar e julgar os excessos?

Desde quando uma palmada (eu disse palmada, não um espancamento) fez, faz ou fará mal como reprimenda de uma criança mais rebelde ou desobediente como se dizia antigamente.

Não é com leis que invadem a privacidade das famílias que construiremos melhores cidadãos. São os valores éticos e morais que respeitamos e servem de espelho, que contribuem mais efetivamente na formação dos filhos.

No mais, os educadores teóricos, principalmente os instalados nos altos escalões do governo, acham que falar “nos pega o peixe” (veja nota de rodapé) numa concordância que fere os ouvidos, pode e não tem problema, mas dar uma palmada porque o filho não fez o dever escolar, tendo dito que fizera e tirado uma nota zero, não pode.

Essa tentativa a um só tempo idiota e demagogica de classificar as coisas como politicamente corretas ou incorretas é que leva a estes absurdos, como proibir Monteiro Lobato e retirar suas obras do currículo escolar.


N do A: "Nós pega o peixe" ou "os menino pega o peixe" são alguns dos erros gramaticais encontrados no livro de língua portuguesa Por uma vida melhor, da Coleção Viver, Aprender - adotado pelo Ministério da Educação e distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos (PNLD - EJA).

8 comentários:

Gusmão disse...

Na minha época de estudante, nos cursos primário e ginasial, a palmatória já não era usada.
Mas levei muitas palmadas de meu pai que, coitado, sofria tanto batendo quanto eu apanhando. Eu sentia na pele e ele no coração.
Ele tinha que aplicar as palmadas a frio, quando chegava do trabalho e ouvia o relato das peraltices do dia feito por minha mãe.
Não fiquei traumatizado, e nunca deixei de respeitar ao meu pai, que me amava mais ou pelo menos tanto quanto eu a ele.
Ora, vão se catar congressistas sem senso de ridículo e pseudo-educadores de chapa branca.

Carrano disse...

Obrigado pela visita, Gusmão.

Freddy disse...

O congresso, a câmara, o senado, são apenas reflexos de nossa sociedade. Como acho que já tive oportunidade de comentar, só vai piorar.
Em sendo o regime uma democracia (e não sei de alternativa melhor no momento) o voto da maioria é que decide a eleição desses indivíduos. Os pobres e desinformados se reproduzem como ratos, estimulados por assistencialismo e religiões mal conduzidas. Os esclarecidos refugam prole, quando as tem é tipo 1 ou 2. Vai daí a chance de mudar o quadro é nula.
O jeito é... onde é mesmo o aeroporto?
Abraço
Carlos

Carrano disse...

O foco da discussão são as palmadas dadas pelos pais.
Vocês são contra?
Abraços

Paulo disse...

Assunto complicado esse ... e 100% a ver com culturas. Já li coisas do "arco da velha" sobre isso (Gusmão, qual a origem de Arco da Velha? rsrsrs).
Não sou a favor de palmadas em crianças nem em cães nem em gatos nem em ninguém, para educá-los.
Meu pai nunca encostou a mão em mim ... não precisava. Ele só falava, só mostrava o erro e o caminho certo. Bastava, e eu sigo a mesma linha ...nossos 3 maravilhosos filhos foram educados assim.
Mas ....... SOU A FAVOR DA PENA DE MORTE PARA LADRÕES DE VERBA PARA SOCORRER PESSOAS E/OU COMUNIDADES. E que se cobre a BALA da família do desgraçado.
Sds Paulo

Carrano disse...

É assunto controverso mesmo, Paulo.
Eu levei e apliquei palmadas.
Também posso, sem exagero ou corujice, classificar meus dois filhos de maravilhosos.
Logo, há algo mais que influi na educação e formação dos filhos do que dar ou não dar palmadas.
Eu acho que são os exemplos, talvez mais que as palavras e as palmadas.
O que não me conformo, data venia, é que o Estado invada a vida privada das famílias, para impor regras.
Até porque, no Brasil, neste terreno (educação), a atuação das autoridades é ridicula.
Abraço

Paulo disse...

Resumiu tudo, Carrano : exemplos ! Independente de com ou sem plamadas.

Quanto à interferência do Estado : estou lendo (devorando) um livro entitulado O PILOTO DE HITLER,que entra em muitos detalhes do dia a dia da Alemanha nazista.
E vejo coincidências no assunto ...
Sds

Freddy disse...

Só para não ficar alheio ao cerne do blog, ao contrário do que alega meu irmão eu apanhei. De meu pai e de minha mãe. Já levei "chinelo voador" em situação em que papai não pôde me alcançar.
Não tenho mágoa nenhuma a respeito, em geral eu mereci.

Dei palmadas em minhas filhas, e até quando elas já eram grandes. Essas mais recentes me doem fundo na alma... Acho que tenho remorsos. Dessas, não das anteriores.

Em resumo, sou a favor de correção quando é devida e algumas vezes só com demonstração de força você consegue dobrar a peste.

Sou frontalmente contra a interferência do estado em nossa vida particular, guardadas proporções de violência doméstica, que passa à esfera policial. Creio que seja uma maneira de afastar o foco do povo de questões nacionais mais importantes. Como a crise do judiciário que você vem postando mais recentemente.

Abraços
Carlos