25 de janeiro de 2012

Mazelas do crescimento imobiliário - II

  Por
  Carlos Frederico M B March


Tendo em vista que meu recente post sobre Mazelas do Crescimento Imobiliário rendeu acirrado debate sobre assuntos mais importantes que o abordado, vi-me compelido a fazer um texto complementar.

Em primeiro lugar, tenho uma mente light. Sei que hoje em dia tem gente que só levanta questões políticas e sociais, tornam-se arautos da moralidade pública, fazem abaixo assinados e na Internet só postam mensagens de crítica a governo e costumes. Que assim permaneçam, mas nunca foi meu forte. Alheio a política, conheço a frase "quem não gosta de política é governado por quem gosta", mas nem me lixo.

Por conta desse meu modo de ser, inocentemente fiz o tal post sobre fotografia que, para azar meu, fez menção a questões mais sérias até por conta do título, segundo avaliação, inadequado. Pois bem, hoje eu tentarei abordar algumas mazelas reais.

Uma das mais trágicas e conhecidas é a localização do Aeroporto de Congonhas, na capital paulista. Pipocas! Quando o aeroporto foi ali instalado em 1936, nada havia em torno, dizem que sua localização era boa porque evitava cheias do Rio Tietê, mazela da época no Campo de Marte.

Meus caros leitores: não é culpa do aeroporto se a especulação imobiliária foi ocupando os terrenos cada vez mais próximos, a ponto de hoje termos uma selva de pedra com um aeroporto nela incrustado!
Aeroporto de Congonhas, São Paulo*

O que acho inadmissível é quererem desativá-lo! Vai contra meu espírito de justiça. A população que ali comprou seu imóvel sabia que tinha um aeroporto, portanto, que se danem! Coloquem janelas duplas para filtrar ruído, rezem para que nenhum avião lhe caia na cabeça, ora! É o preço a pagar por terem comprado errado.

OK, vamos em frente. Caso de menos importância. Trajeto Niterói - Friburgo. Passava pelo centro de Cachoeiras de Macacu, uma avenida interna de paralelepípedo que ganhou quebra-molas para refrear o entusiasmo do tráfego intermunicipal. Construíram uma via paralela de 4 pistas com o objetivo de ser o segmento da rodovia que serviria ao tráfego de quem subia a serra. Mas era muito legal! Asfaltada, larga, bonita, canteiro no meio. Hoje tem dezenas de casas comerciais e um tráfego urbano enorme. Resultado? Quebra-molas!

O mesmo acontecerá com a Avenida do Contorno, a Niterói-Manilha. Hoje privatizada e pedagiada, não demora a população vai ocupar os terrenos lindeiros e mais um pouco à frente vai exigir quebra-molas e pardais, como na estrada antiga que passa por Alcântara. E a prefeitura vai atender, em vez de cuidar da ordem pública - que seria proibir a construção desordenada nas margens da mesma.

Vou baixar a bola mais ainda e chegar ao bairro onde resido atualmente: Jardim Icaraí. Tomado pela especulação imobiliária, cada casa se tornará um prédio! Sem que a prefeitura faça nada em termos de adequação de infra-estrutura. Em época de escassez de água, os prédios que não têm a proibida bomba de sucção simplesmente ficam à mercê das pipas pagas, dado que as gratuitas da prefeitura nem passam perto.


Projeto: salas comerciais
para profissionais da saúde
No momento, para me limitar aos quarteirões da esquina de Rua Nóbrega com Rua Domingues de Sá, temos a derrubada de uma casa para construção de um prédio de salas comerciais para profissionais da área de saúde. A 100 metros, abaixo na Domingues de Sá derrubaram várias casas e uma boate para fazer um mega empreendimento de mais de 100 apartamentos de 3 e 4 quartos super luxuosos. Também a 100 metros, mas na Rua Nóbrega, a mesma construtora fará um prédio para apartamentos de 2 e 3 em frente a um já em término de construção.



Terreno: Ópera de Milano, 3 e 4 quartos,
mais de 100 aptos


Segundo contam, a grande maioria das casas antigas do bairro já se encontram cooptadas para venda e construção de prédios (plantas já autorizadas), só aguardando o momento correto.









Polo Gastronômico de Jardim Icaraí.
 Um pouco além, na mesma Rua Nóbrega na direção leste e ruas adjacentes, situa-se o Polo Gastronômico de Jardim Icaraí. É onde os moradores  reclamam do barulho, pois fica literalmente apinhado de gente à noite, principalmente mas não apenas nos fins de semana.
Na área iluminada da Rua Nóbrega mostrada na foto temos os bares e restaurantes Nossa Casa, Torninha Ristorante (o melhor bistrô da cidade), Gendai (japa), Boteco Confraria, Spicy, Salve Simpatia, Miksi e Queen Jardim. Próximos nas ruas adjacentes temos o Bar Predileto, Creperia Brasil, Bar Nóbrega, Da Carmine Ristorante, Torna Pub (recém inaugurado, fantástico), Bar Lendários (rock dos anos 70) e outros mais.
Uma loucura!

Eu estou dividido... A explosão imobiliária me afeta tanto negativa como positivamente (não esqueçamos que meu apê também valorizou), mas com certeza morar no Polo Gastronômico é conveniente, ainda mais no atual cenário da Lei Seca!


Espumante ao por-do-sol
12/07/2011

*A foto do aeroporto de Congonhas foi obtida na Wikipedia, as demais são do autor texto.


Para terminar, enquanto eu ainda posso curti-lo até que um arranha-céu bloqueie meu horizonte definitivamente, mais um por do sol com um brinde a esse estimulante debate! Saúde!

6 comentários:

Jorge Carrano disse...

De-se por feliz, Carlos, porque se você vivesse na China, desde a há muito teria perdido sua paisagem, a visão privilegiada do por-do-sol.
Segundo leio, em 15 dias eles conseguem erguer 30 andares. Uma loucura!
Corroborando o que você escreveu, que a maioria das casas do bairro já estão negociadas com construtoras e incorporadores, e as licenças para construção de edifícios já estão concedidas, li na seção “Fala, Niterói !”,d'O Globo, uma carta de leitor que na mesma linha de raciocínio afirma que a medida anunciada pelo prefeito, de suspensão das licenças para construção no Jardim Icaraí, é risível e inócua.
Abraço

Gusmão disse...

Pior do que permitir ou fazer “vista grossa”, para construções próximas a aeroportos e siderúrgicas (e depois o morador reclamar da poluição), é permitir as construções em áreas de risco. Lembrem do Morro do Bumba.
Apesar de também na Região Serrana e em Angra dos Reis, casas bacanas de gente de dinheiro, haverem desabado por causa do solo das encostas que desmoronam facilmente com muita água.

Paulo disse...

Ontem ocorreu a mais grave das mazelas do crescimento imobiliário ... a total falta de fiscalização de obras e suas instalações.
Onde está essa porra desse CREA, que só cobra mensalidades dos engenheiros, e não fiscaliza NADA ??
Abrs Paulo

Freddy disse...

Achei interessante o post no Facebook de nosso primo Luiz Fernando sobre a velhinha que se lembrou do deslocamento do edifício que ruiu durante a obra o metrô da Cinelândia. Um palmo, e a solução adotada pela prefeitura na época foi preencher o espaço com concreto.
Vamos ver se isso é divulgado (e se é verdade) e se há desdobramentos.
Abraço
Carlos

Freddy disse...

Comentarista de blog é uma fauna difícil de lidar. Fiz um post modesto (16-01-2012), com a intenção de apenas discorrer sobre a frustração fotográfica oriunda do aparecimento de prédios em torno de meu terraço e choveram críticas do tipo que isso era bobagem, que eu esquecera tudo que o citado crescimento imobiliário traria de reais prejuízos à população e coisa e tal.
Eis portanto um blog mais aderente ao que o povo quer, até com algumas opiniões controversas do tipo dane-se quem comprou na frente da pista do Congonhas. E nada... Ninguém se interessou...
Dá-me a impressão que o prazer sádico do leitor é cair na pele do incauto que teve o desplante de postar sua opinião sobre qualquer assunto, desde que encontre algo que possa colocar numa bigorna virtual e cair de malho em cima.
OK, a vida é assim.
Abraços
Carlos

Paulo disse...

Gostei da Bigorna Virtual .... interessante e criativo .... merece um post !
Abs