16 de janeiro de 2012

Mazelas do crescimento imobiliário

Por
Carlos Frederico M B March


A permissão dada pela Prefeitura para construção em massa de novos prédios vai aos poucos transformando o belo bairro de Jardim Icaraí numa Selva de Pedra. Casa após casa vai sendo derrubada para dar lugar a edifícios com gabarito elevado, inadequados à infra-estrutura existente, que não sofre atualização há décadas.

Por natureza, sempre gostei de panoramas, de paisagens, do céu... Na infância fui aficionado por cafifas (hoje pipas) e fiz muito balão, além de adorar passar horas observando tanto uns como outros no quintal de minha casa no bairro do Pé Pequeno. Por ocasião de uma reforma que meus pais fizeram, foi construído um terraço só para satisfazer essa minha paixão pelo céu. Quem segue este blog há de se lembrar de post recente, onde descrevo outra faceta desse comportamento contemplativo, que é a observação do design de aeronaves.

Em paralelo me tornei astrônomo amador, instruído inicialmente por minha mãe quando tinha 12 anos, que me contou de estrelas e planetas e me deu um livrinho tosco, que na época pra mim se tornou um tesouro. Ao fazer 14 anos ganhei um telescópio refletor de 4 polegadas de abertura. Nem sabia mexer direito com ele, só o fui operar corretamente quando já tinha uns 30 anos, mas o hobby foi mantido desde a adolescência através da leitura de livros e revistas. Até hoje assino Astronomy, revista americana do ramo.

Já adulto, me tornei fotógrafo amador. Mais tarde fiz um curso especializado mas não cheguei a militar na profissão. Cafifa era coisa de garoto e a conscientização na maturidade me afastou dos balões. Astronomia nos grandes centros só mesmo em livros, a poluição luminosa torna inviável o uso de equipamentos de observação. No entanto com fotografia consegui dar vazão a meus anseios de registrar paisagens e alguns momentos memoráveis ligados ao céu.

Crepúsculo, dia 10 de dezembro de 2011



13/08/2011 - 17:53:45



Um belo dia resolvi registrar um nascer da Lua Cheia. Normalmente não o faço, onde moro dificilmente ela se coloca no céu numa posição, vamos dizer, mais fotogênica. No caso ela nasceu bem entre dois prédios, atrás de um morro lá para os lados de Pendotiba.









13/08/2011 - 17:54:50

Não sei se já repararam, mas a cada mês a Lua nasce num ponto totalmente diferente no horizonte, dentro de um limite definido pela Astronomia. Com mais frequência ela nasce atrás dos prédios, de sorte que só vou vê-la já noite fechada, acima das antenas. portanto, flagrá-la aparecendo por cima das árvores ao longe é raro. A qualidade fotográfica da sequência apresentada nem é exatamente boa, mas dará base ao meu argumento.


 




13/08/2011 - 17:58:15


Diria que, ao vivo, esse nascer foi memorável, repetiu-se por alguns dias cada vez mais tarde, por conta do comportamento usual do par Terra/Lua. Eu e minha esposa chegamos a ficar no terraço num desses dias com uma garrafa de espumante, bebericando de olho no relógio só para testemunhar mais esse espetáculo da Natureza. 











Observem agora a foto a seguir... Ainda não terminou a construção, mas pelo gabarito costumeiro no bairro, não demora e o morro que serviu de pano de fundo para esse nascer da Lua será encoberto pelo novo edifício e suas antenas. Minha mordomia aos poucos desvanece.


Vista do terraço, horizonte ao leste- 4 de janeiro de 2012



 Minha torcida é que para o lado do ocaso, onde as coisas costumam ser mais interessantes como registrado em foto mostrada no início desse texto, demore mais um tempo até o panorama ser tomado pelo concreto.




14 comentários:

Jorge Carrano disse...

Prezado Carlos,
A manchete do Globo Niterói, de ontem, era: "NOVAS CONSTRUÇÕES ESTÃO PROIBIDAS NO JARDIM ICARAI" Lamentavelmente para você, a proibição chegou tarde. As licenças já concedidas serão mantidas e o prédio que está crecendo ofuscando sua visão privilegiada continuará sua marcha em direção ao céu. Pelo menos poderá ser mantida a visão do ocaso. Abraço

Gusmão disse...

Niterói vai acabar igual a Nova Yorque, que segundo o Tom Jobim, é uma cidade pra ser vista quando carregado em uma maca.
Abraço

Carrano disse...

Os chineses estão preocupados, acreditem, com uma possível bolha imobiliária. A nossa está enorme. Tomara que não exploda, porque teríamos uma grande quebradeira.A facilidade de crédito imobiliário, com casos de mais de 100% de financiamento, levou a este crescimento. As mazelas: mais congestionamento no trânsito, mais boeiros de esgoto transbordando, menos vista do horizonte (não é Carlos?) Olá, Gusmão: Seu post estará no ar aos 10 minutos do próximo dia 19. Abraços

Anônimo disse...

Tem coisa pior pessoal.
Você mora numa rua tranquila, arborizada, estritamente residencial, e de repente uma das casas vira um restaurante, em seguida outra é transformada em clínica médica, uma terceira agora é butique, e o sossego acabou.
Aumentou o movimento de veículos e estacionar na rua tornou-se difícil.
Fernandez

Freddy disse...

Reconheço que há várias coisas piores - excluindo tragédias da natureza. Uma delas é você ter sua casa desapropriada pelo valor venal para construção de metrô, auto-estrada ou mero alargamento de via, com pagamento sabe-se lá quando!

No caso de Niterói, as más línguas dão conta de que um dia um prefeito (?) liberou aumento de gabarito. Teria havido uma grita geral e dias depois ele voltou atrás... depois de ter assinado todos os projetos que já estavam na sua mesa, habilmente negociados com as construtoras mancomunadas.

Portanto, mesmo meu horizonte oeste está comprometido. Como saber o que já está aprovado? De cara o Opera Niterói, na Domingues de Sá.

Abraço
Carlos

Anônimo disse...

O cara tá reclamando que perdeu paisagem.
Se botassem uma parada de ônibus defronte ao prédio onde mora, como fizeram no meu, ele iria ver que a perda dele foi insignificante, viu Fernandez?

Carrano disse...

Esta é uma discussão em que todos estão com razão.
Não estamos numa competição de mazelas. Todas as situações relatadas são inconvenientes.
Não tem essa de minha mazela é pior do que a sua.
Vejam que bem próximo ao prédio onde moro, agora tem Kombi, à noite, vendendo cachorro quente.
O cheiro de cebola, vamos combinar, é de lascar.
Caro Carlos, o assunto que você levantou, de absoluta desordem urbana, mostra que as administrações municipais que temos tido, foram e são incompetentes ou corruptas. Ou as duas coisas ao mesmo tempo.Frequent, por razões profissionais, um prédio na esquina da Otávio Carneiro com Tavares de Macedo. A camelotagem já chegou por lá.
Obrigado a todos pelos comentários. Inclusive ao "anônimo" Fernandez e ao anônimo mesmo.
Abraços

Freddy disse...

O crescimento imobiliário em Charitas e Jardim Icaraí é incompatível com a infra-estrutura existente. É um aumento incontrolável de oferta de imóveis sem que um níquel seja aplicado em redes de água e esgoto, para não falar do caos nas estreitas vias urbanas.
A Rua Nóbrega ganhou um polo gastronômico que inferniza a vida de todo mundo que mora em 2 quarteirões, apesar de que faz a festa de outros (como eu, que curto gastronomia e pouco me lixo pra barulho - moro no alto).
Tudo é assunto discutível e merece espaço.
Só que o foco do post é paisagem, como já teve flores, música, mulheres, "boca no trombone", etc.
Abraço
Carlos

Gusmão disse...

Carlos:
Em matéria de paisagem, quem mora na praia de Icarai é perivilegiado. Concorda? Pão de Açúcar, Corcovado, a orla niteroiense, MAC, etc.
Entretanto, os moradores têm muitas mazelas, como por exemplo a maresia, o forte vento, o som estridente dos vários shows ao longo do ano, os vândalos no réveillon, etc. Até as paradas de ônibus citadas aí por um anônimo.
Vá se conformando. O crescimento do mercado imobiliário é aplaudido, por quem não é diretamenete prejudicado, porque gera emprego e renda, porque demonstra pujança na economia, incrementa a venda de cimento, tijolo, louças e metais.
Abraço

Paulo disse...

Tentando manter o foco inicial do post : a mudança de paisagem que me incomoda mesmo é a quantidade de sem teto mendigando e dormindo na rua, e o incrível aumento do comércio informal. Irreversível, na minha opinião, assustador. Essa é a paisagem que me afeta profundamente.
Um dado estatístico : daqui a uns 40 anos teremos uma população carcerária = população não carcerária. Essa é a paisagem mais assustadora de todas.
Sds

Carrano disse...

As paisagens citadas pelo Paulo, porque feias e deprimentes, se confundem com as mazelas, transformando-se numa coisa só.
Abraço

Carrano disse...

Gusmão, ainda há tempo de dizer que você lembrou bem, ao se referir ao Tom sobre apreciar NY de maca.
Será que Niterói chega lá?
Não creio. Antes morreremos todos soterrados num mar de m... a julgar por nossa já saturada rede de esgotos.
Abraço

Freddy disse...

É, Carrano... Como me alertou, o que um título inadequado provoca... Um singelo post sobre FOTOGRAFIA se transformou num campo de batalha.
Quem sabe faço um complemento abordando as áreas que o público quer?
De momento, apenas lamento.
Abraço
Carlos

Paulo disse...

Nada a lamentar, nada de inadequado ...achei show de bola o desdobramento do post.
Lamento mesmo a pouca participação daqueles que presumo, lêem o blog e não comentam.
Enfim.... achei ótimo o desdobramento. Debate é isso.

paulo