5 de janeiro de 2012

A carta roubada

Por
Jorge Carrano
http://www.tauvirtual.com.br/pt/

Imagine uma ditadura, onde o serviço postal é estatal e a sociedade é muito vigiada pelo regime. Esse serviço postal abre todas as correspondências que circulam pelo país, faz uma cópia delas, recoloca no envelope e então envia para o destinatário. As cartas ficam armazenadas em pastas, cada uma com o nome do remetente, guardadas em armários gigantes, num conjunto de prédios nos arredores da capital.

Parece absurdo? Ao que tudo indica, é isso que o Facebook faz com seus usuários. Só que por um método moderno, sem “cópias” ou “papel”. Na verdade, nem precisam “abrir os envelopes”, pois ao se logar na rede social, o próprio usuário já o faz. Os armários para armazenar os dados são servidores poderosos, espalhados em diversos pontos do planeta. No caso do Facebook, são mais de 60 mil.

Não é novidade que Facebook sofre, há anos, de inúmeras suspeitas e alguns processos relativos ao tratamento da privacidade dos dados de seus usuários.

Em outubro passado, Max Schrems, um estudante de direito austríaco, conseguiu enviar uma solicitação ao Facebook para fornecimento de seus dados pessoais. Recebeu em casa, enviado da Califórnia, um CD contendo nada menos que o equivalente a 1.200 páginas impressas com informações, transcrições de conversas e – aí reside o pior, talvez – dados que já haviam sido deletados por ele. Se foram deletados, não poderiam mais estar registrados em lugar nenhum. O vídeo abaixo traz um resumo da história:


O Facebook, com seus estimados 800 milhões de usuários é uma força de atração poderosa. As pessoas querem estar lá porque seus “amigos” estão lá. Já comentamos aqui sobre a questão da privacidade e de como o modelo comercial de redes como o Facebook é construído:

http://www.youtube.com/watch?v=kJvAUqs3Ofg&feature=player_embedded

Para os usuários, as redes ainda conservam o padrão “grátis” que caracterizou a internet em seu início. Na verdade, as redes atuais usam o velho modelo “build and they will come“, ou seja, constroem o ambiente (infraestrutura de servidores, softwares, aplicativos etc), investem na atração de participantes - ironicamente, usando meios tradicionais em vários casos - e depois acenam aos patrocinadores com alguns milhões de usuários. Aí é que os usuários se tornam reféns das redes, e serão bombardeados com mensagens comerciais. [leia na íntegra, em http://www.cavernaweb.com.br/?p=1921]

Se o processo iniciado pelo estudante austríaco obrigará o Facebook a tratar com mais responsabilidade os dados de seus usuários e, de fato, apagá-los quando estes o fizerem, ainda é cedo para saber. Garantido mesmo é que, uma vez divulgada, qualquer informação no mundo digital pode ser reproduzida, editada e armazenada quase indefinidamente. O que o Facebook sabe a seu respeito? Veja abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=kJvAUqs3Ofg&feature=player_embedded


Em tempo: o título deste post refere-se a um conto do escritor Edgar Allan Poe, no qual uma certa carta, roubada dos aposentos reais, poderia comprometer a honra de uma importante figura.



Written by Jorge Carrano in: Artigos,Cultura,Digital
http://www.cavernaweb.com.br/?p=2197

4 comentários:

Freddy disse...

Carrano, eu sou cadastrado no Facebook. E você?

Sobre o texto, todos sabemos dos riscos. Não só do Facebook, mas até de um mísero Google. A cada pesquisa seu interesse fica gravado. É perigoso, a gente de vez em quando pesquisa sites "complicados". No entanto, acho que todos acabam gostando de viver na adrenalina.

Abraço
Carlos

Carrano disse...

Não estou no Facebook ou em quaisquer outras das chamadas redes sociais.Na Internet, estou apenas neste blog e num sitio profissional que anda descontinuado.
Temo que venha deixar de existir por não estar no Facebook. Assim como não ter CPF torna o individuo um excluído.
Logo, logo, além dos sem-terra e dos sem-teto, haverá uma comunidade, uma ONG, dos sem-facebook. E pertencerei a ela.
E alerto, existem dois Jorge Carrano, pelo menos, ativos participantes do Facebook. Não confunda, "recuse imitações", como dizia um antigo reclame comercial.
Não são fakes, mas não são o mesmo blogueiro com quem você se relaciona aqui neste espaço, amigo Carlos.
Por oportuno, aviso aos que estão chegando agora que o JC que assina este post é o meu filho homônimo. Portanto, com o mesmo DNA, para o bem e para o mal.
Abraço

Paulo March disse...

Amor sem Limites ..... poderemos viver eternamente via Facebook ou outro aplicativo qqer.
Veja : vc morre hoje, é enterrado amanhã, mas suas coisas continuam circulando, ou até alguém dá continuidade aos seus escritos e etc, para aqueles que não sabem que vc já "partiu". E por aí vai ...
Loucura total.
A solução passa por uma alienação total ... prefiro correr o risco. Abrs

Freddy disse...

Eu não tinha Orkut, não aguentei o Twitter mais que um mês - acho que só é útil para quem usa internet em dispositivos móveis.
Entrei no Face e saí 1 hora depois, apavorado com a exposição. Mês depois, tendo travado TODAS as funcionalidades do maldito (demorou dias), cadastrei-me novamente. Então, dia a dia, venho soltando uma ou outra amarra, fechando novamente algumas. O sacana parece engessado, reclama pra cacete ("a ação não foi permitida pelo usuário" - e eu bato palmas).
Aos poucos me acostumo, mas tá difícil é entender que as pessoas não querem ler nada. Conteúdo zero. Usam-no como Twitter e se você expressa uma opinião contrária à vaselina social, ganha inimigos.
Mas vou sobrevivendo.
Abraços
Carlos