O nome foi inventado pelo Carlinhos e pelo Irapuan *. Mas o bar existiu mesmo. Ficava na Domingues de Sá. O dono, de trás-os-montes, chamava-se Manuel.
Já falei deste bar em post mais antigo, e volto hoje, já que escrevi recentemente sobre a bobagem do politicamente correto, para contar uma situação muito engraçada, presenciada lá no Manel´s.
As conversas, como sempre, rolavam soltas. As poucas mesas ocupadas. Entre cinco e seis da tarde (atualmente batizado de happy hour), era o horário de praxe para reunião do grupo liderado pelos dois citados amigos, os mais assíduos frequentadores do bar, onde tinham conta pendurada. Que pagavam e, para comemorar, tomavam várias portuguesinhas**, dando início a um novo pendura***. Eu era bissexto, pois a grana era extremamente curta mesmo.
Na mesa ao lado conversavam três rapazes. Assim como nós éramos. Todo mundo tinha entre 15 e 18 anos, com uma margem de erro de 10%, para mais ou para menos.
À horas quantas um deles estava relatando uma situação que vivera na véspera, cerca de 11 da noite, muito escuro, perseguido por um cão de rua, porque correu com medo de um negão enorme que vinha na mesma calçada, em sentido contrário, alí no pedaço de Santa Rosa, hoje apelidado, por razões mercadológicas, pela indústria imobliária, de Jardim Icarai.
Ele contava que não só girou nos calcanhares, dando meia volta, como atravessou a rua e saiu em disparada, com receio de ser abordado pelo negão. Com isso, chamou a atenção do cão que correu atrás dele por duas quadras. Chegou em casa quase evacuando nas calças.
Solitário numa mesa, que ocupava, segundo o Manuel contou depois, desde uma da tarde, e já tendo tomado pelos menos umas 5 cervejas e duas talagadas de cachaça, um negro forte, meia idade, perguntou, com voz ameaçadora, para o rapaz que acabara de contar o seu caso: - Por que tu disse que o cara era um negão enorme? Que qui tu qué dizer. Se fosse um branco tava limpo? Você não corria?
Restabelecido do susto, o rapazinho respondeu irônico, mas sem poder disfarçar que estava assustado: - Falei porque era um negrão mesmo, um armário. Não poderia ser um branco, porque os brancos são uns tísicos, quero dizer, todos franzinos como tuberculosos.
Por via das dúvidas, apressou-se em explicar a questão do tísico. A isto chamavamos de botar o galho dentro. Às vezes é melhor mesmo.
Bem, ao fim e ao cabo tudo terminou em batucada, para desespero do Manuel, que gostava de ordem em seu estabelecimento. Era gente boa p'ra lá, amigão p'ra cá, e com isso reinou a paz. O negrão cantava bem, muito embora a lingua meio enrolada, tinha suingue. Às 9, como de praxe, o bar fechou.
* Carlos Augusto Lopes Filho e Irapuan Paula de Assumpção
** A cervejaria Antarctica mantinha um rótulo com a marca Portuguesa, que era bem leve.
*** As contas pendentes, de fregueses confiáveis, ficavam espetadas num prego existente na parede atrás do balcão. Daí o penduradas.
Um comentário:
Não deixem de ler o post do Carlinhos, recém-publicado no blog dele. Está em:
http://calfilho.blogspot.com.br/2015/02/manels-e-outros-mais-calfilho-mercearia.html
Postar um comentário