4 de dezembro de 2009

Viagens & comes & bebes (parte II)

Lembram da empada aberta, sem tampa, que os portugueses chamam de pastel? Pois é, fazer o que. Também chamam de Porto um vinho fortificado, porque nele é acrescentada aguardente de uva, logo após a fermentação, quando na verdade da cidade que lhe empresta o nome, ele não tem nada. As uvas são cultivadas em Vila Real e Peso da Régua. E as caves ficam na vizinha cidade de Vila Nova de Gaia. E o pior. Todas as caves pertencem aos ingleses, responsáveis que são pela invenção do tipo de vinho chamado do Porto. Como era longa e tortuosa a viagem de Portugal até a Inglaterra, os vinhos lá chegavam oxidados, estragados pelo balanço do mar e longa viagem. Resolveram, então, acrescentar ao vinho um pouco mais de álcool, no caso aguardente feita de uva, para melhor conservar o produto. Pronto, surgiu o vinho do porto. As caves, mais de trinta, localizadas ao longo do Rio Douro, mas do lado de Vila Nova de Gaia, são de propriedade dos ingleses e escoceses.

Comparável ao Porto, e degustado em idênticas condições, existe o Xeres (Jerez), este fabricado na Espanha. Agora aqui entre nós, para sobremesa nenhum se compara ao Tokaj, fabricado na Hungria. Trocaria, talvez, por um sauterne, fabricado com uvas podres na região da Borgonha, na França. Quando eu provar um, conto para vocês.

Já falei, em outra oportunidade, dos cafés parisienses. Mas não mencionei os bistrôs, as brasseries e as rostisseries. Se você não tiver medo de cachorro, tiver euros suficientes no bolso, tiver paciência e disposição para sentar num lugar apertado e ser atendido com certa má vontade, então deve apreciar os cafés e bistrôs tão famosos.

Mas eu estava em Portugal, mais precisamente na cidade do Porto, onde se come, com efeito, o melhor bacalhau tipo porto imperial do mundo, que na verdade nem de Portugal é, pois vem da Noruega. Ora pois, pois; com que então, tal qual o vinho que de lá só tem o nome, também o bacalhau porto imperial de lá não é?

Mas estão lá, sim, restaurantes como o Tripeiro e o D. Tonho, onde se come, e muito, o melhor bacalhau com broa e grelos ou, ainda, a qualquer moda. O D. Tonho fica no bairro da Ribeira, celebrizado pelas casa antigas, quase em ruínas, com fachadas diferentes e coloridas, com roupas a secar nas sacadas e varandas, tal qual ocorre em parte da cidade de Nápoles (Itália). Se fosse aqui no Brasil, diríamos que parecem a favelados. Lá o que afirmam, tanto na Ribeira quanto em Napoli, é que isto é tolerado em nome da tradição que deve ser preservada.

O nome tripeiro, dado ao restaurante acima citado, é a forma como são tratados os nascidos naquela cidade. Conta-se que na época das grandes conquistas, moradores da cidade do Porto resolveram mandar para os combatentes em plagas distantes, toda a carne de vaca e de porco de que dispunham, ficando apenas com as tripas destes animais. Daí serem chamados, desde então, carinhosamente, de tripeiros. Ora pois!

Para não parecer que ando a falar mal dos tripeiros, e de sua cidade natal, vou recomendar a quem não conhece, as lingüiças, morcelas e alheiras de lá. E de sobremesa uma lampréia de ovos, que é um doce feito a base de milhares de gemas e toneladas de açúcar. Os laboratórios fabricantes de controladores de colesterol agradecem penhorados.

Falarei, outra hora, dos doces de Viena e de Budapeste. A confeitaria Gerbeaud, em Budapeste, com suas mesinhas com tampo de mármore verde e suas garçonetes de avental com babados, tem doces de arrepiar. Ela está num prédio bacana, mas se comparado ao da Majestic, no Porto, réplica portuguesa da nossa Colombo, aí perde. Mas nos doces ganha disparado. A Gerbeaud é o que há.

3 comentários:

Riva disse...

Não percebi o D.Tonho na Ribeira. Mas vimos um em Vila Nova de Gaia (aquele que te enviamos uma foto).
Abs

Freddy disse...

Já comprei um Saternes. É de boa guarda, de modo que tomei-o alguns anos depois. Não creio que mereçam a fama, muito menos o preço.
Jerez acho meio seco demais. Já tomei o Tio Pepe e o La Ina.
Porto e Madeira eu gosto, mas depois que tive de aderir ao Glifage passei a evitar... Ainda possuo exemplares em minha adega.

Freddy disse...

Com relação a doces, que se dane o colesterol e o Glifage! Os doces portugueses baseados em ovos são divinos!