2 de dezembro de 2009

As pontes

A natureza foi pródiga com a cidade do Rio de Janeiro. Ela é deslumbrante e no quesito belezas naturais não encontra no mundo outra que com ela rivalize. Se exagero é muito pouco. Falta-lhe, porém, um detalhe. Que não lhe falta no nome, mas falta-lhe na geografia. Um rio. Porque os rios fazem necessárias as pontes.

E as pontes são o que há em matéria de lendas, histórias reais, romantismo, arquitetura e, porque não, via de acesso. Roma tem o seu Tibre, que eles chamam de Tevere. Berlim tem o Spree, sobre o qual não há nenhuma ponte mundialmente famosa, mas em cujo leito é possível fazer interessante passeio de barco. Nada comparável, todavia, ao romantismo dos Bateaux Parisiens, no Sena. A Ponte Luis I, sobre o Douro, em Portugal, tem como curiosidade o fato de ter sido projetada por um assistente de Gustave Eiffel, aquele mesmo da Torre em Paris. Esta ponte liga duas diferentes cidades, voltadas uma para outra, nas duas margens do Douro: Porto e Vila Nova de Gaia. Já a Ponte Neuf, sobre o Sena, em Paris, liga regiões da mesma cidade, mas que têm características e vocações diferentes.

Se o rio Sena tem a Ponte Neuf, o rio Arno deu origem a Ponte Vecchio, em Florença, na Itália. Esta ponte, hoje, mais do que meio de ligação de margens do rio, é centro de compras de artezanato, com seus boxes lado a lado em toda sua extensão. Novas ou velhas, entretanto, a Neuf e a Vecchio são primores de arquitetura. A Ponte Carlos, acreditem, construída em 1357, sobre o rio Vltava (pronuncia-se, mais ou menos, váltva), na cidade de Praga, tem ao longo de seus 520 metros de extensão, trinta esculturas, estátuas em tamanho natural, de artistas famosos. Uma destas estátuas, única feita em material diferente - ferro - (as demais são em pedra típica da região) representa São João Nepomuceno, aquele mesmo que dá nome a cidade em Minas Gerais, e em torno do qual há uma lenda sobre sigilo de confessionário. Consta que foi atirado ao rio depois de martirizado, por ter contrariado o rei Venceslau IV. Pode ser lenda, mas no caso da Tower Bridge, em Londres, sobre o Tâmisa, o que temos é muita história. Quantos reis, quantos nobres e eclesiastas definharam em suas masmorras.

Algumas cidades autônomas e vizinhas, agora unificadas, como Buda e Peste, uma em cada margem do Danúbio, levaram a construção de pontes famosas, como por exemplo a Ponte Elizabeth, que tem este nome como uma homenagem a conhecidíssima Imperatriz Sissi, que embora fosse austriaca, gostava muito da cidade de Budapeste, onde teria um caso amoroso com um certo duque, ou conde, do reino húngaro.

Lamento que o Rio de Janeiro não tenha um rio que a corte ao meio, e sobre o qual pudessemos construir belas pontes. Não se diga que entretanto temos o mar, pois mar e rio não são a mesma coisa. Melhor sorte tem Lisboa, que tem as duas coisas, eis que tem o Tejo e o Atlântico.

Por outro lado, melhor assim. Pior seria se tivessemos a má sorte de São Paulo, que tem dois rios – Tietê e Pinheiros – que são focos de inundaçõs frequëntes, que causam transtornos, e sobre os quais foram construídas pontes que são verdadeiros nós no trânsito da cidade, além de não possuírem atrativos de forma, cor, arte ou história.

7 comentários:

Anônimo disse...

Carrano,
Primeiro que tudo espero que essa seja mais uma experiência enriquecedora na sua vida já tão rica em experiências, como aliás bem demonstra o post sobre as pontes.
Daqui a alguns anos a ponte estaiada sobre o Rio Pinheiros em são paulo estará ocupando um lugar entre essas obras de arte. Pode ter certeza. ela é uma grande obra de engenharia e agora vai ganhar história.

abraço grande
Mário Castelar

Jorge Carrano disse...

O autor do comentário acima faleceu no ano passado.
Amigo de fé, irmão camarada, como nos versos do Roberto Carlos.
R.I.P

Jorge Carrano disse...

Notícia recente.
Leiam a matéria no endereço abaixo:
http://g1.globo.com/turismo-e-viagem/noticia/2015/06/milhares-de-cadeados-do-amor-sao-retirados-de-ponte-de-paris.html

Freddy disse...

Carrano, permita-me discordar.
Não só acho que a Baía de Guanabara, visualmente, emula a visão das margens que teríamos se fosse um rio, e não por acaso o estado e a cidade se chamam Rio de Janeiro, como é menos perigosa.

A maioria das cidades que crescem à margem de rios, grandes ou pequenos, mais cedo ou mais tarde se vêem às voltas com enchentes e inundações. Ao menos aqui no Brasil...

Portanto, temos entre Rio e Niterói um rio "fake" que, a menos de maremoto ou tsunami, jamais nos causará problemas maiores que eventual lixo acumulado.
<:o)

Jorge Carrano disse...

Pequenas cidades litorâneas sofrem com frequência as devastações provocadas por furacões, tsumanis e outras manifestações explosivas da natureza.
Pesquisando a etmologia verifiquei que “embora se afirme que o nome "Rio de Janeiro" tenha sido escolhido em virtude de os portugueses acreditarem tratar-se a baía da foz de um rio, na verdade, à época, não havia qualquer distinção de nomenclatura entre rios, sacos e baías - motivo pelo qual foi o corpo d'água corretamente designado como rio.” (Wikipédia)
Comparar as pontes citadas no post com a ponte Rio-Niterói, só é admissível para quem não conheceu nenhuma das europeias (suas histórias, lendas e tradições), não conhece a ponte Costa e Silva, sua vocação, não sabe distinguir água do mar de água fluvial, não tem romantismo, não tem gosto artístico, não tem cultura geral.
O que, registro em nome da verdade, não é o seu caso. Acato sua opinião como acatei a de meu amigo Castelar (irmão de alma), falecido no ano passado, que num arroubo mencionou a ponte estaiada sobre o Rio Pinheiros como uma das que serão lembradas por sua arte arquitetônica.
Castelar, fluminense se Rio Bonito (torcedor do Vasco), mudou para São Paulo e se apaixonou pela cidade. Isso explica.
Só para encerrar, nunca vi uma bandinha de jazz em meio a ponte Rio-Niterói, distraindo os transeuntes. Como vi, por exemplo, na ponte Carlos sobre o Moldava (Vltava) na República Tcheca, um exemplo magnífico do estilo gótico da arquitetura medieval. E muitas histórias e lendas.

Freddy disse...

Hmmm, admito que me perdi quanto ao tema central do post: pontes. Deti-me na avaliação, que sustento, de que entre Rio e Niterói não falta um rio com margens e paisagens que podem ser admiradas de um lado ou de outro. Sendo teimoso, alegro-me de que não seja um rio e sim uma baía.

Há belas pontes no mundo. Conheci algumas, sem que no entanto me gerassem êxtase quando vistas ao vivo. Que me lembre de momento:
- as de New York
- algumas no Rio Tâmisa, no centro de Londres
- algumas no Sena, em Paris
- Hercílio Luz em Florianópolis
- das Mujeres em Buenos Aires
- Ponte JK em Brasília (eleita a mais bela do mundo em 2003 pela Sociedade de Engenharia do Estado da Pennsylvania-EUA)
- as de cidades construídas sobre ilhotas não contam, pois que são cortadas por rios e braços de mar por todo canto, como Amsterdam e Veneza.

Quanto à Ponte Rio-Niterói, nenhum comentário a fazer. Disseram-me (boato) que o projeto inicial e o orçamento aprovado era de 5 pistas de cada lado, mas que superfaturamento e corrupção reduziram-na a 3, hoje em dia aumentada perigosamente para 4 bem estreitas.

Jorge Carrano disse...

As palavras são: romantismo, história, arte arquitetônica. O resto é concreto ...