8 de dezembro de 2009

Os santos - parte II

Parece implicância. Como de fato é mesmo. Mas como ignorar o tráfico de influência, o uso da máquina estatal e as transações escusas em processos de canonização de certos santos.

Ou alguém acredita que Luis IX, rei de França, seria santificado se não fossem as pressões e jogo de interesses entre os dignatários dos reinos temporal e espiritual, na época. Papa e sucessores do Luis negociaram a canonização em troca de outras vantagens para a Igreja.
A França era, então, um reino rico e poderoso. Portanto seus reis, descendentes do Capeto, tinham enorme prestígio junto ao clero. Basta lembrar que a sede do papado foi transferida para o território francês - Avignon – onde permaneceu durante muitos anos.

Processo semelhante ocorreu com Estevão, rei e fundador da nação húngara. Foi também canonizado através de vias não muito abençoadas. E era tal o prestígio deste monarca que seu filho – Américo – também virou santo. Um pouco inexperiente, eu diria, pois faleceu aos sete anos de idade. Dependendo da missão que se lhe confie, pode ser que ajude.

De qualquer forma, se você quer botar fé naquele Santo Estevão, inobstante as vias tortas que o elevaram a categoria de santo, tome cuidado para não confundi-lo com outro Estevão, também santo, mas originário da Áustria.

Ambos têm, nos seus paises de origem, os fronteiriços Hungria e Austria, magnificas basílicas que lhes são dedicadas. Na época do forte e poderoso império austro-húngaro, ambos, já então canonizados, conseguiram manter seus respectivos fervorosos seguidores, os quais se mantiveram fiéis, a um e outro, depois do esfacelamento do império que floresceu as margens do Danúbio. Enfim, Luis e Estevão, reinaram na terra e habitam o reino do céu.

Nos dias que correm, no Brasil, fomos assolados por um sentimento de culpa, descabido, em relação às pessoas da raça negra. Tão absurda quanto o preconceito, ou mais, filosoficamente, é a decisão de estabelecer reservas de cotas para negros, no ensino superior. Fico matutando se não seria o caso de estabelecermos uma cota para fiéis a São Benedito, que embora negro não goza de muito prestígio entre os de sua cor de pele. Deveriamos assegurar ao bom Benedito, cotas mínimas de devotos, que poderiam ser tirados de São José, São João e outros mais prestigiados.

Se existem santos oriundos de processos no mínimo duvidosos, para não dizer fraudulentos, outros deixaram de atingir este status porque foram pilhados em delito.

Veja o caso de Judas, um deles. Se não fosse o episódio dos trinta dinheiros, poderia ser santo. Mas aquele beijo prejudicou sua carreira. Todos os demais apóstolos se deram bem. Conseguiram santificação, igrejas com seus nomes, estampam santinhos, estão cunhados em medalhinhas, representados em estatuas, enfim, total exposição de imagem. Se fossem do meio artístico, diriam que este excesso de exposição na midia é prejudicial. Desgasta a imagem e com o tempo desvaloriza. Mas santo é santo, e quanto mais é propagado mais se firma no estrelato.

Um comentário:

Anônimo disse...

Interessante observar, a propósito de seu post, que o Papa Bento XVI só é chamado assim no Brasil. Em todos os lugares, é "Benedito". Mas como, no Brasil, o nome "Benedito" remete aos negros - vide São Benedito - o "batismo" de sua santidade foi ajustado à nossa realidade, mudando para Bento quem deveria ser Benedito.
Mas, será o Benedito?...