A opção religiosa, o mais das vezes, é fruto da ignorância. No meu caso, é justamente a ignorância que me faz não ter religião. Penso como Mário Quintana, que disse ser a religião o caminho mais longo para chegar a Deus. E tenho dúvidas quanto a este deus que tem seu nome chamado em vão, a cada instante. No outro dia, flagrados em vergonhosa cena de corrupção, em Brasília, alguns dos corruptos rezaram em agradecimento ao fato de poderem ... receber propinas. E os jogadores de futebol que entregam a deus o resultado da partida: “se deus quiser nós seremos campeões”. Por que deus ajudaria uma equipe em detrimento de outra?
Existem piadas e aforismos clássicos sobre a fé em deus. Tem a piada na qual perguntado sobre sua crença, o sujeito respondeu que era “ateu graças a Deus”. Um presidente do FED (Ben Bernanke) perpetrou uma frase que é um primor, a respeito da possibilidade de haver ateu mesmo: “não há ateu em trincheira”.
Descrente deste deus das religiões monoteístas, tenho entretanto meu santo predileto. Aquele amigo de fé, irmão camarada, como dizem o Roberto e o Erasmo. E é a ele que confio todos os meus problemas. Como se fosse ele um clínico geral.
Eu sei que tem santos especialistas. Um para cada caso. Até protetores dos endividados, como Santa Edwiges. Se o negócio é arranjar casamento, esta é uma área para Santo Antonio, se queremos que nossa viagem transcorra traqüila, pedimos ajuda a São Cristovão, e assim por diante. Se o seu problema é muito grave mesmo, você pode recorrer a uma junta de santos, ou seja, Todos os Santos, cuja data se comemora em 1º de novembro. Mas eu desaconselho, eis que a pior coisa que pode haver é delegar a um colegiado o estudo e solução de qualquer problema. Tanto isto é verdade que a melhor maneira de protelar uma decisão ou mesmo jamais adota-la, é nomear uma comissão para estudar o caso. Pronto, esta resolvida a questão. Eles nunca se reúnem; quando se reúnem, jamais se entendem, a discórdia é geral; um deixa para o outro realizar esta ou aquele tarefa, e nenhum a executava; e o tempo vai passando e o assunto esquecido. Logo, você corre o risco de pedindo a todos os santos, um deixar para o outro, por pura preguiça ou porque entenda que o outro é mais competente nesta área, e o outro pensar igual e nada fazer, ou ser muito ocupado.
Bem, tem a alternativa da dupla, que não chega a ser a tal comissão inconveniente. Você pode se dirigir a Cosme e Damião, embora tenha notícias de que eles entendem mesmo é de criança. Seriam, talvez, os pediatras no espaço cósmico. Como Santa Luzia seria uma espécie de oftalmologista.
Tem situações não muito claras. Se você perde a chave de casa, por exemplo, para acha-la não peça socorro a São Pedro, como pudesse parecer óbvio. Lembre-se de que ele é chaveiro, que cuida tão somente das chaves do céu. Ele não cuida de perdidos. Este é um assunto para São Longuinho. Aquele dos pulinhos.
Ah! Sim, voltando a São Jorge, tem a questão do nome. Não importa se você o trata por Ogum ou Jorge. É questão idiomática, apenas. Como se fosse George ou Jiří, como em tcheco. Se você tiver fé mesmo, faça a sua parte no negócio, que o resto ele resolve.
É importante ter fé, nem que seja em você mesmo.
7 de dezembro de 2009
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