Quando fui eleito presidente do Grêmio Lítero Recreativo Nilo Peçanha, para um primeiro mandato, fui procurado por duas meninas que faziam parte do grupo que editava uma revistinha interna, chamada LNP. Chamo de revistinha sem nenhuma conotação depreciativa. Apenas em face do formato. Este grupo era interessado e voltado para assuntos culturais e composto, obviamente, por alunos aplicados, principalmente alunas, com coordenação da professora de francês.
Queriam uma entrevista. Depois das perguntas de praxe em casos que tais, tipo como foi que me senti sendo eleito presidente numa disputa acirrada; quais as minhas metas de realizações, etc. veio uma pergunta que me surpreendeu. O que eu buscava na mulher como namorada? Tentei tergiversar, para ganhar tempo, mas tive que responder (covardia, eu tinha 17 anos). O que, exatamente, não me lembro (há cerca de 25 anos, mais ou menos, doei para o Liceu as diferentes edições que tinha), mas foi na linha de que ela deveria ser inteligente, elegante sem ser afetada, simpática sem ser vulgar, por aí. Hoje acrescentaria: não usar piercing nem tatuagem.
Aliás que a mulher, fisicamente, ideal, é a que está saindo do banho: pele fresca, cabelos ainda molhados, quem sabe pingando um pouquinho d’água, sem pintura, com seu perfume natural... envolta numa toalha diminuta. E com um alegre sorriso nos lábios e nos olhos.
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Nos dias que correm, a carne de frango é uma das mais baratas e todo mundo pode comprar. Mas nos anos 40 e 50 do século passado, a piada recorrente era: “quando pobre come galinha, um dos dois está doente”. A galinha era cara, proporcionalmente. Embora tenhamos tido, por algum tempo, uma pequena criação (coisa de 8 ou 9), no quintal, elas eram destinadas a postura. Só quando a galinha deixava de por os ovos diários é que ela virava canja. As raças, se não me falha a atribulada memória, eram Leghorn (brancas)* e Rhode Island Red (vermelhas)*. Os ovos eram excelentes, com gema bem avermelhada. Criadas a milho. A classe média baixa comia galinha aos domingos, com a indefectível macarronada. A massa era no formato clássico do talharim e comprada ainda fresca, ou seja, feita no próprio dia e ainda mole. O que jamais entendi é porque razão eu tinha que ir, aos domingos, ao centro da cidade, chamado de “barcas” (hoje Praça Araribóia), porque lá ficava a estação das barcas da Cantareira, que faziam a travessia Niterói-Rio, para comprar, ou na Loja Central ou na Esportiva, a tal massa fresca, se a primeira coisa que minha mãe fazia, quando eu chegava, era espalhar a massa mole num papel vegetal e coloca-la para secar. Logo, endurecer. Bem, não haviam muitas opções de talharim industrializado e embalado para venda no varejo. Havia um macarrão, cuja embalagem era de um azul bem forte e que media uns 40 centímetros de tamanho. Era ruinzinho.
A divisão da galinha obedecia a um regra: o peito era de meu pai; as coxas eram minhas; as sobre-coxas e sobre-asas (agora chamam drumet) de minhas irmãs; para minha mãe sobravam as costas e o pescoço. Pois que, ser mãe sempre foi “padecer num paraíso” e comer a pior parte da galinha.
* Hoje sei escrever e até pronunciar (acho) corretamente o nome destas duas raças. Mas na época, na flor de meus 9, 10 anos, eu falava “legorne” e “rodi”. Assim como falava centeralfe (jogador de meio-campo, armador das jogadas). Anos mais tarde, já nos anos 70, frequentador do Bob’s, me divertia quando o balconista comandava “sai um romanegue” (prato de presunto com ovos). Lembrava de meu inglês aportuguesado.
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O tempo passou e meu pai inventou uma criação de canários roller. Eles eram anilhados. Com histórico controlado numa associação de criadores. As cores eram as mais variadas. Se você se surpreendeu com minha memória em relação as raças das galinhas, citadas lá em cima, vai se surpreender mais ainda, com minha lembrança das espécies e cores dos rollers. Ágata, canela, vermelho, rosado, nevado, amarelo, branco, isabel, etc. Os ágata, por exemplo, se desdobravam em bronze, prateado, etc.
A ração, preparada em casa, incluía, para alguns exemplares, dependendo da cor da plumagem, um pouco de pigmento, para fixar a cor e deixar as penas mais brilhosas. Mas o básico, era uma pasta que continha: biscoito maizena triturado, gema de ovo e mel de milho. Outra, levava cenoura ralada e gema de ovo. O canto destas aves, de origem híbrida, é sensacional.
Meu pai inventou de criar, mas o trabalho sobrou para mim. Limpar diariamente as gaiolas, substituir os jornais que forravam o fundo, vez por outra lixar os poleiros (as fezes se acumulam), trocar a água, botar banheirinha para os banhos. Quando era época de procriação, colocar os casais em viveiros maiores, colocar os ninhos e, dentro deles, o indez. O indez é um ovinho de mentira, muito bem feito, que imitava perfeitamente o posto pelas fêmeas. Diariamente, após a canária botar o ovo, era preciso retira-lo do ninho substituindo-o pelo indez. Não vou contar aqui porque, eis que começaria uma nova história. Quando da postura do último ovo, aí então os ovos verdadeiros eram repostos no ninho , para serem chocados.
A criação acabou porque, quando se tem 14/15 anos é muito pouco charmoso este trabalho. Trabalho meu e muitos elogios para meu pai, oficialmente o criador.
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Há 50 anos, o Billy Eckstine se apresentou no Rio de Janeiro. Faltou grana para ir. E companhia, eis que meus amigos não curtiam este cantor (vozeirão) e big band leader. Antes de formar sua big band, ele tocava com Earl Hines (quem gosta de jazz sabe de quem se trata). Quem não conhece - o Billy - deve procurar ouvir “Ebb tide” , dele mesmo. Os versos finais, que estou pinçando nos meus alfarrábios são: Like the tide at its ebb/ I’m at peace in the web/ of your arms”
16 de dezembro de 2009
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