10 de maio de 2014

Liberdade de ver e ouvir



Por JORGE CARRANO
Presidente da agência digital Tau Virtual

Em recente evento no Canadá, Edward Snowden não entrou no palco. Apareceu em cena via robô, que operava de algum lugar no território russo. Sua localização é segredo, pois é procurado pelas agências de segurança dos EUA e da Europa. O que fez Snowden? Revelou segredos da NSA (National Security Agency) sobre o programa do Governo Obama para espionar pessoas, empresas e governos.
Quando perguntado por que resolveu vazar as informações para a imprensa, Snowden deu uma declaração interessante. Disse que poderia ter ido a uma comissão do Congresso, mas percebeu que, sendo um funcionário de uma agência de segurança, provavelmente "desapareceria" junto com sua história. 
Mas a Constituição americana garante liberdade de expressão da imprensa. Isso nos remete à vital necessidade de uma imprensa livre. Livre não quer dizer inconsequente ou irresponsável. Mas livre tem que significar o direito de pesquisar, investigar, entrevistar e dar voz aos cidadãos sobre qualquer assunto, por mais crítico e sensível que seja.
Transparência é uma característica imprescindível do nosso mundo conectado. Algumas empresas e raros governos já perceberam isso.
O caso Snowden, de certo modo, remete ao de Julian Assange, fundador do site Wikileaks, do grupo Anonymous ou da blogueira cubana Yoani Sánchez, igualmente importantes por revelarem coisas que governos e empresas tentam manter em sigilo.
Apesar de essas iniciativas serem repelidas pelos porta-vozes dos governos, e seus autores serem taxados de criminosos, começa a surgir um perigoso senso comum de que abrir mão do sigilo e da privacidade é um preço aceitável para se ter acesso ao novo universo de interações das redes sociais e aplicativos.
As novas gerações parecem importar-se pouco com o fornecimento de dados pessoais ou para a forma como eles são tratados pelos sites.
No entanto, abrir mão de seus direitos - neste caso, o direito à privacidade - é uma atitude muito arriscada. Como disse Snowden, "seus direitos importam muito porque você nunca sabe quando vai precisar deles".
Sob o impacto do terrorismo e da violência, as pessoas cedem às revistas, ao raio X, ao excesso de câmeras, ao monitoramento das comunicações. Isso movimenta uma poderosa indústria de serviços de segurança, equipamentos, de big data, de anúncios "sob medida" nos sites e redes sociais.
Mas a tecnologia que permite aos governos espionar as pessoas é a mesma que dá também poderes às pessoas de fiscalizar os governos. Edward Snowden não teria dado sua palestra no Canadá se não fosse pela tecnologia.
A internet tem a possibilidade de ser usada para o bem ou para o mal. Mas se queremos uma internet para o bem, em primeiro lugar, ela precisa ser livre. Sem isso, não poderá agir a favor da liberdade. O que queremos fazer com a internet, como sociedade, diz mais sobre quem somos do que aquilo que ingenuamente postamos no Facebook.



Nota do editor: publicado originalmente em 20 de Abril de 2014


  

8 comentários:

Jorge Carrano disse...

Quem acompanha o blog já sabe, mas informo a você que passou aqui ocasionalmente, que o post é de autoria de meu primogênito, este sim profissional e empresário da área de comunicação.

Helga Maria disse...

Dessa vez não teve o retratinho dele para facilitar a identificação.
Helga

Jorge Carrano disse...

Não tem porque na publicação original, no jornal Tribuna de Minas, não tem foto. E eu não quis alterar o original.
Nos outros casos em que a foto dele aparece nos artigos é porque foi publicada no veículo de origem.
Obrigado pela visita e bom final de semana.

Ana Maria disse...

A privacidade sempre foi frágil. Mesmo no tempo em que não existia internet e realitys shows, nossa intimidade era violada pelas vizinhas fofoqueiras. A internet, as câmeras de segurança e o próprio celular nos identificam a cada momento e como diz o autor da postagem, as novas gerações não parecem dar importância a isso. Pelo contrário; aumenta cada dia mais a necessidade e exposição, a vontade de ser "famosinho".
No excelente post, o Sr. Jorge Carrano expõe com propriedade que sempre existe um preço a pagar pelo avanço tecnológico.
Parabéns pelo texto, como sempre claro e elucidativo.

Ana Maria disse...

Só não digo que é meu sobrinho, porque seria acusada de emitir opinião "nepótica". Mas que ele escreve bem é inegável.

Jorge Carrano disse...

Caramba!!! Depois deste elogio o mínimo que ele tem que fazer é telefonar e agradecer. Eu mandaria flores (rsrsrs).
Bj.

Riva disse...

Tenho a impressão (ou certeza mesmo) que estaremos (eu não mais aqui) todos debatendo o mesmo problema daqui a 100 anos.

A internet, bem como qualquer outra tecnologia desenvolvida para atender ao bicho homem, acaba servindo às pessoas mal intencionadas.
E não existe verba para pesquisar o MAL, de forma proativa. Seria muito caro.
O remédio só é pesquisado e desenvolvido a partir da doença, do sintoma detectado.

Ou seja, estaremos eternamente desenvolvendo antídotos para os artifícios do MAL. Sim, eternamente, porque não houve, nem haverá, um período em que o bicho homem só pratique o BEM.

Percebam agora que, para desespero das famílias envolvidas, o desaparecimento do Boeing 777 simplesmente não faz mais parte das notícias dos principais noticiários do planeta !

Dá para aceitar que nos dias de hoje, isso possa ter acontecido, sem deixar rastros ?
Não ? Mas aconteceu, bem debaixo dos narizes dos cientistas e tecnólogos. E o desespero agora é descobrir o que houve, para desenvolver o antídoto.

É o cachorro correndo atrás do proprio rabo, em loucas rotações !

Freddy disse...

O cachorro correndo atrás do rabo sempre existiu. Chopin compôs a "Valse de le petit chien" inspirado nesse tema. A posteridade a conhece como a Valsa do Minuto.
<:o)
Freddy