13 de março de 2011

Literatura no samba-enredo II

Escrevi no post anterior sobre “Memórias de um sargento de milícias” e mencionei também “Os Sertões”,* como exemplos de sambas baseados em obras literárias reconhecidamente importantes.

A obra de Euclides da Cunha, que tem originariamente mais de 600 páginas, foi sintetizada por Edeor de Paula, compositor da escola de samba “Em Cima da Hora”, atualmente no 3º grupo, que em 24 versos, abaixo reproduzidos, relata a essência do livro sobre Canudos.

Faltou a celebrizada frase “o sertanejo é antes de tudo um forte”, ipsis litteris, mas está subentendida nos versos: “Sertanejo é forte, supera miséria sem fim, sertanejo homem forte”.

Os Sertões (1976)
Em Cima da Hora

"Marcado pela própria natureza
O Nordeste do meu Brasil
Oh! solitário sertão
De sofrimento e solidão
A terra é seca
Mal se pode cultivar
Morrem as plantas e foge o ar
A vida é triste nesse lugar
Sertanejo é forte
Supera miséria sem fim
Sertanejo homem forte (bis)
Dizia o Poeta assim
Foi no século passado
No interior da Bahia
O Homem revoltado com a sorte
do mundo em que vivia
Ocultou-se no sertão
espalhando a rebeldia
Se revoltando contra a lei
Que a sociedade oferecia
Os Jagunços lutaram
Até o final
Defendendo Canudos (bis)
Naquela guerra fatal"

Se é certo que compositores populares bebem na fonte da literatura para compor os seus sambas-enredo, é certo também que eles - poetas populares - são também manancial de muita literatura, em forma de versos em seus sambas.

Em próximas entradas, publicarei as letras daqueles que entendo são os mais belos sambas-enredos de todos os tempos, que narram lendas, folclore, costumes e tradições. Literatura de primeira qualidade, feita por pessoas de baixa escolaridade mas com viés filosófico e alma poética.



* R.R.E.S. Em Cima da Hora, de 1976, de autoria de Edeor de Paula

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