14 de março de 2011

Catastrofes e procedimentos

Tragédias com vítimas fatais não são comparáveis. A perda de vidas humanas, seja em deslizamentos de barrancos, seja em tsunamis*, seja em queda de aviões, seja em colisão de veículos na Dutra, são sempre muito lamentáveis.

Mas certamente podem-se comparar os procedimentos das autoridades públicas e da população diante das tragédias, provocadas pelas forças da natureza ou pela irresponsabilidade do homem.

Enquanto nas recentes inundações na região serrana do Rio de Janeiro tivemos notícias de saques aos estabelecimentos comerciais e até à residências já danificadas pelas enchentes, o que vimos no Japão foi uma aula de civilização.

Imagens mostraram supermercados com as prateleiras desabastecidas sim, pois não havia como repor estoques e o consumo de gêneros alimentícios aumentou, como era esperado, mas em nenhum momento vimos hordas de aproveitadores invadindo os estabelecimentos para saquear. Nem pânico na população. Percebe-se organização.

Outra coisa admirável, é o preparo da população para enfrentar situações extremas de catástrofes, fruto de constantes treinamentos. Fiquei impressionado com uma entrevista feita com um senhor, de 65 anos, que indagado sobre os problemas que estava enfrentando, respondeu que ”por mais bem informados e preparados que estejamos, estas situações são sempre difíceis de enfrentar. E não é possível lembrar de todas as recomendações das cartilhas num momento deste.”

Então o que temos. Um país localizado em área de risco de maremotos, tsumanis, terremotos de grande intensidade e outras adversidades naturais, instrui e orienta antecipadamente a população de como deve reagir. As construções, pelo menos nos grandes centros populacionais, obedecem a técnicas que permitem suportar tremores como os que ocorreram recentemente, de mais de 8 pontos na escala** que mede a intensidade dos terremotos. Sempre lembrando que 8 é quase o limite de intensidade medida.

Serviços de som e alarmes permitem um tempo de reação capaz de salvar muitas vidas.

E não precisamos ir tão longe para dar exemplos de preocupação do poder público e da sociedade, no sentido de prevenir, evitar, tanto quanto possível, os estragos, danos e, acima de tudo, a perda de vidas.

O Chile, que já sofreu com um dos maiores terremotos jamais registrados no mundo, adota medidas preventivas bem pertinentes, muito além de fazer amarração de seus postes com cabos de aço.

Lembro que no hotel onde me hospedei, em Santiago, atrás da porta do aposento, local indefectível de avisos quanto aos horários de refeições, instruções para lavar e passar roupas, etc, havia um quadro com instruções claras quanto aos procedimentos a serem adotados para casos de tremores. E a informação tranquilizadora de que o prédio foi construído com técnicas que permitem suportar grandes tremores. E seu pessoal era treinado para auxiliar na emergência.

A comparação com o nosso país é inevitável. Aqui as autoridades permitem, pela omissão, que sejam construídas casas sobre lixões, como aconteceu em Niterói.

Para não condenar apenas Niterói, é preciso dizer que nos USA de Bush, houve indesculpável falta de organização e planejamento e ações preventivas e, pior, uma inércia enorme no atendimentos das vítimas, quando do Katrina, em Nova Orleans.


*Tsunami: palavra de origem japonesa que significa, literalmente, segundo Wikipédia, onda no porto.
Um tsunami pode ser gerado quando os limites de placas tectônicas convergentes ou destrutivas movem-se abruptamente e deslocam verticalmente a água sobrejacente.

** Escala Richter: A escala de Richter, também conhecida como escala de magnitude local (ML),
atribui um número único para quantificar o nível de energia liberada por um sismo. É uma escala logarítmica de base 10, obtida calculando o logarítmo da amplitude horizontal combinada (amplitude sísmica) do maior deslocamento a partir do zero em um tipo particular de sismógrafo.
Na origem, a escala Richter estava graduada de 0 a 9, já que terremotos mais fortes pareciam impossíveis na Califórnia. Por isso fala-se atualmente em "escala aberta" de Richter. (fonte Wikipédia)

Um comentário:

RC disse...

Sem dúvida, pelo que vemos e ouvimos há tempos, o Japão é um dos poucos países civilizados (são poucos mesmo - um número bem menor do que os chamados de "primeiro mundo"). Mas mesmo lá, existe um pouco de corrupção e falhas das autoridades. Esses problemas com as usinas nucleares são uma prova. E não venham me dizer que a catástrofe não era previsível. Era.

E mais. Quando acontecer na Califórnia será uma tristeza maior. Isso por que, nas regiões de falha, os terremotos são mais fortes quando menos frequentes. É um efeito do acúmulo de energia. E não se registra lá um tremor há trezentos anos pelo menos.