28 de março de 2011

Conversa com Ana Maria Carrano

Ela herdou do pai (nosso) não só os dons mediúnicos, mas também o refinado gosto pelas empadinhas da Confeitaria Colombo. No campo da boa mesa e boa boca, ela era absoluta, até que por questões de saúde, mantendo o aspecto gourmand, teve que reprimir seu ímpeto glutony.
Eu achava, quando jovens, que deveria protegê-la das investidas dos “gaviões” e dos olhos cobiçosos. Afinal era mais velho. Mas com o tempo me dei conta de que ela sabia muito bem se defender e prescindia de meus cuidados, pela vida afora.
A mordacidade de suas críticas e a veemência com que defende suas opiniões, mascaram a grande generosidade, o espírito de solidariedade e o coração cheio de amor.
Bem, eu a conheço há mais de sessenta anos, mas o registro desta conversa se destina aos pósteros.

Pergunta: Em meus tempos de banco universitário, tive um colega, investigador de polícia, que contou sobre a dificuldade para conseguir não se envolver emocionalmente com os dramas pessoais das vítimas ou seus parentes. E contava que os pais esperavam dele atitudes mais exaltadas e violentas, por exemplo, nos casos de estupro. Você, formada em Serviço Social com muitos anos de atuação na área, acabava por se envolver com os casos dramáticos que chegavam a seu conhecimento?

Resposta: Sim. Muitas vezes me envolvi emocionalmente no exercício da profissão. Sempre considerei isso normal, humano. Na verdade, a arte é você não permitir que os sentimentos interfiram, negativamente, nas atitudes. Aliás, certo envolvimento nos traz motivação na pesquisa de recursos para atender a clientela.

P: Você lembra de um caso, em especial, no qual se sentiu impotente por não poder ajudar, em face da precariedade de recursos advindos do poder público, já que era lotada no INSS?

R: Você me pergunta se eu me lembro de algum caso especial, durante meu trabalho como Assistente Social, em que tenha me sentido impotente. Vários, posso afirmar. Mas, a imagem mais marcante que me vem à mente, é a de um médico, responsável pelo Pavilhão Infantil de um Hospital especializado em tuberculose, debruçado sobre sua mesa, chorando copiosamente por se sentir impotente para salvar a vida de uma criança. O médico em questão – Dr. Waldir Tavares – criatura que conseguiu aliar os conhecimentos científicos, a um profundo espírito humanitário, era filho de um maestro, famoso nos anos 40, chamado Napoleão Tavares. (“Napoleão Tavares e seus soldados do ritmo”, conforme me esclareceu nossa mãe.)

P: Você era uma leitora voraz e viciada, tendo até mesmo um pequeno armário no toalete, com livros recorrentes. A internet mudou seu gosto literário e a afastou dos livros?

R: A falta de dinheiro me afastou de livros. Cheguei a ter cerca de 500 volumes na estante. Por recomendação médica, visto que estava com crises de asma por mais de dois anos, fui obrigada a me descartar da maioria, Conservei uns poucos (devo ter uns 50 ou 60), a maioria poesia e romances dignos de serem relidos. Hoje em dia, não ganho o suficiente para comprar livros e não conheço nenhuma locadora deles, como havia em Niterói na década de 80.

P: Todos temos pequenas frustrações, o que você não fez e que gostaria de ter feito. Ou o que fez e gostaria não ter feito?

R: Ah! Fiz muitas coisas que reformularia, se pudesse voltar, e deixo muitos desejos a serem atendidos na próxima encarnação. O que mais cito, é a vontade de ser cozinheira, dona de restaurante, ou outra atividade ligada a alimentação pronta.

Pergunta: Voltando à literatura, que livro ou livros foram mais marcantes ou cuja leitura foi mais gratificante?

R: Tenho livros preferidos em diferentes gêneros. Alguns, nem me lembro o nome correto. Na adolescência me encantei com “Bom dia tristeza” da Sagan, li com imenso prazer Machado de Assis, com ênfase nos contos e crônicas. Mais tarde você me apresentou aos Reis Malditos, do Maurice Druon e a Tai-Pan, do Clavel. Ultimamente, graças à generosidade da família, ganho uns livros interessantes, mas nenhum que me faça “viajar”, refletir ou me divertir como antes. Acho que estou ficando velha.. Afff!!!

P: E na música? Qual a sua praia? Mencione canção ou intérprete.
R: Sou eclética em termos de música. Caiu no meu gosto, eu cantarolo, gravo e escuto no carro. Nesse quesito, tenho me atualizado mais que na literatura. Vou de ópera a sertanejo, com tranquilidade.

P: Que tal, por enquanto, o governo da Dilma?

R: Por incrível que pareça, não estou desgostando. Pergunte de novo daqui a um ano.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ana,
Te conheci na "naite", de onde estás ausente faz tempo.
Onde andas?
Beijão e muito axé!

Jorge Carrano disse...

Anônimo(a),
Envie seu endereço de mail para carrano.adv@gmail.com que encaminharei para Ana Maria.
Se o caso, ela fará contato.
Obrigado pela visita.