8 de janeiro de 2010

Viagens

Quando lancei neste blog alguns posts sobre viagens, recebi e-mail de um amigo pedindo que eu continuasse a falar do assunto que, segundo ele, desperta interesse geral. Lembrei então de um texto escrito por uma sobrinha, de nome Cláudia, através do qual ela deu para a família informações sobre a viagem que acabara de fazer, em meados de 2008. Procura d'aqui, procura d'ali,  encontrei o escrito, que publico abaixo, com a devida autorização da autora, que pediu, apenas, que fossem corrigidos eventuais erros de linguagem (inexistentes), pois escrevera sem qualquer intuito literário, e às carreiras:

"Atendendo a pedidos, sigo fazendo um breve relato de nossa viagem à Europa.
A viagem foi a realização de um sonho. Eu não queria morrer sem conhecer outros países, outras culturas, respirar outros ares.
Foram anos sonhando, meses planejando e 16 dias viajando. Valeu a pena.
Claro que abrimos mão do conserto do boiler (é assim que escreve?) e da reforma nos armários da cozinha, mas vão ter que esperar.
O Daniel¹ é um capítulo à parte. O sofrimento de deixá-lo, a saudade, a preocupação com seu bem-estar eu conto outra hora. Faz parte.
Finalmente chegamos a Roma. Cansados por muitas horas de vôo, mas muito excitados com a expectativa de finalmente estar lá.
Nossa primeira visita foi, no mesmo dia, à Fontana di Trevi. Nunca vou esquecer...Fiquei maravilhada. Eram umas seis horas da tarde e, como escurece muito tarde no verão, ficamos passeando pela “Roma Barroca” até às nove horas da noite. Uma das mais belas vistas de Roma.
Com essa última frase quero ressaltar que estas são minhas opiniões muito pessoais. Se eu tivesse começado por outro país talvez minha opinião fosse outra. Nada do que digo também foi retirado de nenhum guia turístico. Conto apenas o que senti, mas não espero que sirva de parâmetro para nada nem ninguém.
No dia seguinte fizemos um city tour e passamos o resto do dia no Vaticano. É bonito. Tem muitas riquezas. Ponto. Você não se sente numa igreja, não rola nenhuma energia diferente, os seguranças são muito grosseiros. E vocês podem ter certeza de que a energia existe. Notre-Dame passa uma energia bem forte. Até o Louvre tem mais energia que a Basílica de São Pedro.
Enfim, posso colocar no meu currículo que estive lá, mas não pretendo voltar.
Em todos os países a excursão nos levou a um bairro típico, boêmio, para que conhecêssemos as pessoas da cidade e não só os turistas.
O Trastevere é um bairro romano muito animado. Jantamos num restaurante italiano legítimo, com aquela gritaria italiana que nós vemos nos filmes.
Uma coisa que fiz questão nessa viagem foi experimentar os pratos típicos de cada país/cidade que fomos. Em Roma comi muito macarrão com molho ao sugo (maravilhoso!!!!), pizza a taglio (que é a peso), doces folhados, sorvete, pão (que é duro feito uma pedra).
Ficamos mais um dia inteiro conhecendo cada pontinho de Roma. Várias piazzas (praças), o Coliseu, o Pantheon, Foro Romano. Não desejo isto a ninguém. Corri atrás do David² feito louca. À noite, câimbras nas batatas-das-pernas. O homem ficou possuído, querendo fotografar tudo. Eu já jurei que não quero ver uma foto.
No dia seguinte o que sobrou de mim foi para Pisa.
Quando digo: foi para Pisa, significa: chega no hotel, faz mala, fecha mala, acorda cedo, faz check-out, carrega mala, toma café às pressas e sai. Desculpe a expressão, mas cagar nem pensar, e vai ficando aquela idéia fixa...
Pisa é legal. Quem fez o projeto? Rá, rá, rá. Será que cai? Rá, rá, rá. Igreja, cemitério e volta pro ônibus.
Pisa é tomada por senegaleses. O David parece levemente bronzeado perto deles. Vendem de tudo, quinquilharias em geral. O David comprou um chapéu. Ah! O chapéu... Não cabia em lugar nenhum... É enorme, usado na colheita. E o David que não colhe nada gostou do chapéu. Eu, apaixonada, falei: leva amor, eu ajudo. Vim com esta porra no colo de Pisa ao Brasil, cerca de 14 dias apenas.
No dia seguinte passamos pelos Alpes, uma coisa linda. As neves eternas nos picos, e conhecemos o famoso Mont Blanc. Paramos em uma cidade linda, a nossa primeira na França, chamada Chamonix. Realmente a cidade é um charme.
Tinha um rapaz cantando na rua que marcou nossa chegada à França. Além de cantar lindamente (e em francês) ele sorria, como se estivesse muito feliz de estar ali cantando. Realmente lindo.
As vitrines das confeitarias eram indescritíveis. Dignas de fotos (claro que o David fotografou).
E nessa mesma noite chagamos a Paris. Paris. Eu estava em Paris! Chegamos às nove e meia da noite. Às onze estávamos na Torre Eiffel, que fica aberta até meia-noite. É realmente linda, emocionante. Não sei se é realmente linda, mas o desejo que estar ali era tão grande que a deixou encantadora.
Às duas e meia da manhã, depois de uma aventura para jantarmos e pegarmos um táxi (esta aventura vale à pena ser contada, mas requer uma ligação telefônica), voltamos ao hotel.
No dia seguinte, já tarde, às oito da manhã, saímos para conhecer o Versalhes. Na minha modesta opinião o mais belo Palácio que conhecemos. Seus jardins são um sonho.
À tarde city tour por Paris. Foi quando pude comprovar que a Torre Eiffel é muito mais bonita à noite.
Pensaram que acabou??? Não. À noite fomos ao tal bairro boêmio, que em Paris é o Montmartre. Confesso que não gostei muito. Um monte de loja de turco, de árabe, parecia a Rua da Alfândega. Meio sinistro. Passamos por uma experiência em um supermercado também digna de uma conversa posterior.
No dia seguinte passamos a manhã no Louvre. Fomos dos primeiros a entrar. A gente anda até não ter mais forças, mas não quer perder tempo e conseguir olhar toda aquela beleza. É um show. Indescritível. A Gioconda é insossa, coitada, mas eu fui lá, entrei na fila, e olhei bem no fundo dos olhos dela. Posso falar o que eu quiser agora.
Pensaram que acabou? Não. Passeamos pelas “praias” do Sena, fomos à Notre-Dame, etc, etc, etc.
Em seguida saímos em direção à Inglaterra. Atravessamos o Canal da Mancha de ferry-boat e chegamos à Canterbury, uma linda cidade medieval.
Aqui faço uma pausa. Sai da França para a Inglaterra. Muda a moeda, o idioma (graças à Deus), as pessoas (sem comentários) e, pela primeira vez em oito dias, as pessoas nos olhavam, sorriam e diziam: bom-dia! Eu sabia que o David estava tentando, mas será que ele havia conseguido me matar? Estava eu no paraíso?
Os ingleses foram um oásis. Que falta eu sentia de gente educada! Fiquei pensando que talvez sejam assim para compensar o valor da libra. Enfim, um mundo novo se abria para nós.
Fizemos o de sempre: city tour, assistimos a troca da guarda, passeamos pela City, avistamos o Tâmisa, Big Ben, coisa e tal.
O prato típico de Londres varia de peixe frito com batata frita a frango frito com batata frita. Ninguém come arroz, é uma coisa impressionante.
Embora achemos que o idioma falado é o inglês, na verdade eles falam alemão. Você estuda seis, sete anos de inglês e no final não entende nada do que eles falam. Só pode ser um dialeto. Você gasta o seu bonito conhecimento do inglês com os italianos e os senegaleses. Os franceses te cospem e dizem que não te entendem. Os espanhóis só te ignoram.
Fomos ao Castelo de Windsor. Aquela rainha é uma bichinha falsa. Disse que é o Castelo do qual ela mais gosta, mas estava passando as férias na Irlanda, que ela não é boba. Eles vendem como o único Castelo habitado aberto à visitação na Europa. Ela separou umas peças, até bonitas, que ela não tinha onde botar, colocou numa pequena ala do castelo, e os bestas vão lá conhecer. O que eu andei de trem pra chegar nesse raio deste Castelo...
À noite fomos ao Soho, um bairro muito movimentado. Foi legal. Meio corrido pra dar tempo de jantar.
No dia seguinte fomos ao Museu de Cera. Acho que foi a entrada mais cara que pagamos, mas que Louvre, que Versalhes, que Torre Eiffel, que Coliseo. 25 pounds. E ficamos ali, tietando geral. As estátuas são perfeitas, é um show. Fotos e mais fotos.
Ficamos pouco tempo em Londres e gostamos bastante. Partimos para Oxford e foi bom sentir o clima da cidade tipicamente universitária. Sabe quem era professor lá? O autor da Alice no País das Maravilhas. Conheci o bosque onde a Alice dormiu, aquela tonta.
Também lá foi filmado parte do Harry Potter. Tem bem o clima do Harry Potter.
Voltamos para a França de navio. Dormimos em uma cabine ínfima. Uma experiência única. Única mesmo. Never more. O David tomou um vinho e achou ótimo, mas quem foi para cima no beliche fui eu.
Chegamos à Mont Saint Michel. Mágico. Uma ilha cercada de muralhas medievais, com a igreja de Saint Michel bem, bem, bem no alto. Muito misticismo e a mesma grosseria francesa de sempre.
O David garante que comeu o sonho mais gostoso da vida dele, e pelo valor simbólico de 3 euros.
Nessa noite chegamos a Bordeaux, terra do tal vinho. Confesso que já não me agüentava mais. Tinha chegado ao meu limite. Ainda assim saímos para jantar, passeamos pelo centro da cidade e jantamos numa cantina agradável com uma comida deliciosa.
Uma de nossas companheiras de viagem teve a mala extraviada e ficamos todos muito chateados.
Pegamos um trânsito muito intenso e só chegamos a Madri bem mais tarde do que o previsto no dia seguinte.
Na porta do hotel, quando desembarcávamos do ônibus após 10 horas de viagem, uma turista do mesmo hotel teve sua bolsa roubada. Outro balde de água fria.
Tudo que eu falar de Madri deve levar em conta que eu estava exausta. Já não achava mais nada bonito. A catedral deles é a quarta maior da Europa. Mas se eu já tinha visto as duas primeiras, pra que ver a quarta?
Fomos a Praça Maior, ao Portal do Sol, Estátua de Cibeles, etc.
Comemos a paella e o David tomou a sangria. Na verdade várias sangrias. Queria guardar esta lembrança, eu acho.
No último dia da excursão fomos a Toledo. O dia escolhido não foi muito acertado. As igrejas estavam fechadas, pois teriam missas; os museus não funcionavam e o calor era infernal. Tudo isto temperado com ladeiras intermináveis, com o confortável piso de pedra de rio, bem lisinha e irregular, com aquelas muralhas de pedra a sua volta.
Entrei pela primeira vez em uma mesquita.
Voltamos a Madri e ainda passeamos pelo centro.
Eu me recusei a ir e voltei para o hotel, mas o David descobriu que tinha uma tourada na Praça dos Touros. A meia-noite chegou ele de volta, entre excitado e enjoado. Assistiu ao touricídio de seis inocentes touros. Me recusei a ouvir os detalhes sórdidos. E são sórdidos mesmo.
Na Espanha é programa de família: vão os filhos, os pais, os avós; lancham assistindo ao espetáculo, gritam e parabenizam o toureiro por suas façanhas. Muito estranho.
E acabou. Mais doze torturantes horas de vôo e chegamos de volta ao Brasil. Que saudade!
Na minha plena ignorância histórica, o meu gostar ou desgostar de baseia na emoção, na energia que rola.
Acho que meu maior aprendizado foi a valorização do meu país.
Confesso que eu esperava encontrar o primeiro mundo, uma civilização até então desconhecida por mim; com pessoas desenvolvidas em sua plenitude. A evolução perfeita do seu humano que nós do terceiro mundo só ousamos sonhar.
Encontremos inovação tecnológica? Sim, mas menos do que eu esperava. Além do mais eu já não dou mais conta de acompanhar tanto desenvolvimento tecnológico assim.
O auto-serviço funciona muito bem? As pessoas são mais honestas. Sim. Isso é legal, honestidade sempre é bom. Melhora até nossa auto-estima.
Mas de resto, viva o Brasil!!!!
Tem coisa mais democrática que um self-service? Que você escolhe o que gosta e só paga pela quantidade que vai comer?
Roma é imunda, as lixeiras sempre abertas, moscas. Os garçons são porcos.
Os franceses são o fim da picada. Pedantes, insuportáveis. Fazem questão de não te ajudar e fingir que não te entendem. Debocham de você na sua cara. Dá raiva.
Os espanhóis são muito grosseiros. Te atendem mal, estão sempre de mau-humor, uma coisa horrível.
De que adianta tanta beleza com um povinho desses?
Na chegada ficamos analisando para ver como éramos tratados pelos brasileiros. Que povo simpático o carioca! Que calor humano. Uma farta distribuição de boas-noites, sorrisos vindos do nada, os taxistas nos ajudando a achar o lugar certo do desembarque. E melhor: em português. “Aí mermão, é melhó você subi porque aqui sua coroa num vai consegui pará. Os guarda dão em cima geral!” Isso é que é idioma.
Agora sério. Foi muito bom ter ido. E foi muito bom voltar. Assim é perfeito.
Um grande beijo.

Notas do blogueiro:
1) Daniel é filho da Claudia, autora do texto, que é minha sobrinha. Perde um amigo mas não perde uma piada. Coitados dos "gringos"
2) David é o marido da Claudia, pai do Daniel, também ele muito bem-humorado.

3 comentários:

Riva disse...

Cláudia,

Não me lembrava desse post, acho que na verdade não o tinha lido. Muito legal, espontâneo, detalhado.

Olha, não sei por onde vc andou de 2010 até hoje, mas pegando seu resumo sobre franceses, italianos, espanhóis, inglêses, brasileiros, posso te afirmar que o paraíso existe, e se chama CALIFORNIA.

Em todos os sentidos !

Valeu !

Jorge Carrano disse...

Caro Riva,
Por coincidência um de seus primeiros posts (senão o primeiro) aqui publicados foi a reprodução de um e-mail. Lembra?
http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2009/12/um-domingo-spicy-e-sem-brasileirao.html

Riva disse...

Lembro ! Foi um domingo engraçado ..... rsrsrs