26 de fevereiro de 2016

Ah!, esses portugueses ...

Viseu - Portugal
Vou logo avisando: tenho sangue lusitano nas veias e me orgulho disto. Fui criado, basicamente, no seio de famílias portuguesas, pois minha avó e minhas tias mais velhas (ramo materno) nasceram em Viseu, ou Lamego, preciso conferir, mas de qualquer sorte na mesma região  do país, que é “um jardim da Europa à beira-mar plantado”.

Para saber mais sobre a expressão, se for do tipo que nem eu, disponível para aprender, acesse  e leia em que contexto foi usada pela vez primeira:

Mas não posso deixar de admitir que os patrícios são, mesmo, muito literais. E que esta literalidade, por vezes, é confundida com falta de inteligência e dá origem a piadas.

Em 1991 meus filhos iriam empreender suas primeiras viagens ao velho continente. Sozinhos. O planejamento da viagem já foi uma curtição. Países, roteiro, meios de transporte, hotéis, e o mais importante: baratear até o limite de um mínimo de conforto para dois jovens solteiros de, respectivamente, 25 e 21 anos de idade.

Uma boa ideia, nem lembro se posta em prática, mas acho que sim, foi programar viagens noturnas, entre algumas cidades. Com isso economizariam uma diária de hotel, dormindo no próprio trem. Coisas deste gênero.

A partir da estação de Marselha é possível alcançar várias cidades europeias.

Estação de Marselha
Lembro que lhes comprei uma mochila que de tão grande, com muitas bolsas e divisórias, iriam precisar contratar um caminhão para carrega-la. Claro, rimos muito e a ideia foi abandonada. Pelo menos a tal mochila (bonita e resistente), foi deixada de lado.

Fizeram o roteiro e partiram com destino a Portugal. Depois Espanha, França, Itália, Austria e nem sei mais onde foram. O que lembro bem é que na Áustria foram para Innsbruck, no Tirol, numa viagem não planejada, a convite de um casal de americanos idosos, texanos, que estavam indo visitar uma filha lá naquela cidade turística, que tem várias estações de esqui.

Innsbruck - Tirol - Áustria
A aproximação com este casal de anciões deu-se no trem, na Itália, porque o serviço de alto-falantes anunciava algumas coisas e eles ficavam atônitos com o idioma. Os meninos se dispuseram a fazer a versão para o inglês (dominavam bem o idioma). Corresponderam-se durante alguns anos: eles no Texas e os meninos aqui em Niterói.

Fui homenageado com um comentário do Harry (assim se chamava o velhinho) ao dizer para meus filhos que os seus pais deveriam ser pessoas especiais por educarem tão bem seus garotos. Proudly, reproduzo o comentário que na época me foi relatado.

Mas e os portugueses e sua cultura cartesiana, de interpretar tudo literalmente?  Pois é, não esqueci. Mas antes quero relatar uma outra curiosidade bem lusitana e que ensejou este post. Na fase de planejamento, consultando o Frommer’s guide, meus filhos encontraram um hotel simples, em Lisboa, no qual a recepção ficava, juro, no terceiro andar. Quem por alguma razão ainda tiver o Frommer’s antigo poderá constatar.

No capítulo da interpretação literal, fico com o exemplo do acontecido em um restaurante. Na cidade do Porto. Na dúvida quanto ao que pedir, enquanto consultava o menu, o sujeito viu passar nas mãos de outro garçom um belo prato de bacalhau destinado à mesa ao lado.

Imediatamente dirigiu-se ao seu garçom e comandou: “olha, quero aquele prato ali.” E o garçom responde de pronto: “lamento mas aquele  não pode ser pois já foi pedido pelo cavalheiro ali adiante.”

Este outro episódio é verídico e foi testemunhado por mim. Seguinte. Íamos para Cascais, Estoril aquelas bandas. A van veio no pegar no hotel (eu, Wanda e mais um casal do Rio Grande do Sul), pois contratamos o passeio na conciergerie.

Cascais - Portugal
Na dúvida, se poderia ou não entrar numa rua na lateral do hotel, o motorista perguntou ao homem sentado no degrau de entrada de uma casa antiga: esta rua tem saída? A resposta foi: pois sim. Só que entramos e o motorista teve que fazer uma manobra complicada para sairmos pois a rua era sem saída.

Vejam o diálogo que se seguiu quando, no retorno, voltamos a cruzar com o tal informante:
- Disseste-me que a rua tinha saída e não tem, ó pá!
- Mas não estás a sair?

Baixadas as cortinas depois desta  história que mais parece uma piada, aproveito o embalo para contar outros casos, estes sim, piadas mesmo.

Manuel chega em casa estafado, mas feliz porque economizara dois mil reis (a piada é antiga). Pergunta-lhe a Maria, como o fizeste? E ele: ora pois,  ao invés de subir ao ônibus vim-lhe correndo atrás. Maria, indignada e em tom de censura: pois fizeste mal, se viesses atrás de um táxi economizarias mais, pois!

E para encerrar, também piada (espero) sobre fósforos. Os fósforos não eram muito conhecidos em Portugal. Manuel resolveu comprar cinco caixas e leva-las na viagem que fazia ao seu país acompanhado do amigo Joaquim.

Diz o Manuel: comprei estas caixas de fósforos e estou a leva-las para surpreender aos filhos e sobrinhos.

Joaquim, sério e apreensivo: mas tens certeza que acenderão? Olha que os brasileiros gostam de tentar nos tapear. Manuel tranquiliza o amigo: fica sossegado, já os risquei, um a um, e todos acenderam.

Perdão! Mil perdões, amigos nascidos além-mar.

Momentos da viagem de meus herdeiros. Pelo menos nos quesitos inteligência, charme  e elegância.


Jorge, em Paris, às margens do Sena.


Ricardo,  em Lisboa, no castelo de São Jorge.


Os dois,  em Firenze, Itália.

5 comentários:

Jorge Carrano disse...

Dizem que as piadas mais engraçadas são as mais curtas. Mas conheço uma, muito boa, envolvendo dois portuguese, que é um pouco mais longa, e é bem sutil, bem criativa e nada ofensiva. Seguinte:
Nanuel e Joaquim saíram a caçar no pouco que restou de mata em Portugal. Entraram numa trilha, cada qual com sua espingarda e mochila de mantimentos e apetrechos. A horas tantas chegaram a uma choupana, deixaram suas coisas e levando as espingardas puseram-se a caçar passarinhos.
Avistado o primeiro Manuel atira, erra o alvo e assusta o pássaro que voa até uma outra árvore próxima. Manuel não desiste e vai atrás. Aproxima-se o máximo possível e mais uma vez atira e erra. E de novo assustando o pássaro. A ave faz um voo maior e vai pousar uns vinte metros adiante. E a rotina é a mesma. Ele atira, erra e o passarinho alça voo. Manuel afasta-se tanto da choupana que, já ao anoitecer, Joaquim se recolhe. Dá as nove da noite e nada do Manuel aparecer. Joaquim preocupado com o amigo vai até a porta e avista Manuel chegando, estafado, arrastando a espingarda.
Joaquim pergunta: então pegaste-o? E Manuel responde: não, mas expulsei-o do país.

KKKKKKKKK É muito bem bolada.

Jorge Carrano disse...

Duas piadas das rápidas:

Do meu repertório.
- Manuel és contra ou a favor do sexo antes do casamento?
- Desde que não atrase a cerimônia tudo.

Enviada pelo Paulo Bouhid.
- Ô Manel, vc gosta de mulher com muito seio?
- Não... pra mim dois já tá bom.

Estas duas piadas são bem representativas do que mencionei no post. Eles são muito literais mesmo.

Jorge Carrano disse...

Outra longa, mas boa.

A CIA estava fazendo uma seleção de agentes secretos e só havia uma vaga. Os candidatos eram: um alemão, um inglês e um português.

Dia do teste. Primeiro candidato: o alemão. É dito a ele que numa pequena sala ao lado, estava a sua mulher. Deram-lhe uma arma e ordenaram: entre lá e mate-a. O alemão imediatamente se negou a fazê-lo... dispensado.

Segundo candidato: o inglês. Mesma rotina. O inglês pensa... pensa... pensa... mas desiste.

Último candidato: o português. Mesma coisa. O português rapidamente pega a arma e entra na sala. São ouvidos dois tiros e uma enorme barulheira de coisas se quebrando. Dois minutos depois, sai o português: "Por que não me avisaram que eram balas de festim? Tive que matá-la a cadeiradas!!!!"

Riva disse...

Os portugueses também tem lá suas piadas sobre brasileiros, a recíproca é verdadeira. Agora então, têm muito o que falar, em tom de piada ou seriamente.

Em futebol, não lembro de Portugal ter passado tamanha humilhação como o 7x1 que tomamos numa Copa do Mundo dentro de casa.

Em corrupção, claro lá também tem. Mas NADA no planeta Terra se compara ao que estamos vivenciando no momento.

Seu pequeno país tem um Turismo muito organizado, um índice de limpeza pública de dar inveja, e uma gastronomia "unique".

Como um problema vejo a questão da produção interna. Como foram colonizadores ao extremo, hoje são obrigados a importar muitos produtos.

Se eu tivesse hoje uma boa previdência privada, sem dúvida investiria numa propriedade simples e bem localizada, e me mandava pra lá.






Jorge Carrano disse...

Inclusive o bacalhau.