Quase tudo que escrevo neste blog, a bem da verdade, é para me
exibir, com algum pudor e as vezes com sentimento de culpa.
Sei que uma ou outra palavra que emprego, "no correr da pena" como quando os textos eram manuscritos, por não serem usuais levam o leitor mais
interessado ao Aurélio ou Houaiss. A menos que o leitor seja o Romário, não o
ex-jogador e ora senador, mas sim o “homem dicionário” que se apresentava no programa do Cesar de Alencar, era morador de Niterói, e parecia conhecer todo o dicionário, respondendo aos desafios do auditório e da produção, dizendo o significado de palavras por eles escolhidas. Os mais antigos
conheceram.
Poderia, falo de mim, talvez, substituir a tal palavra inusual por outra mais
comum, usada nas conversas coloquiais, mas aí qual a graça? Como vou mostrar
que tenho um vocabulário rico?
Não estou me comparando, mas quando o Saramago empregou
esgargalado em seu livro “O homem duplicado”, não estava se exibindo (ele não
precisava); já o Chico Buarque (em "Budapeste") talvez tenha usado o glabro de caso pensado,
para demonstrar que herdou alguma coisa do tio/dicionário.
O mesmo (exibicionismo) ocorre quando falo de minhas viagens.
A intenção não é dar dicas, boas sugestões? Não! Confesso que o intuito é aparentar
ser um homem viajado, que conheceu outras culturas. Embora monoglota.
Wanda no Vale do Loire, eu fotografando. |
E quanto às leituras? Não é diferente. Se comento, mesmo de
passagem, um ou outro livro, é porque pretendo induzir o paciente leitor a
pensar que sou um homem amigo das letras, chegado à literatura.
Leio menos do que escrevo, o que é um erro sem perdão. Já
Borges (Jorge Luiz) se jactava não do que escrevera (e sua obra é vastíssima,
em prosa e verso), mas sim do que havia lido. Por isso ele é reverenciado.
Borges |
São parcos os meus feitos profissionais e pessoais, mas procuro
sempre dar-lhes - quando os comento - cores vivas e brilhantes. Para valoriza-los
acima e além do devido, do justo, do razoável.
Fiz carreira meteórica e convivi com o sucesso, ou pelo menos
foi assim que me vendi nos curricula.
Não sou vaidoso por falta absoluta de dinheiro. Se tivesse recursos
financeiros eu seria um poço de vaidade, afetado, presunçoso, pedante, e outros
adjetivos menos nobres.
Peladas |
Num aspecto sou como a maioria. Nunca sou responsável por meus
fracassos. Sempre os atribuo aos outros. Nunca perdi uma briga, nem aquelas de
meninos em peladas de futebol. Sempre fui eu que dei a porrada (e ficou por isso mesmo), que xinguei a mãe do oponente e
cantei de galo.
No trânsito sempre me impus, descendo do carro e dizendo
cobras e lagartos para os motoristas “barbeiros”. Outra bravata mentirosa, e comum entre os homens, comigo incluso.
Coleciono elogios com carinho; às críticas, geralmente injustas
ou muito severas, dou valor relativo e sempre as atribuo à ignorância ou
insensatez de quem as faz.
Sou quase normal: exibido! Embora tentando demonstrar
modéstia, que é uma das atitudes mais falsas.
Cuidado com as críticas que possam fazer a este post, porque
reitero que geralmente são injustas e fruto da ignorância de quem as faz.
10 comentários:
Taí um poço de verdades!
Não dá pra contestar!
<:o)
Para amenizar, é a realidade da maioria dos blogueiros ou dos colaboradores e comentaristas de blog.
<:O)
Também... experimenta baixar a crista, oferecer um lado mais fraco, comentar um fracasso... Caem logo de porrete em você! Sem pena!
=8-)
Uma boa dose de humildade faz muito bem. Não tem contraindicação. Simplicidade e humildade, na medida certa, valorizam o homem (ser humano).
1) Conheci pessoalmente o "homem dicionário" que visitava com regularidade sua filha Jocelina, moradora do mesmo prédio que minha família. Jorge deve lembrar deles. Por conta dessa proximidade sou madrinha de uma de suas netas (do Romario), o que me enche de orgulho, visto ser a Patrícia uma pessoa da melhor qualidade.
2) Tenho pavio curto no trânsito, mas os xingamentos são feitos sempre na segurança de meu carro, com os vidros bem fechados.
3) Creio que todos gostamos de nos exibir, muitas das vezes de forma inconsciente. Estou aqui pensando se a consciência exibicionismo seria agravante ou atenuante.
4) Independente de minha conclusão, fato do indivíduo assumir esse pecado capital, já lhe concede alguma indulgência.
Em tempo. O post de hoje me remeteu ao "Poema em linha reta" de Alvaro de Campos - um dos heterônios de Fernando Pessoa.
Vocês conhecem?
POEMA EM LINHA RETA
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Fernando Pessoa PESSOA, Poesias de Álvaro de Campos
Depois deste poema, resta-me, se tiver um mínimo de vergonha, deletar o post.
Aguardem! Se não for eliminado é porque perdi, também, a vergonha.
Isso é catarse, alfinetada em alguém, delírio, noite mal dormida?
(SP)
Um pouco de cada, Anônimo. Imaginando que você está se referindo ao post como um todo. Minto e já me corrijo, dormi bem esta noite.
Também fiquei meio assim, assim, sem entender, mas depois da colocação do Anônimo, acho que foi alfinetada mesmo. E bem profunda ...rsrsrs
PS: é muito, mas muito bom mesmo se gostar. Eu me amo.
Gostei muito do post e do poema, um complementa o outro.
Todavia, o comentário de Riva me acendeu um alerta.
As pessoas que se amam se dividem em classes. Uma delas é a dos egoístas. Alguns exemplos que cruzaram minha vida me mostraram que, ao se priorizarem, o fizeram magoando profundamente alguém (não apenas a mim) em diversas ocasiões.
O balanceamento entre se amar e não magoar outrem é difícil e as pessoas que o conseguem são realmente especiais. Isso porque as pessoas que amam demais o próximo passam por inúmeras situações em que têm de se limitar, abdicar de si mesmo. E isso aquele que se ama acima de tudo raramente faz.
Minha leitura desse tema, abandonado até então principalmente pelas mulheres (exceto Ana) que aqui frequentam, e têm ( e não teem) a fama de muito mais sensíveis do que nós, machos, é que ..... é impossível fazermos por alguém algo que não fizemos por nós mesmos. Cheira a hipocrisia.
Para quem já praticou mesmo (não vou me aprofundar nisso ... por enquanto), simplesmente é impossível fazer algo legal por alguém, se vc não estiver legal consigo mesmo.
#simplesassim
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