19 de janeiro de 2013

Médico e monstro

Ao contrário do que ocorre na obra clássica de Stevenson - "O Médico e o Monstro" - tivemos aqui um caso  de médico-monstro. Uma só personalidade, um ser lúcido e consciente que assumia os riscos de suas atitudes.

Exagero? Se você fosse o pai da menina, vítima da omissão de socorro, acharia que ele é um ser insensível, desumano, sem escrúpulo e irracional. E arranjaria mais adjetivos, aplicáveis ou não, e soltaria muitas outras imprecações.


Lógico que os médicos têm direito a vida social, ao convívio com a família. Tanto quanto  eu e você gostam de passar o Natal e o Réveillon cercado de parentes e amigos em ambientes alegres.

Mas nem eu e nem você fizemos concurso para ingresso em cargo público. O serviço público, seja de que natureza for, como o nome indica existe para atender a sociedade que, via impostos, paga pelos serviços.

Se o serviço público em questão está ligado a saúde, e se a falta de atendimento em tempo oportuno como aconteceu no caso da menina baleada que veio a falecer porque ficou com uma bala alojada na cabeça durante mais de oito horas, a espera de atendimento, não tem desculpa possível e mesmo uma pena privativa de liberdade é pouco, se esta vier a ocorrer porque o safado do médico tem dinheiro pra pagar bom advogado.

Aliás dinheiro que ganhava sem trabalhar, segundo apurado pelas folhas de ponto.

O canalha quis ser servidor público, fez concurso,  e  por ter nível superior devia ter consciência de que estaria sujeito a regras e horários. 

O cara-de-pau arranjou uma desculpa esfarrapada de que não aceitava os plantões nos moldes decididos no hospital, porque violava norma do Conselho de Medicina. Ora, ele se arvorava a corrigir o erro, faltando aos plantões. Fazia justiça por conta própria, ao seu modo. Rebeldezinho, não!?

Mas o sem-vergonha recebia sua remuneração sem trabalhar. Que escrúpulo é este?

Já expliquei “ene” vezes que jamais fiz concurso para a magistratura porque não tenho  os dotes necessários para ser um bom juiz. E a razão principal é muito simples: eu tomo partido, em tudo. Não teria a isenção necessária para julgar um cretino como este neurocirurgião segundo as provas dos autos, porque estas muitas vezes são falhas, quando não manipuladas.

Para mim, ele já estaria condenado. Não somente  à cadeia por algum período, mas à prestação de serviços comunitários, voltados aos carentes, até o fim de suas atividades profissionais. Inclusive em todos os Natais e Réveillons.
  
Canalha está bom ou temos um adjetivo melhor?

5 comentários:

Anônimo disse...

Este negócio de pagar para outro tirar plantão é prática comum.
Todo mundo alí, o chefe imediato, o diretor do hospital, todos, são responsáveis.

Jorge Carrano disse...

Anônimo ou anônima (utilizada a opção de envio, nunca se sabe):
Sei que é prática comum este mecanismo de troca de plantões. Confesso que eu mesmo, prestando serviço militar, nas minhas escalas de serviço na 2ª CR, algumas vezes paguei a colega para fazer meus plantões (chamava-se Lubanco). Principalmente se caia em final de semana.
Só que eu telefonava para a Circunscrição para checar se ele estava lá, de serviço, porque se houvesse alguma alteração a responsabilidade seria minha. Se ele tivesse faltado ao compromisso certamente eu iria cumprir meu plantão de serviço.
No caso deste canalha ele não se preocupou com o fato do médico que o substituía regularmente (remunerado), havia desistido destes plantões.
O diretor do hospital, certamente, também tem culpa. No mínimo por omissão.
Mas perdeu-se uma vida. E de uma jovem duplamente vítima: da bala perdida e da omissão de socorro no hospital.

Helga Maria disse...

A palavra melhor seria IRRESPONSÁVEL.
Helga

Riv4 disse...

A banalidade de uma vida ...... só choca quando é de parente ou amigo próximo. Se não for, entra para a Série Ah Tá ......

A Colombia estava assim há 15 anos ....

Freddy disse...

Eu, em minha modesta carreira profissional, fui responsável por 2 equipes de plantão de equipamentos da Rede Nacional de Telex, que na época era um dos mais importantes serviços de comunicação do país.

Volta e meia havia problema de cobertura de plantões noturnos e eles SEMPRE ligavam pra mim quando algum dos técnicos não podia comparecer para render o plantonista anterior. Com telefonemas e boa vontade, sempre conseguíamos uma pessoa para assumir o horário.

Nunca aconteceu, portanto, das centrais ficarem desatendidas. NEM EM GREVE, quando eu negociava com o sindicato a entrada apenas dos plantonistas, dando ao restante do quadro a liberdade de aderir ou não ao movimento. E era equipamento, não mexia com gente diretamente.

Por essa minha experiência pessoal, portanto, aquilato o nível de IRRESPONSABILIDADE e descaso da CHEFIA dessas turmas de plantões médicos...

>:o( Freddy