3 de abril de 2012

O EXEMPLO DOS DEMÓSTENES








Por Ricardo Augusto dos Anjos


Após ter vencido a gaguez e se tornado o maior orador da Grécia, alguns anos mais tarde de uma vida atribulada, participando de guerras e opondo-se retoricamente a Felipe II e Alexandre, na defesa de Atenas, Demóstenes vê decair tanto sua reputação quanto influência.

Chegou mesmo a ser condenado por ter se deixado comprar por um ministro de Alexandre e facilitar sua fuga de Atenas.

Foi preso mas conseguiu fugir, exilando-se de Atenas por longo período.

Depois da morte de Alexandre, em 323 a.C., Demóstenes é chamado de volta e retoma suas atividades. Alia-se, então, à revolta contra Antípatro. Tendo falhado tal revolta, Antípatro exige a entrega dos chefes revoltosos.

Demóstenes foge para o templo de Poseidon, na ilha grega de Calauria. Quando percebe que está cercado pelos soldados de Antípatro, suicida-se com veneno.
 
Já o nosso (de vocês!) Demóstenes, que se tinha como um cidadão acima de qualquer suspeita, um parlamentar honrado, dada a sua atuação como relator da Lei da Ficha Limpa, foi flagrantemente flagrado em grampos telefônicos defendendo interesses do empresário do ramo dos jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Isto é, estava sendo comprado pelo notório contraventor.

Uma pergunta que não quer calar: qual será o destino do Demóstenes tupiniquim? Demo para os íntimos. Será o destino de Poseidon? Ou em Poseidon?
Cartas para este blog.

9 comentários:

Jorge Carrano disse...

Vou confessar uma coisa. Como não acompanhava a trajetória política do senador Demóstenes, a notícia de seu envolvimento com contraventores não me chocou.
Meu dentista - Joel - costuma assistir as transmissões, via TV, das sessões do Senado Federal.
Cada um que assomava a tribuna, no final do ano passado, quando estive em seu consultório, ele tinha um comentário desairoso, ninguém prestava. Para todos tinha uma restrição.
Lembro perfeitamente que quando o Demóstenes Torres assomou à tribuna, ele parou o que estava fazendo e olhando para o aparelho de TV, meio embevecido decretou: "tá ai um político sério, brigador,corajoso,assíduo, que justifica o voto de seus eleitores".
Está era a referência que eu tinha do senador traficante de influência.
Vou telefonar para o Joel para saber se ele está vivo.

Fiquei mais decepcionado com o Stepan Nercessian, figura querida nos meios artísticos, com cara de bom caráter.

Valeu, Ricardo! Oportuníssimo seu post, enriquecido com as referências histórico-mitológicas.
Abraço

Gusmão disse...

Ele enganou muita gente. Até na oposição tem gente surpresa. Acho que a criatura (Lei da Ficha Limpa) vai pegar o criador (seu relator no Congresso).
Abraços

Jorge Carrano disse...

Sabe o que acontece, Gusmão? Parafraseando Cesar, que chamava Poseidon de Netuno, diria que ao político não basta PARECER, ele tem que SER.
Abraço

Luvanor Belga, MS disse...

Numa das visitas que faço ao Rio, lembro vagamente de outro caso, de um secretário ou subsecretário do Estado do Rio (acho que Niterói) responsável pela aplicação da Lei Seca (Bafômetro) que foi um dos transgressores e parece que ocasionou óbito por dirigir embriagado ou dopado por remédios... Quer dizer: "Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço". Aqui em Corumbá teve início programa de Educação do Trânsito. E ontem uma barreira deslizou na Ladeira José Bonifácio arrastando o muro de contenção,atingindo uma boate e interditando a passagem de veículos e pedestres. Igual a outras cidades do sudeste do país.
Mais uma vez, obrigado pela possível postagem neste blog.

Jorge Carrano disse...

Caro Luvanor (se me permite a intimidade), seus comentários são sempre bem-vindos.
O fato relatado ocorreu mesmo aqui em Niterói.
Pelo visto estamos escolhendo raposas para tomar conta de galinheiros.
Abraço

Gusmão disse...

Meus respeitos ao estilo e cultura demonstrados pelo Ricardo, autor do post.
Acho que não terei coragem de enviar mais nenhum texto para publicação no blog.
Abraços

Jorge Carrano disse...

Notícia que acaba de ser divulgada no portal G1 da Globo:
"O senador Demóstenes Torres (GO) pediu desfiliação do DEM nesta terça-feira (3) em carta enviada à direção do partido. A decisão foi tomada após a legenda anunciar a abertura de um processo disciplinar para apurar se o senador usou seu mandato para favorecer o contraventor Carlos Augusto Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso pela PF em fevereiro sob a acusação de comandar um esquema de jogo ilegal em Goiás. O processo disciplinar poderia levar à expulsão de Demóstenes do partido."

O que você acha do desfecho na versão tupiniquim, Ricardo?

Ricardo dos Anjos disse...

Carrano,trata-se de um desfecho.
Uma vez a morte anunciada, ele antecipou-se à guilhotina do DEM e se suicidou partidariamente. Vejamos agora no âmbito do Senado, se haverá algum Brutus na Comixão de Ética à espreita do senador camarada (não confundir com Senador Camará) que tomava banho de Cachoeira e pegou um baita resfriado de corrupção.

Jorge Carrano disse...

Não se fazem mais cachoeiras como antigamente, de águas límpidas, puras e saudáveis, nas quais podíamos nos banhar e beber.
Abraço