11 de agosto de 2019

SER PAI




Ser pai

Por: Artur da Távola

De todas as minhas modestas dimensões humanas, a que mais me realiza é a de ser pai.
Ser pai é, acima de tudo, não esperar recompensas. Mas ficar feliz caso e quando cheguem.
É saber fazer o necessário por cima e por dentro da incompreensão.
É aprender a tolerância com os demais e exercitar a dura intolerância (mas compreensão) com os próprios erros.
Ser pai é aprender, errando, a hora de falar e de calar.
É contentar-se em ser reserva, coadjuvante, deixado para depois. Mas jamais falar no momento preciso. É ter a coragem de ir adiante, tanto para a vida quanto para a morte. É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho, fazendo-se forte em nome dele e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar.
Ser pai é aprender a ser contestado mesmo quando no auge da lucidez. É esperar. É saber que experiência só adianta para quem a tem, e só se tem vivendo. Portanto, é aguentar a dor de ver os filhos passarem pelos sofrimentos necessários, buscando protegê-los sem que percebam, para que consigam descobrir os próprios caminhos.
Ser pai é: saber e calar. Fazer e guardar. Dizer e não insistir. Falar e dizer. Dosar e controlar-se. Dirigir sem demonstrar. É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia, jamais transferindo aos filhos o que, a alma, lhe corrói.
Ser pai é ser bom sem ser fraco. É jamais transferir aos filhos a quota de sua imperfeição, o seu lado fraco, desvalido e órfão.
Ser pai é aprender a ser ultrapassado, mesmo lutando para se renovar. É compreender sem demonstrar, e esperar o tempo de colher, ainda que não seja em vida.
Ser pai é aprender a sufocar a necessidade de afago e compreensão. Mas ir às lágrimas quando chegam.
Ser pai é saber ir-se apagando à medida em que mais nítido se faz na personalidade do filho, sempre como influência, jamais como imposição. É saber ser herói na infância, exemplo na juventude e amizade na idade adulta do filho. É saber brincar e zangar-se. É formar sem modelar, ajudar sem cobrar, ensinar sem o demonstrar, sofrer sem contagiar, amar sem receber.
Ser pai é saber receber raiva, incompreensão, antagonismo, atraso mental, inveja, projeção de sentimentos negativos, ódios passageiros, revolta, desilusão e a tudo responder com capacidade de prosseguir sem ofender; de insistir sem mediação, certeza, porto, balanço, arrimo, ponte, mão que abre a gaiola, amor que não prende, fundamento, enigma, pacificação.
Ser pai é atingir o máximo de angústia no máximo de silêncio. O máximo de convivência no máximo de solidão.
É, enfim, colher a vitória exatamente quando percebe que o filho a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver. É quem se anula na obra que realizou e  sorri, sereno, por tudo haver feito para deixar de ser importante.



NOTAS: 
1) Este texto já foi publicado várias vezes, ao longo dos anos, em vários veículos de comunicação. Tal fato  se explica por ser uma síntese, perfeita e acabada, do que é ser pai. Existem versões na rede.
2) Artur da Távola é o pseudônimo adotado por Paulo Alberto  Moretzsohn Monteiro de Barros. 

4 comentários:

Jorge Carrano disse...



Acho que esta crônica do Artur da Távola é o equivalente em prosa dos famosos versos de Coelho Neto "Ser Mãe".

Para quem não se lembra:

"Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
o coração! Ser mãe é ter no alheio
lábio que suga, o pedestal do seio,
onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.

Ser mãe é ser um anjo que se libra
sobre um berço dormindo! É ser anseio,
é ser temeridade, é ser receio,
é ser força que os males equilibra!

Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,
espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!

Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!"



Riva disse...

O texto dele sobre pais se "confunde" com o de mães ... mudam as palavras, mas o significado é o mesmo. Dedicação incondicional, sacrifício e amor.

Seis anos depois, a conjunção de datas se repete … 11 de agosto, Dia da Isa, Dia dos Pais.

Daquela vez, curtimos a data em Las Vegas, ao som de Sir Willie Nelson e sob a estupenda beleza de Zion.

Isa Fátima, Isa Mãe, Isa Pai …
“quando um recém nascido aperta o dedo do seu pai pela primeira vez, o tem apanhado para sempre” (Gabriel Garcia Márquez).

Pois é, Isa, você nos apanhou a todos,
Te amamos muito pelo que você é … sem limites, como o Céu
FELIZ ANIVERSÁRIO !!

PS: do A Távola, leiam tb o texto A PERDA DO PAI.

Jorge Carrano disse...


De Wanda e Jorge

Para Isa Fátima

Depois das palavras do patriarca tricolor o que meais dizer em seu benefício, ou sobre seu papel?

Apenas resta endossar o FELIZ ANIVERSARIO!!!

Riva disse...

Valeu, amigos ! Tim Tim !!