1 de agosto de 2019

Jardins cultivados ou floresta virgem?



Quando se tem um veículo aberto de expressão de pensamento  e opinião, corre-se o risco de cair no ridículo, virar alvo de chacotas, cometer gafe, violar a lei do politicamente correto, magoar pessoas, ser mal interpretado, decepcionar uns e outros, enfim é dar a cara a tapa, colocar-se no banco dos réus, com poucos argumentos de defesa, eis que existe prova material escrita, confissão espontânea, sem tortura ou coação irresistível.

Para poupar aos que têm intenção de me pegar, pelo dito e feito, faço uma retrospetiva do conteúdo do blog, de produção própria.

Sou agnóstico, se preferirem, ateu não praticante, ímpio ou herege, a depender do significado de cada um destes adjetivos.

Mas tenho fé absoluta numa entidade, força, energia, espírito de luz ou santidade, que se materializa como São Jorge ou, para alguns, Seu Ogum. Temos uma relação calcada em dois princípios que nos obrigam reciprocamente: eu creio nele e ele me protege.

A fé, a crença, é irracional.  Desprezo filósofos que desdenham da fé. Religião é outra coisa. Já trafeguei na católica, namorei a espírita, mas por fim resolvi adotar princípios e regras que elegi como  aplicáveis em todas elas.

Na política sou democrata, com ressalvas, a favor do regime que privilegia o mérito, assegura o direito à propriedade privada e incentiva a economia de mercado.

Sou anti-petista ou anti qualquer partido, grupo ou facção que pregue a socialismo.

Sou a favor da pena de morte, como meio de extirpar um mal, um risco para a vida em sociedade. Nego a pregação de que Deus dá a vida e só ele pode tirar. Mesmo que assim fosse, se ele dá vida a um marginal, delinquente, sem alma e sem amor ao próximo cometeu um erro de fabricação e assim como na indústria as peças defeituosas são descartadas, o ser inumano também deve ser eliminado do convívio social.

Sou a favor da liberação do jogo, em cassinos, sob controle governamental. Se rende divisas, impostos, é ótimo para poder haver distribuição de renda, via serviços públicos nas áreas de educação e saúde, especialmente.

Sou torcedor do Vasco, por opção consciente, pela sua história, suas conquistas. Meu pai era rubro-negro e minha mãe tricolor. Nenhum dos dois tão apaixonados que tentassem influenciar os filhos. Nos anos 1940, o clube era o Vasco, ou demais eram coadjuvantes, paisagem.

Amo a natureza. Se tivesse muito dinheiro compraria glebas de terra com muita árvore e cachoeiras. Aprecio mais uma floresta virgem, com ordenamento ditado pela própria natureza, do que jardins criados e mantidos pela mão do homem, por lindos que possam ser.

As bromélias, as orquídeas, os cipós que se aproveitam despudoradamente das grandes árvores, sem regras, muito me encantam.

Sim, o Jardin du Luxembourg e o de Versalles, são lindos, bem cuidados, mas um pedaço da mata atlântica ou da amazônia, são imbatíveis, mexem com minhas emoções.

Jardin du Luxembourg

Versalles

Mata virgem, intocada, minha preferência






Por vezes praguejamos e dizemos coisas como termos raiva e vergonha de sermos brasileiros. Também já pensei e disse, por causa de momentos de pronunciamentos e atos das autoridades constituídas, do descaso com as escolas e hospitais, mas o certo é que nosso país só presaria de um bom gerenciamento, com foco na educação, e daria certo.

Enquanto isso não acontece, por opção viveria na Inglaterra, país que admiro e pelo qual tenho uma certa inexplicável atração.

Tive, ao longo dos quase oitenta anos de vida, muitos amigos aos quais dediquei lealdade, parceria e respeito. Poucos foram os que mereceram, avaliados pelo prisma da reciprocidade.

Alguns poucos, entretanto, ajudaram a moldar meu caráter, a escolher caminhos, empurraram quando precisei e seguraram em horas oportunas.

Aqui neste espaço já perdi seguidores e debatedores por discordância política e religiosa. 

Perdi?

Se preferiram sumir, abandonando o debate de ideias, respeitoso e enriquecedor (imagino) então não perdi.

Sou grato aos que ficaram.


3 comentários:

Jorge Carrano disse...


Estive muito próximo de socialistas, fossem profissionais ou ingênuos ou poetas delirantes. Foi na política estudantil, como presidente de grêmio e diretor de federação de estudantes.
Não me contaminei.
Participei, num curto período, de um grupo teatral voltado ao trabalhador. Chamava-se teatro experimental. Os ensaios eram realizados na casa do médico Paulo Pimentel, oftalmologista.
Também não me empolguei.


Tenho convicções muito bem sedimentadas sobre ideologia política. As teorias não passam disso, teorias.

Na religião fui coroninha e na medida que minhas informações aumentavam fui ficando cada vez mais decepcionado.
Afastei-me e meus filhos sequer foram batizados.E, claro, não comungaram. Casei na igreja por causa da família de minha noiva (agora mulher).

Tudo muito insipiente e incipiente, dirão alguns, para formação de juízo de valor. Melhor do que nada, digo eu.

Riva disse...

Um depoimento corajoso o seu.

Eu prefiro não expor todas as minhas convicções, crenças e apoios. Haja vista as últimas eleições, que afetaram até as famílias de muita gente ... e continua.

O seu primeiro parágrafo sintetiza o risco da exposição. Em qualquer mídia.

Hoje, na rua, tem-se que tomar cuidado até em mirar o telefone numa paisagem para fotografar.

Jorge Carrano disse...


Você tem razão, Riva.

Entretanto o que explicitei é uma pequena síntese do que mencionei em gotas aqui no Pub da Berê, nos últimos quase dez anos; do que disse em conversas de botequim; do que falei em encontros sociais; do que escrevi para as colunas de leitores para jornais e revistas, e do que respondo quando perguntado.

É certo que vez ou outra um comentário mais agressivo, menos respeitoso, por vezes obsceno aparece aqui e não publico porque como regra geral são anônimos.

Também é certo que recebo e-mails de gente desconhecida, em especial do Estado de São Paulo, porque o Estadão publica os endereços eletrônicos daqueles que têm suas cartas publicadas.

Participei ativamente, soprando apitos, batendo panelas nas manifestações pelo impeachment da Dilma. Participo de passeatas se a causa me comove, e aproveito para me expor de novo, excluindo aquelas do orgulho gay. Nada contra mas porque fazer passeatas? Por que não fazem a dos machos alfa? Porque não é necessário. Não tem enrustido.

Bati e apanhei junto a torcida no Maracanã, na época (priscas eras) que frequentava o estádio. Nunca sofri coisa mais grave do que um pequeno hematoma ou um dedo destroncado. Felizmente.

Em suma, caro Riva, como já lecionou nosso Paulo Alberto Monteiro de Barros, "viver é acumular perdas".

Abraço forte.