1 de abril de 2016

Quem diz o que quer ...

Na viagem de volta de Teresópolis, no domingo de Páscoa, contei para os que estavam no automóvel, uma história que vivi há muitos anos.

Este link abaixo abre um comercial da Fiat Lux, muito antigo. Desnecessário para alavancar venda de fósforos, na época indispensáveis no lar e entre fumantes (poucos usavam isqueiros, antes do surgimento dos descartáveis).
https://www.youtube.com/watch?v=KKZXnVZaTjI

Na verdade para eles, no automóvel, contei uma mas aqui serão duas. Ambas da época em que eu trabalhava na Cia. Fiat Lux, de Fósforos de Segurança. Se a Elizabeth Paiva, que ora reside em Wichita, nos EEUU, ainda frequentasse este espaço virtual, talvez pudesse testemunhar, porque ela era, ao tempo, secretária do Caio Assis de Aragão, que era o diretor jurídico da companhia.

Deu-se que o Nícolo Emmanuel Burke, vice-presidente, mandou chamar, através de sua secretária, um advogado que estivesse no escritório. Ela ligou para o ramal do Depto. Jurídico para falar com o Mario Coelho da Silva, que era o chefe do setor. Mas ele não estava e como eu atendi a ligação, fui convocado para comparecer ao gabinete do Sr. Burke.

Sr. Jorge, disse ele – pois era assim que me tratava – nós precisamos implantar um terceiro turno de trabalho na unidade de São Gonçalo.

Eu, pato novo (recém formado), para fazer bonito, me exibir e mostrar cultura jurídica, respondi dizendo que infelizmente  -  frisei – não seria possível porque não haveria como nas 24 horas do dia conceder aos três turnos, o intervalo para refeição e repouso que a CLT determinava, que era de uma hora.

E acrescentei, todo proza, como nossa atividade é insalubre, dificilmente conseguiremos no Ministério do Trabalho autorização para redução do intervalo de almoço (sem contar o sindicato).

Ele, cachimbo tradicional na boca, levantando a cabeça que estivera abaixada, com o  olhar concentrado nos papeis que tinha sobre a mesa, respondeu com tranquilidade: “eu não chamei o senhor para me dizer que não pode, eu o chamei para fazer poder”. E me dispensou dizendo aguardar uma solução.

A outra historinha, que envolveu comentário inoportuno de alguém (eu) que queria puxar assunto e fazer gracinha, ocorreu com uma das filhas do Jules Michel Leon Ponsinet, que ara o presidente da Fiat Lux. Como o nome denuncia, francês. Ela, a filha, 18 anos, bonita e charmosa, também francesa.

Ela iria viajar para a Europa, precisava de um visto na Polícia Marítima e de Fronteira e, como eu era estagiário no Dept. Júrídico, fui escalado para acompanha-la a fim de facilitar, se o caso, a vida dela na repartição pública.

O carro da presidência me pegou na sede da companhia (na época na Rua Visconde de Inhaúma), e o Chauffeur, de quepe e uniformizado, levou-me até o apartamento onde a família residia, na Rua Djalma Ulrich.

Para ir direto ao ponto, cumpridas as formalidade legais, visto prometido para dentro de cinco dias, e já no automóvel de volta  - eu para o escritório, e ela para Copacabana - fiz a gracinha de comentar: “pena que você perderá nosso carnaval”.

Ela sem perder tempo pensando, no mesmo tom respondeu: “pena que você não possa ir esquiar em Saint-Moritz”.


Saint-Moritz

Para atenuar a alfinetada, olhou para mim e riu discretamente. 

Bonita e elegante.


Notas do editor/autor:
- Era fevereiro, mês do carnaval naquele ano.
- A Polícia Marítima funcionava num prédio na Praça Mauá.
-Chamávamos de chauffeuer o condutor de automóvel particular e de motorista o de transporte público (ônibus, caminhão, etc)
- Trabalhei durante dez anos na Fiat Lux, que foi uma escola para mim. Depois do Jurídico (onde permaneci sete anos) migrei para área de Recursos Humanos, que ainda era chamada de Relações Industriais.

2 comentários:

Jorge Carrano disse...

FIAT LUX:
Só muitos anos depois surgiram os isqueiros descartáveis: BIC e CRICKET.
Os acendedores automáticos nos fogões, muito mais tarde ainda.
E a eletrificação rural avançou bastante.
Estes fatores, acho, tiraram dos fósforos o caráter de essencialidade.

Ao tempo em que lá trabalhei, gerentes de bancos faziam fila na porta não para cobrar, mas para conquistar a conta da companhia e captar investimento. A Fiat Lux só vendia a vista, melhor, só vendia com pagamento antecipado.
O fluxo de caixa era uma maravilha.
E detinha 80% do mercado.

Jorge Carrano disse...

Constatação:

Os temas políticos atraem muito mais do que os outros. As estatísticas revelam uma queda no número de acessos ao blog.

Não me refiro a comentários ao post, e sim acessos (visitas).