15 de agosto de 2010

Vendi o automóvel

Nunca fui muito ligado em automóvel. Claro que durante um tempo a posse de um facilitou um pouco as coisas.

Quando disse posse, é porque não implica, necessariamente, propriedade.

Assim, quando era adolescente, mendingava o empréstimo do carro de meu pai, mesmo que por tempo restrito. Com horário para estar de volta em casa.

Era um Austin A70, carro inglês, não muito comum em Niterói, onde a maioria deles era de fabricação americana.

Também curti muito meu primeiro Fusca. Era confortável poder ir a praia de Itacoatiara, para que meus filhos pudessem ficar na prainha, sem grande risco de afogamento.

Meus sogros moravam em Cachoeiro de Itapemirim e, sem automóvel, seria um transtorno visitá-los com os filhos, de ônibus.

Anos mais tarde, morando em São Paulo, tendo que percorrer 17 quilometros até o local de trabalho, seria uma loucura depender de transporte coletivo. Morava no Brooklin (depois no Campo Belo) e trabalhava na Via Anhanguera.

Até mesmo para passear o automóvel ainda era uma boa pedida. Tive disposição para fazer a viagem São Paulo/Salvador durante férias. Em três dias, viajando somente com luz do sol.

Enfim, tendo filhos pequenos, com um carro na garagem sempre nos sentimos mais seguros.

Mas agora, não faz nenhum sentido possuir um automóvel. Os filhos, casados, já não moram mais comigo. E moram perto de minha casa. Meus sogros faleceram, o que me dispensou de viajar para Cachoeiro. Viagem de passeio, de automóvel, nem pensar. Minha irmã morava em Maricá e já era para mim um sacrifício voltar de lá numa estrada ruim e com trânsito congestionado. Não tenho mais paciência.

No dia-a-dia de trabalho o carro em nada me favorece. Antes pelo contrário.

Pense comigo. Se você é despido de vaidade, vai concordar que um carro, a menos que você esteja num daqueles casos que mencionei acima, ou seja, usa o carro para conquistar as meninas, como fazia na adolescência; tem filhos pequenos sujeitos a contratempos de acidentes e febres altas na madrugada; tem parentes e/ou amigos que moram em lugares nem tão distantes que deva ir visitá-los viajando de avião, mas distantes o suficiente para necessitar de um automóvel que lhe permita escolher horário de ida e volta e poder parar para esticar as pernas quando entender necessário, o automóvel, volto ao ponto, mais atrapalha do que ajuda. Para que serve? Para fazer inveja ao vizinho, como insinuam certos comerciais de TV? Ou para se embrenhar por estradas elameadas utilizando a força da tração nas 4 rodas?

Imagine um carro médio, digamos de R$ 40.000,00, e as despesas que ele lhe dá. Coloque na ponta do lápis o seguro anual, os abastecimentos de combustível, as lavagens, a manutenção, troca de óleo, etc. Calcule o que você gasta com estacionamento, inclusive nas ruas, sem qualquer segurança.

Imagine ter que renovar a carteira de habilitação a cada 3 anos, como já é o meu caso. Anualmente levar o carro para vistoria de licenciamento. Ter aborrecimentos na garagem do condomínio, porque nem todos os moradores são educados e respeitosos com relação ao direito alheio.

Me arrepio só de pensar em enfrentar os congestionamentos cada vez piores nas ruas de Niterói. Dirigindo, claro. Se pudesse manter um motorista, não tendo que me estressar e podendo aproveitar todo o tempo perdido engarrafo no trânsito lendo um livro, ou fazendo palavras cruzadas ou trabalhando no laptop, ainda vá lá. Mas sem motorista, só masoquista.

Então fiz as contas, pesei os prós e os contras e vendi o carro.

Acompanhe meu raciocínio. Se ao invés do carro, no meu exemplo, de valor comercial de R$ 40.000,00, você aplicasse esta importância numa poupança, rendendo os 0.6% mensais, isto renderia qualquer coisa como R$ 240,00 por mês. Some-se a isto o que você gasta com estacionamentos.

Agora faça a seguinte operação: pegue o valor do seguro anual, mais o que você gasta com manutenção do automóvel por ano. Mais as lavagens, mais o custo de abastecimento anual (gasolina, álcool), estimado.

Pegue o total anual destas despesas e divida por 12. O resultado será uma média mensal de despesas.

Agora some o rendimento da poupança, com o valor médio de despesas. Você não está surpreso com o resultado?

Pois é. Se você tiver mesmo necessidade de condução, pois o local onde vai é distante, ou se você está muito apressado, pegue um taxi.

Aquele dinheiro que você vai economizar não tendo o carro, será mais do que suficiente para suas despesas de taxi durante todo o ano.

Com as seguintes vantagens: o trânsito está congestionado, faça alguma coisa útil, pois não é você que está ao volante; é como se tivesse seu próprio motorista.

Quando você chega ao seu destino, seja um restaurante, seja na empresa onde terá uma reunião, ou, horror dos horrores, vai a um Shopping Center, não se preocupe com local do estacionamento ou o tempo perdido para encontrar um. O taxista vai deixá-lo na porta e pronto.

Considere que nem sempre o automóvel resolve. Meu caso por exemplo. Meu escritório e meus locais de trabalho ficam no centro da cidade (Fórum, Cartórios), e as distâncias são curtas. Andar a pé, além de fazer bem a saúde, economiza tempo porque se cortam caminhos.

Além de tudo isto, você contribui com o meio ambiente, pois será menos um carro a poluir. Você concorre para diminuição de veículos atravancando o trânsito. Você não terá que brigar com o motociclista que arrancou seu retrovisor numa manobra perigosa entre os carros. Não terá que ouvir ofensas a sua mãe e nem ofender a do próximo.

Bem, ademais, quanto ao valor do automóvel, há que considerar que os R$ 40.000,00, preço hipotético que arbitrei, quando você tira as quatro rodas da concessionária, já se transformaram em R$ 35.000,00. Perda patrimonial. E que ao cabo de 3 anos, no máximo, você terá de trocar de carro, novamente com perda financeira.

Bem, se você mora em Niterói e trabalha na Barra da Tijuca, alguma coisa está errada nas suas opções. Como castigo terá que possuir um automóvel.

Já informei aqui repetidas vezes que cheguei aos 70 anos e sou hipertenso. Não poderia ter feito coisa melhor do que vender o carro.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito lúcido e ponderado. Fiz a conta e, só de IPVA e seguro, sem tirar o bicho da garagem, esse carro de 40 mil custa 240 reais... por mês!
Se contar as outras despesas, aí o valor é muito maior. Isso sem falar das aporrinhações que v. mencionou que, como diz a campanha do cartão de crédito... "não tem preço".

Riva disse...

Só não concordo quando vc diz que se livrou dos motociclistas ! rsrsrs

Vc se livrou dos MOTOQUEIROS, entregadores de pizza. Motociclista é educado e respeita as regras básicas do trânsito.

Abração

PS : já quebrei o retrovisor de um piloto de automóvel que propositalmente tentou mem sacanear. Incorporei o espírito dos motoqueiros ... mas esse mereceu.

Jorge Carrano disse...

Caro Riva,
Isto foi há 3 anos (rs). Motoqueiro e motociclistas eram, para mim, a mesma coisa. Depois que você me explicou a diferença quando em outro post meti o malho nas motocicletas, comecei a fazer a distinção.