Fantástico mundo da ficção, onde as coisas acontecem com uma celeridade e uma facilidade de nos levar a crer em Parsagada, no Eden, em Paraíso. Ou na mula sem cabeça, no lubisomem, no saci pererê.
Pelo menos no que respeita aos aspectos legais, por exemplo. Se o mundo jurídico real, no Brasil, fosse com as novelas o apresentam, os advogados morreriam de velhice e não de enfarto.
Não teriam estresse, nem úlcera, nem problemas periodontais e nem hemorróidas.
Já notaram como as pessoas são interditadas em dois capítulos, que representam uma passagem de tempo de no máximo uma semana?
Já perceberam como os controles acionários das empresas mudam de mãos como num passe de mágica?
As diligências de citação são efetuadas por Oficiais de Justiça trajando bons ternos e engravatados.
Os processos tramitam com uma celeridade, que parece haver serventuários e magistrados especialmente designados para aquela causa. Juízes decidem. Deus do céu, juízes decidem nas novelas.
Outras coisas absurdas acontecem, como, por exemplo, as pessoas irem a casa umas das outras, para fazerem uma pergunta simples, banal. Acho que o celular deveria ser mais bem utilizado nos enredos novelísticos. E as pessoas se visitam sem avisar. Ultimamente, nos diálogos, o personagem tenta justificar o fato de ter ido à casa do outro sem avisar por telefone, de maneira tão absurda, que seria melhor deixar sem explicação, como faziam há anos nas novelas.
Mas o que mais me incomoda são as coincidências que tornam possível desenvolver a trama. Todo mundo freqüenta os mesmos lugares e todo mundo se encontra nos lugares mais improváveis.
Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, parece haver um só bar, um só restaurante um só hotel os quais todos os personagens freqüentam.
Por que eu sei destas coisas. Porque é impossível deixar de assistir pelo menos episódios esparsos das novelas.
E, confesso, se a história é absurda assumidamente, sem ficar escravo, até assisto. Numa história de humor escrachado, seja nos diálogos seja nas situações (Ti ti ti), eu topo assistir. Se a própria história não se leva a sério, torna-se divertida.
Todavia, quando o enredo tem pretensões dramáticas ou pretende discutir problemas sociais, valha-me Deus!
Essa Passione, por exemplo, é uma sopa minestrone que tem como ingredientes a dependência química pelas drogas; a avó que é cafetina; bigamia; prostituição da vilã para obter recursos financeiros que a levassem até a Itália; a infidelidade à moda bela da tarde, ou do dia ("Belle de jour", lembram do filme?), com uma personagem que sai a caça de rapazes fogosos; mãe que foi amante do namorado da filha; filho ambicioso que é capaz de trapacear contra a mãe; pedofilia; personagem que casa com uma, mas está de olho em outra, que por sua vez é casada com o que seria, pelo menos no início da trama, "seu melhor amigo", enfim, um festival de mazelas sociais de fazer inveja aos programas do Ratinho.
De causar espanto o fato do autor - Sylvio de Abreu - já ter escrito comédias interessantes (por vezes com enredos chupados de filmes americanos), como por exmplo "Feijão Maravilha".
Saiu de sua praia e estrepou-se. Que desperdício de elenco, hein!!!
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