Em 1958 a França tinha um timaço, e só ganhamos porque tínhamos um menino-gênio chamado Pelé e um semi-deus de nome Garrincha. Em 1982 e 1986, com toda arte de nossos jogadores, não nos impusemos.
Em 1954 quem se impôs foi a Hungria, que deslumbrou. Em 1974 foi a vez da Holanda encantar, com seu carrossel. E nos dois casos citados, Hungria e Holanda sucumbiram à força da Alemanha.
Diferentemente do futebol, o vôlei brasileiro conquistou espaço e prestígio no cenário internacional, no passado mais recente, com muitas conquistas. Graças ao crescimento do time. Crescimento na estatura, na técnica, no preparo físico, na força. Uma cortada de nosso ponta na entrada de rede, seja qual for, no momento, é forte o suficiente para superar bloqueio.
E esta evolução aconteceu em quanto tempo? Cinquenta anos? Por aí, talvez cinquenta e cinco, a julgar pelo fato de que estou com setenta e me recordo de muitos dos nossos atletas, que moravam em Niterói, jogando na areia de Icarai.
Lembro de Borboleta, Quaresma e outros, que integravam a seleção nacional e que tinham baixa estatura e mãos, como direi, delicadas.
Para se ter uma idéia, na última Olímpiada Estudantil Secundarista a que compareci, com muito orgulho como chefe da delegação de Niterói e técnico da equipe de futsal (então futebol-de-salão), e que foi realizada em Volta Redonda, a seleção de vôlei masculina era dirigida por uma professora de educação física, chamada Nelize. E Niterói conquistou o título. Os tempos mudaram, não? Os professores não se interessavam muito por vôlei e os rapazes mais altos, um pouco mais, digamos, másculos, optavam pelo basquete.
Mudou muito o biotipo do jogador de vôlei e a preparação atlética.
Não quero comparar a seleção brasileira com a equipe estudantil de Niterói, mas entre Nelize Tortelli, frágil, delicada, e Bernardinho, explosivo, cobrador, há uma diferença abissal.
Nosso futebol perdeu espaço no futebol internacional na mesma época em que o vôlei começou a se destacar. Isto nada tem a ver com concorrência entre os esportes. Os praticantes continuam sendo de vertentes diferentes.
Todavia, o futebol no mundo todo evoluiu e não estamos acompanhando as modificações que estão ocorrendo.
O futebol que se praticava antigamente acabou. Quando, nos dias de hoje, um Danilo conseguiria matar a bola no peito, levantar a cabeço, localizar um companheiro desmarcado e lançar-lhe a bola? Quando a bola chega no jogador, se o passe for perfeito, porque se não for não tem remédio, já estão colados, ou chegam juntos, dois ou três adversários para bloquear.
O Futebol ficou corrido, não há mais espaço. O miolo do campo, onde jogavam os cerebrais armadores (Didi, Gerson, Danilo e outros), ficou congestionado com os cabeças-de-área. Os zagueiros cresceram, em estatura, e ganharam mais impulsão, graças ao preparo físico.
Sim, é verdade que Xavi e Iniesta são relativamente baixos. Por isso mesmo a Espanha, que joga bonito, teve enorme dificuldade para vencer seus jogos. Ganhou 4, dos 7 disputados por 1 a 0. E olhe lá. Perdeu para a Suiça, que joga no sistema de ferrolho desde que eu tomava mamadeira. Alias que os suíços é que tomam muita mamadeira, por isso são corpulentos e difíceis de superar.
Até no tênis, tendo em vista o crescimento médio dos praticantes, e a força física que vêm ganhando, mais cedo ou mais ocorrerão mudanças. Seja elevando a altura da rede, seja diminuindo, com pisos especiais, a velocidade da bola. O que se vê de aces é incrível.
Assisti ontem um pedacinho (2 sets) de uma partida do sueco Soderling. Pois muito bem. Teve um game que ele fechou rapidamente, sendo que 3 dos 4 pontos necessários (15, 30, 40 e game), ele obteve com aces. Até o 2º set já eram 13 aces dele contra 8 do adversário, cujo nome não me lembro. De qualquer forma foram 21 aces em 2 sets.
Consta que o americado Andy Roddick conseguiu, num saque, imprimir à bola uma velocidade de 242 Km. Como é possível rebater uma bola nesta velocidade e com efeito?
Tamanho e força viraram quesitos importantes.
Nota do autor: nos remotos anos 40 e 50 do século passado, nas desavenças entre colegas de escola, era costume os de menor porte físico anunciarem para os maiores: "tamanho não é documento". Esta frase virou bordão e foi largamente aplicada. Hoje caiu em desuso. Ou então está restrita às briguinhas de estudantes, portanto longe do autor.
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