29 de julho de 2010

Descarte de alfarrábios, lixo impresso e anotações inúteis

Época de descartes. Arquivos abarrotados com pastas estufadas de tanta tralha.

Encontro coisas do arco da velha. Recortes de jornais e revistas, anotações e correspondências tão antigas quanto a expressão “do arco da velha”. *

Encontro duas pasta intitulada “JAZZ”. São daquele tipo suspensas, que ficam penduradas no gavetão. Nelas, matérias sobre lançamentos de discos, isto mesmo, discos de 33 rotações, cartuchos, fitas cassete e CDs.

Páginas de jornais, envelhecidas e por isso mesmo amareladas e com cheiro característico, que veiculam biografias, discografia, lançamentos de discos, e matérias sobre generalidades jazísticas.

Críticas, como as publicadas regularmente por Luiz Orlando Carneiro, nas páginas do Jornal do Brasil**. Um expert de respeito.

E cadernos especiais comemorativos. Quando morreu a Ella Fitzgerald, por exemplo, o jornal O Estado de São Paulo, em sua edição de 2 de abril de 1995, dedicou 12 das 16 paginas do Caderno 2, à morte da fantástica cantora. Tem tudo sobre a vida e a obra daquela que era, em minha opinião, a primeira-dama do jazz.

Preciso abrir um parêntesis, para comentar sobre este Caderno 2 do Estadão (como era ou é conhecido o tradicional jornal paulista/paulistano). Nas outras 4 páginas, das 16,  estão publicadas colunas de Paulo Francis, João Ubaldo Ribeiro e Luiz Fernando Veríssimo, entre outras. Sempre se poderia dizer que passados 15 anos, o Ubaldo e o Veríssimo continuam a nos enriquecer com seus textos cheios de ironias, humor fino, críticas mordazes e muito talento no manejo do idioma, nas edições dominicais de O Globo. Mas os conteúdos das colunas de 1995, são relíquias históricas.

Retorno às pastas sobre jazz, e antes de avançar nos cometários sobre o que nelas encontro, preciso explicar que frisei que a Ella Fitzgerald era a primeira-dama do jazz, em minha opinião, porque há divergências sobre se lhe cabia este epíteto. Alguns entendiam que o título ficaria melhor se atribuído a Billie Holiday. Façam suas escolhas.

Eu era leitor do jornal O Estado de São Paulo, mas lia também o seu maior concorrente, ideologicamente e, portanto, editorialmente, mais à esquerda, que era, e parece que ainda é, a Folha de São Paulo.

Deste último jornal diário, encontro em uma das citadas pastas de arquivo, o caderno Informática, da edição de 26 de fevereiro de 2003. Nela está publicada uma lista dos 110 sites selecionados, todos de lendas do jazz e do blues: Ben Webster, Keith Jarrett, Miles Davis, Ray Brow, Ron Carter, Thelonious Monk, B.B. King, Muddy Waters, Big Joe Turner e muitos outros mais. Como escrevi, são 110 sites interessantíssimos.

Tenho um recorte a respeito do lançamento do livro “The best 100 jazz records”, do crítico Ira Gitler (editado pela Pasquim). O autor consultou 50 críticos de jazz de vários países (um do Brasil), para que apontassem 40 títulos cada um. O disco mais votado foi “Potato head blues” de Louis Armstrong.

Tenho matérias, coligidas de diferentes fontes, sobre as big bands, que tiveram sua época de ouro: Glen Miller, Benny Goodman, Harry James, Tommy Dorsey, Artie Shaw e outros.

E porque eu guardei tudo isto por tanto tempo? Primeiro, por mania de guardar curiosidades. E a segunda razão, mais objetiva, é que eu julgava que um dia, sei lá, aposentado, teria tempo para escrever sobre o assunto – jazz - e disporia de um acervo interessante, para notas remissivas. As contracapas dos discos (long play) e os encartes, também eram excelentes fontes de informações e por isso mesmo anotava tudo que fosse interessante.

Bem, não me aposentei e surgiu a Internet. Com um click de mouse tudo que eu tenho nas tais pastas sobre jazz, virou apenas abrigo para ácaros. Não só está tudo lá, no mundo virtual, sobre todos os artistas, vivos ou mortos, como ainda se consegue ouvir trechos de algumas gravações.

O tempora! O mores!

* Segundo o professor de literatura brasileira Deonísio da Silva, da Universidade Federal de São Carlos, a expressão nasceu a partir de ilustrações medievais que mostravam velhas senhoras, possivelmente bruxas, sentadas sobre o arco-íris. Segundo a superstição popular dos séculos XIII a XVIII, as bruxas faziam do arco um meio de transporte para roubar ouro de um lugar e depositar em outro. A expressão passou a ser usada para se referir a algo fantástico. Coisas inacreditáveis.

** Lamentavelmente deixará de circular a edição impressa do centenário Jornal do Brasil.

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