5 de julho de 2010

Perdemos o hepta

Um torcedor entrevistado nas ruas por uma emissora de TV, fez um comentário pertinente: perdemos o hepta em 2014.

A julgar pela transformação do futebol pelo mundo afora, pode ser que demore bem mais do que gostaríamos.  Até mesmo o exa com o qual estavamos sonhando este ano.
Assim como a uva cabernet sauvignon se adaptou em várias partes do planeta, com solos distintos e climas variados, a ponto de serem produzidos, em regiões e países exóticos, vinhos muito parecidos com os fabricados a partir desta casta em países com maior tradição vinícola, também o futebol está se pasteurizando.

Sul-americanos e, principalmente, africanos, estão se europenizando; ao passo que alguns países europeus começam a ser berço de jogadores habilidosos, com ginga e malícia, pois as crianças estão acompanhando desde cedo jogadores menos robotizados.

O futebol moleque dos africanos; o futebol total da Holanda em 1974 e 1978; o futebol somente técnico do Brasil em 1982 e 1986; o excelente futebol técnico/tático da Hungria em 1954; o futebol bonito e eficiente da França em 1958 e o futebol pragmático, competitivo sempre, da Alemanha, a partir da globalização, acabaram por dar origem a um novo tipo de futebol que é quase um vídeo game. Tudo tem de estar programado. Se não, não funciona.
A própria Holanda já não adota somente o futebol total. A laranja mecânica, que tanto encantou e surpreendeu, mas nada conquistou, senão dois vices campeonatos, está com outra cara. A par de continuarem a ter jogadores habilidosos, sem dúvida, estão impondo ao selecionado uma disciplina tática rigorosa, que tem tudo para se tornar vencedora. Contra o Brasil já foi.

Os africanos, com seus técnicos sérvios, suecos, ucranianos e de outras nacionalidades européias, já se preocupam, eles africanos, com postura defensiva. Acabou a irresponsabilidade que os fazia jogar com alegria, como diversão, sem compromisso com resultados, senão os que vinham naturalmente. Hoje não. Eles já buscam o resultado, jogam pragmaticamente.

Há que considerar, ainda, a importação de estrangeiros por parte dos países onde o futebol é um negócio mais rico. Equipes da Inglaterra, por exemplo, estão cheias de africanos. A estes jogadores, lá, são impostas missões em campo, papeis que devem desempenhar utilizando a habilidade e a velocidade que em geral têm. Chegou a tal ponto a presença de africanos nos gramados ingleses, que a cada 4 anos, quando é disputada a Copa Africana de Nações, o campeonato inglês nivela as equipes, pois os jogadores diferenciados que integram as 4 principais equipes, ou seja, Manchester United, Chelsea, Liverpool e Arsenal, vão representar seus países de origem, desfalcando suas equipes inglesas.

Esta presença de africanos, e alguns poucos asiáticos, nos grandes centros, provoca uma simbiose interessante. Os importados acabam por assimilar a tática rígida imposta pelos técnicos europeus, mas por outro lado, levam a malícia, a habilidade nata no domínio da bola e a velocidade.

Quem, antes do início da Copa FIFA, iria prever que Itália, França, Inglaterra, Brasil e Argentina, para citar apenas vencedores, deixariam a competição antes do Uruguai, que apesar de bicampeão é um país com menos de 4 milhões de habitantes, onde o futebol está em baixa há muitos anos e é exportador de talentos, assim como Brasil e Argentina?
Isto é nivelamento, por baixo. Se estivermos falando do futebol como arte.

Nenhum comentário: