24 de março de 2020

Guerra é guerra?




Noutro dia o confrade Riva mencionou não ter tido experiência de viver período de guerra. Ainda bem!

Nasci em 1940 e até que as manchetes de jornais e estações de rádio anunciassem “The war is over” passaram-se cinco anos.


Sim, eu era uma criança, mas lembro dos racionamentos. Do pão de miolo escuro em face das misturas de farináceos por causa da escassez de trigo.

Meu pai, e já contei isto aqui em algum momento, chegava algumas noites com um embrulho disfarçado: os pães eram cortados para não denunciar o conteúdo. Onde ele conseguia não tenho ideia.

Menino, ia para a fila de compra de leite e trazia um litro na leiteira, que era a cota individual. Isto ainda durante um bom tempo após o fim do conflito.

Muito provavelmente passaremos por algo semelhante agora. Mesmo com a superação da pandemia e controle do vírus, ainda viveremos sobre escombros econômicos e sociais.


Com racionamento e falta de um ou outro produto. E teremos que ser muito solidários uns com os outros.

Meu colega de trabalho, no Laboratório Hepacholan, em São Paulo, de nome Lorenzo Petrucci viu a guerra mais de perto ainda, porque ainda vivia numa comuna na Itália.

Viu e sofreu com efeitos. Atingido no quintal de sua casa por estilhaços de granada, trazia numa das pernas as cicatrizes e limitação de movimentos.

Lembro em nossas conversas sobre tempos difíceis dele me contar que o mais doloroso era que a família tinha algumas posses, tinham liras, o que não havia era o que comprar e onde comprar.

Passar fome é uma experiência muito amarga que não queremos para nós e para ninguém.

21 comentários:

Jorge Carrano disse...


Na rua Silva Jardim, no limite entre os bairros Ponta D"Areia e Centro, havia um estabelecimento que vendia leite.

Uma enorme câmara frigorífica que tinha na frente um dispositivo de vidro com marcações, que permitia medir a quantidade a ser liberada pela torneira.

Era um litro para cada pessoa. Tínhamos que levar o recipiente, geralmente uma leiteira.

Alás que nesta época tudo era vendido a granel: feijão, arroz, farinha, etc. Os gêneros alimentícios eram pesados em colocados em sacos de papel pardo.

Peixes, acreditem, eram embrulhados em jornais.

Jorge Carrano disse...


Continuo sem revisor o cargo está em aberto.

Peço perdão pelos inúmeros erros de grafia, concordância e empastelamento frequentes no blog.

... alimentos eram pesados e colocados em sacos de papel...

Riva disse...

Bom dia, 3ª feira !!

Lembro perfeitamente do meu pai trazendo para casa aquelas cestas de vime (que ele ganhava sempre no Natal) repletas de mantimentos não perecíveis, para estocar. Isso foi no golpe de 64.

Outra situação que lembro foi em 1959, quando queimaram a estação das barcas e as casas dos carreteiros. Eu estudava no Colégio Marília Matoso, no Ingá, e meu pai apareceu lá na escola para nos pegar e levar para casa.

Racionamentos só tenho lembrança, e sem impactos em casa, da energia elétrica - 1 hora por dia. E como já falei, nos divertíamos colocando esparadrapo nas campainhas das casas da rua. Diabinhos .... rsrsrs.

Já casado, lembro do impacto daquela loucura do Collor do bloqueio do nosso dinheiro. Sobrevivemos, inclusive a uma inflação astronômica, que em um determinado mês passou de 80%.

Mas agora é diferente. Não poder sair de casa, empresas sem receitas ... já começam os debates de como vai ser quando liberarem tudo .... essa demanda represada vai gerar um boom econômico positivo ? ou ninguém vai ter grana pra comprar nada por um tempo ?

Espero que sejam aproveitadas as lições que aprenderemos nessa fase, como por exemplo:

- respeitar os amigos que pensam diferente de você ou que fazem outras escolhas
- valorizar o convívio em família
- respeitar os idosos
- entender que existem serviços essenciais no dia a dia em nossas vidas, e quais são
- interagir com seus vizinhos, sem isolamento social
- criar procedimentos para enfrentar pandemias e/ou catástrofes futuras
- NÃO JOGAR LIXO NAS URNAS NAS ELEIÇÕES

etc etc.....




Anônimo disse...

Bom dia para vocês. Acompanho suas matérias a algum tempo, sempre colocações inteligentes. Nesses dias de ócio compulsório vou até começar a ver outras matérias mais antigas. Uma pergunta se me permitem. O que aprendemos com a Segunda guerra mundial, por exemplo? Prefiro pelo menos por enquanto me manter no anonimato. Uma boa semana a todos e não saiam nas ruas.

Jorge Carrano disse...


Caro(a) Anônimo(a),

Como atravessamo um momento de exceções, estamos liberando seu comentário sem identificação.

Agradecemos os elogios generosos e convidamos para permanecer conosco palpitando, sugerindo informando.

Abraço

Jorge Carrano disse...


Ademais, Anônima(o), os acessos andam tão escassos que não podemos nos dar ao luxo de dispensar comentários só porque a pessoa não se identificou.

Mormente se elogia o conteúdo do blog.

Riva disse...

kkkkkk, estamos abrindo os portões do blog .... rsrsrs

Será que algum cliente do PUB poderá responder a pergunta dele ?

Em princípio ninguém aprendeu nada, pois continuam as guerras e o desrespeito às escolhas do outro.

Jorge Carrano disse...


Vamos devolver a pergunta, Riva.

O que aprendemos com a 1ª Guerra Mundial, com as guerras da Coreia e do Vietnã? Indo mais longe, e com a guerra dos cem anos? Com as guerras púnicas?

Guerra só interessa a velhinha da piada que quando o soldado invasor disse que não a iria estuprar em atenção a sua idade, reclamou: meu filho, guerra é guerra.

Anônimo disse...

Anônimos não participam do seu blog ? Acho que poderiam se não forem desrespeitosos. E creio que deve aumentar o numero de frequentadores pois todo mundo está em casa. não sei a idade média do grupo de vocês e estou longe de ter sentido efeitos de uma guerra convencional. Essa em que nos metemos agora não é convencional. A Segunda guerra parece que dividiram o bolo em duas partes, pensando em dinheiro e não em paz no futuro. Fiz a pergunta por que não percebi nenhuma lição aprendida pelo ser humano com guerras e fico na espectativa se dessa vez aprenderemos alguma coisa. Dos pontos acima que o leitor Riva comentou o principal é aprender a não jogar lixo nas urnas. Já seria um bom começo.

Jorge Carrano disse...


Como mencionado, Anônimos se justificam em alguns poucos casos. Mas precisam se identificar junto ao blog manager que garantirá sigilo absoluto.

Riva disse...

Acabei de assistir uma mensagem super infeliz do nosso Comandante em Chefe em cadeia nacional na TV .... está muito mal assessorado.

Fui ali me enforcar .....

Jorge Carrano disse...


Wuem não assistiu ao pronunciamento citado pelo Riva, poderá faze-lo agora utilizando o link a seguir, que precisa ser selecionado e colado na barra do navegador (tem a íntegra):

https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/03/24/bolsonaro-pede-na-tv-volta-a-normalidade-e-fim-do-confinamento-em-massa.ghtml

Riva zonzo disse...

Uma explicação : classifiquei de INFELIZ pela forma como foi falada, agressiva, desrespeitosa, com soberba, etc ... mesmo dando um desconto de como as viúvas do Haddad o têm agredido covardemente.

Seu conteúdo é bem discutível .... as 2 opções matam, é verdade. Há que se fazer a escolha certa ou buscar um equilíbrio entre ambas, se é que isso é possível.

Não sou infectologista, espero que esse tema não esteja sendo politizado, nem que essa classe esteja sendo aparelhada. Eu na minha ignorância no assunto, fico assustado com essas opiniões diametralmente opostas sobre o que é melhor para todos.

Estamos ficando zonzos ! No Twitter coloquei a seguinte mensagem ontem, após o início do intenso tiroteio em cima do presidente após a mensagem :

"Subam para as montanhas mais altas, para fugir do mega tsunami de merda que vem aí."

Comenta aí, caro Anônimo. Não desapareça.

Riva disse...

Encaminhando da Mídia Social

Quer ficar em casa?

Você quer quarentena, ficar em casa? Mas exige um frentista e posto de combustível aberto!
Você quer ficar em casa? Mas exige o mercado aberto com atendentes, senão você surta!
Quer ficar em casa? Mas quer que o porteiro do seu prédio e o zelador estejam trabalhando!
Quer ficar em casa? Mas precisa de dinheiro e quer que o bancário esteja no banco pra resolver seu problema! Quer ficar em casa? Mas tem motoristas e cobradores de ônibus trabalhando pra transportar quem precisa de transporte!
Quer ficar em casa? Mas o farmacêutico e balconista tem que estar lá pra te servir né!
Quer comprar pão? A padaria tem que tá aberta né?
Quer ficar em casa? Claro, mas Deus o livre se o caminhoneiro parar né!
Em casa sim, mas a coleta de lixo tem que estar em dia pelos garis!

Quer ficar em casa?
A vida dos outros vale menos que a sua?
Por quê eles são obrigados a trabalhar para seu conforto mesmo num momento desse, e vc não?

Isolamento social sim, mas pra grupos de riscos, claro!
Precauções conscientes sim de todos!!!

Não reclame depois que a economia estiver afundada e você ser demitido para reduzir gastos da empresa.
Foi vc quem optou por isso, fez baderna, bateu panela e foi a favor de tudo isso!

E não culpe os outros pois avisado foi!!!

Riva Zonzo disse...

Continuando .....
Sobre o atual momento do Brasil

“A quarentena é certo? É!
A quarentena é errado? É!

Bolsonaro está certo? Está!
Bolsonaro está errado? Está!

É fácil defender a quarentena em uma casa confortável, com TV, PC, armário cheio, sabendo que se não trabalhar vai haver salário.

É difícil defender quarentena quando o armário já está vazio e que se não trabalhar não tem salário, trabalha de manhã pra comer de noite e o filho tá pedindo comida.

Os médicos veem o lado da saúde: quarentena.

Os economistas veem como manter os insumos para os médicos: economia.

Os líderes veem a moral e o bem estar emocional: calma, é só uma gripe ( para 80, 90% que pega).

A mídia vê o interesse de quem paga: histeria, distorções, pânico.

Cabe a nós o bom senso, a honestidade e o apartidarismo.

Opiniões rasas no conforto é fácil.

Entender que NENHUMA ação tomada vai ser simples, é difícil.

Temos que pensar que toda decisão tem pontos positivos e negativos.

Não sejamos simplistas.

Não adianta falar que tem que seguir a quarentena a todo custo, e não falar sobre os danos pós quarentena onde vai morrer gente por falta de dinheiro pra saúde em geral, aumento da criminalidade, de fome, de depressão e suicídio

Em poucos dias os serviços essenciais não terao condições de continuar a funcionar sem os nao essenciais.

A empresa que produz álcool em gel precisa da empresa de plástico que produz a garrafinha.

Sabe os delivery? Já já vão precisar das embalagens de papelão.

Caminhoneiros com materiais de hospitais precisam de restaurantes, oficinas, borracharias.

E todas esses empresas precisam de outras...

Tem que haver prevenção aos grupos de risco e tem que haver o andar da economia.

Uma coisa depende da outra. Tudo tem ligação. É uma cadeia.

Ou chegamos ao consenso ou vamos igualmente sucumbir."

Jorge Carrano disse...


Não gosto de misturar e evito tratar aqui de assuntos profissionais. Sim, é verdade, critico muito o Judiciário. Critico bastante alguns ministros do STF, enfim trato de meu ramo de atuação profissional, mas não menciono casos pessoais que me são submetidos por duas razões. A principal delas é a ética.

Mas na esteira dos comentários do Riva vou fazer considerações sobre casos específicos, pontuais e reais.

Como a maioria não sabe, atuo principalmente na área imobiliária, o que inclui condomínios.

Por e-mail e WatsApp tenho atendido, desde de casa, consultas de clientes. E neste momento de crise, de incertezas, fico estupefato como algumas pessoas só olham para seus umbigos, só se preocupam com suas conveniências e interesses.

Vou tentar dar exemplos, claro sem falar dos santos, apenas dos milagres.

Liga uma síndica de condomínio misto, ou seja, composto de unidades habitacionais e lojas na galeria no pavimento térreo.

Um dos locatários, que acaba de ocupar uma das lojas, agora em fevereiro, encaminhou um pleito no sentido de que pudesse ficar dois ou três meses sem pagar ao alugueres em face da proibição de funcionamento de seu negócio, que não esta relacionado entre as exceções.

Ora, ele não terá receita, certamente, nos próximos dias, ou muitos dias.

A síndica me consulta e explico que estamos claramente diante da Teoria da Imprevisão, o que pode resultar em desrespeito ao princípio do “pacta sunt servanda”, que em tradução livre quer dizer que os compromissos livremente assumidos devem ser cumpridos.

Não gostou de minha resposta, que foi no sentido de acolhimento do pleito do lojista, sob considerar que sem aquele aluguel o orçamento do condomínio não fecha e ela tem compromissos a saldar.

Ora, e o dele fechará? Sem sequer poder abrir seu estabelecimento? Ora, o Condomínio tem alternativas; em geral têm fundo de reserva e contam ainda com um recurso previsto nas normas legais, que é convocar AGE e aprovar uma taxa extraordinária, por curto período.

O momento, penso eu, é de salvar os dedos e desapegar dos anéis.

Não estou contando, claro, com socorros governamentais como prorrogação ou suspensão de prazos para pagamento de taxas e impostos, despesas com as concessionárias de água, energia e gás, etc.

O outro caso diz respeito a uma imobiliária que antevê queda no faturamento. Deverá ocorrer mesmo porque as administradoras de imóveis cobram dos proprietários/locadores, como regra geral, 10% dos valores dos alugueres que recebem em nome destes.

Ora (de novo), trata-se de uma atividade de risco. Se o locatário não paga o aluguel (por causa da crise econômica) será legítimo exigir do cliente/locador, que pague à imobiliária a comissão mensal pela gestão do imóvel?

É possível que tenhamos um efeito dominó, inadimplência em cascata atingindo de uma ponta a outra.

O que tenho ressaltado é que o salário, por seu caráter alimentar, tem que ser pago. Salvo uma negociação coletiva ou individual.

Vou parar por aqui, não obstante outras situações nas quais estou envolvido profissionalmente serem bizarras e esdrúxulas porque o GE não é um consultório e não quero aborrece-los mais ainda, além do que já estão vivendo cada qual na sua dimensão.

Riva Zonzo disse...

Não posso mencionar nomes, mas dois dos nossos locatários já enviaram mensagens, um deles solicitando 50% de desconto no aluguel e outro simplesmente não pagar o aluguel desse mês. Estou falando de valores altos, tipo 25K mensais.

Não abrimos mão do pagamento das Taxas Prediais (Condomínio), inegociável.

Quanto aos aluguéis, não daremos desconto. Podemos e devemos sim negociar um percentual do valor total do mês para não se pagar integralmente, mas o saldo constituirá dívida. E tudo isso documentado através de um Aditivo Contratual.

Inevitável sentar e negociar com razoabilidade, para AMBOS os lados. Afinal, é uma cadeia de elos, sistêmica.

Jorge Carrano disse...


Vamos clamar por Aristóteles.

Analisemos. Um, o presidente, quer as criança nas escolas; outros, os governadores, as querem em casa.

E aí?

Crianças nas escolas implica na presença, também, de professoras e professores. Merendeiras, auxiliares de limpeza e segurança. Transporte coletivo, pois nem todos estudam próximo de suas residências.

Quando regressam aos seus leres as crianças poderão ser portadoras (vetores) do vírus e contaminar a família?

Por outro lado se suas resistências e imunidades são maiores, e ficarem em casa, onde nem sempre as condições de convivência social são adequadas (não tem só classe média) as colocam em risco, pode ser absolutamente inadequado. Além do atraso no aprendizado.

O que fazer?

Algumas situações exigem intervenções cirúrgicas, tipo margem de erro zero. Por exemplo o controle cambial. O dólar em patamares nunca alcançados põe em conflito interesses de exportadores e impostadores. Como deve o governo conduzir a política cambial? Promove leilões da moeda? Deixa flutuar livremente?

Gente capaz tecnicamente, humanamente equilibrada e despida de interesses escusos e inconfessáveis são raridade.

Segundo Millôr, o ser humano não deu certo. Casos isolados, pontos fora da curva, só servem para validar a regra.

Riva Zonzo disse...

O ponto principal dessa opção de "afrouxar" o distanciamento social é preservar os idosos, que pertencem ao principal grupo de risco.

Como fazer isso ?
Isolamento dos idosos - ficarem em casa, e cada família tem que saber como não se aproximar deles durante o isolamento.

A sociedade - todos nós - temos que saber/aprender a cuidar dos nossos idosos nesse momento, e aproveitar para que assim seja para sempre (cuidar bem). Eles nos criaram, cuidaram e educaram !!

Começo a perceber que a ficha está caindo aos poucos, em relação ao conteúdo da mensagem do presidente ontem.

Jorge Carrano disse...


Deus te ouça, Riva!

Na qualidade de idoso (completarei 80 em 21 de abril próximo), espero que vingue a necessidade de preservar os idosos, tese defendida por você.

Não preservar como fazem com o mico-leão e a baleia, para preservação e perpetuação da especie, porque neste item já demos o que tínhamos que dar (rsrsrs).

Mas com o objetivo de transmitir saber e sabedoria, de sugerir, de servir de espeque, de orientar.

Jorge Carrano disse...


Prezado Riva,

Já que ficamos apenas os dois qui dialogando, antes de desligar para o banho e o descanso da cuca, deixo aqui um ditado, creio que de origem popular:

"Nenhuma corrente é mais forte que o seu elo mais fraco".

Boa noite!