12 de novembro de 2019

Saborizado artificialmente


Você compra, conscientemente, ou seja, sabendo, que um determinado sorvete é saborizado artificialmente? Mas não sabendo é capaz até de enaltecer  a presença do morango no sorvete.

Olha qui. Um quilo de carne de segunda pode custar entre R$ 15,00 e R$ 18,00, não pode? Mas o quilo da salsicha, feita com - sabidamente - carne de segunda pode custar um terço deste valor o quilo. Como pode ser? Mas compramos a salsicha porque não sabemos com ela é feita.


Você é capaz de comprar gato por lebre, como no ditado popular ou, na vida real, comer espetinho de gato? Sim, é! Isto porque o que os olhos não veem o coração não sente.

Assim era e deveria continuar sendo no futebol.

A inteligência artificial, tida e havida nos dias atuais como passo gigante não me entusiasma, se planejada para todos os fins. Exemplo? Ficar fora do alcance e controle do homem. Algorítimo ... 

Afinal a falibilidade é ou não inerente ao homem?

Há muitos anos, mais precisamente em 1963, numa mesa-redonda sobre futebol, chamada, salvo engano, de "Grande resenha Facit", Nelson Rodrigues decretou que o video-tape era burro.

Fico imaginando nosso maior dramaturgo, apaixonado comentarista de futebol, tendo que suportar o tal do VAR.

Num determinado jogo foi suscitada a dúvida do impedimento, o VAR confirmou a irregularidade do gol, após quase cinco minutos de verificação das imagens, com recursos ultra super tecnológicas.

Exibidas as imagens oficiais, do tal do VAR, verificamos que havia uma diferença desprezível que colocava o jogador em posição ilegal. O chamado, se me permitem a vulgaridade do termo, pentelésimo de milímetro de diferença.

Condenar o árbitro auxiliar (bandeirinha) por não assinalar seria um julgamento injusto. Era impossível determinar que o ombro estivesse a míseros milímetros a frente da cabeça do defensor adversário, acompanhando a jogada desde o nascedouro, ou seja, o penúltimo toque na bola, em velocidade real.

Mas pergunto. Você acha que foi feita justiça? Que a torcida comemorar, como aconteceu, a anulação do gol, e a adversária cujo time marcara o gol ficar frustrada e ter que engolir o grito de gol? O momento do gol e  o momento em que uma máquina valida o gol, tornaram o futebol mais justo? 

E a emoção onde entra nesta história? O gol era antológico para quem o marcara, iria para suas lembranças inesquecíveis e também dos torcedores de seu clube. Afinal ele se superara e contrariando sua falta de arte realizara uma jogada de pura genialidade.

A torcida já gritara e já esgotara seus rojões. Já desfraldara as bandeiras. E aí? Vai virar meme no dia seguinte.

O zagueiro que falhara na jogada, estando mal posicionado e não se antecipando, terá sua falha ignorada, passará desapercebida. Por milímetros desprezíveis. Três virgula noventa e nove por cento é mais significativo do que quatro por cento? É mais preciso para que finalidade?

Se fosse uma nota de corte para reprovação, eliminar quem conseguiu 3,99% é mais legal, é mais justo, do que arredondar e considerar  o candidato aprovado? Um centésimo pode alterar, para o bem e para o mal a vida de alguém. 

Uma calculadora poderá, ou não, fazer o arredondamento? Deve trabalhar com quantas casas decimais?

De minha parte acho que o futebol perdeu em humanidade e não ganha, necessariamente, em legalidade. Por que? Simples; a localização da linha virtual do impedimento é colocada na máquina por um humano e nem sempre ele é fiel a realidade dos fatos.

Um frame para a frente colocaria o atacante em posição legal porque a passada do defensor era maior e na hora do passe ele - atacante -  estaria atrás da linha.

Sou e continuarei crítico desta modernidade que em nada contribui para a emoção e prazer do futebol.

Viva a pelada, o futebol de várzea, sem impedimento e muitas veze sem juiz.

Em lance interpretativo continuará havendo "injustiças".


Notas:
Pentelhésimo 
https://www.dicionarioinformal.com.br/pentelh%C3%A9simo/

O videotape é burro (Nelson Rodrigues)
https://jornalggn.com.br/noticia/nelson-rodrigues-o-video-tape-e-burro/

Frame : fotograma, quadro, em imagens.

4 comentários:

Jorge Carrano disse...


O VAR e a camisinha (preservativo) são dois tira tesão.

Riva disse...

Insisto ..... acabem com saporra de impedimento em futebol.

Não tem no racha de rua, na praia, no salão, no society, na várzea, em lugar nenhum !! Só existe pra estragar o futebol profissional, e bancar VAR, bandeirinhas, e comentaristas.

Cada um que se vire pra marcar quem estiver adiantado.

CHEGA DESSAPORRA !!

Incógnita disse...

O futebol envolve, atualmente, muito dinheiro. Por isso exigem precisão.
Quanto ao resto, o esporte bretão (como você gosta de falar) não é mais o mesmo faz tempo.

Jorge Carrano disse...


Estão me afastando do futebol, pela ordem:

1 - A introdução do VAR;
2 - A péssima fase do Vasco da Gama;
3 - A péssima fase do Arsenal.

Não há quem aguente o tal do VAR, cuja decisão nem sempre é isenta e próxima da verdade. Basta que o lance seja de mera interpretação. Mão na bola ou bola na mão? Esbarrou ou empurrou?

Na Premier League, havia um sistema que validava, ou não, o gol, em fração de segundo. Era um chip que acusava se a bola havia transposto a linha do gol. Simples assim, e estamos conversados.