Nova chance

Vamos supor que Deus existe. Pode ser?

Temos uma constatação: o ser humano não deu certo. Certo?

Espere um minuto, pois preciso estabelecer outra premissa. Ele – Deus - existe e sobrevive. Está a salvo de fenômenos naturais, como terremotos, maremotos, vulcões, tsunamis, que criou não sei com que finalidade

Está livre, também e principalmente, de balas perdidas, de serial killers; certamente não foi acometido por câncer, não fez AVC, nem infarto.

Em síntese, está vivo e lúcido, senhor de suas funções cognitivas. Teria muita coisa a nos explicar não fora a máxima de que "os desígnios de Deus são vedados a compreensão humana".

Tipo "O Processo", de Kafka. Tal comparação só faz sentido em minha cabeça.

Se ele tem autocritica, deve admitir que errou no projeto homem. Ou no esboço inicial do homem, ainda enquanto um primata. Alguém me adverte que o homem evoluiu de animal das águas, provavelmente tubarão, que tem mandíbulas e estrutura óssea. Ou do eventual macaco aquático.

Sim, estou misturando a teoria evolucionista com a criacionista. Elas são excludentes? Penso que não.

Os protótipos – Adão e Eva – já não deram certo. Prevaricaram. Os irmãos - Abel e Caim -  também tiveram suas rusgas, seus entreveros e a briga resultou em assassinato.

Ele tentou, de novo, repovoar o mundo com serem selecionados, provocou aquela inundação, aquele dilúvio,  e acreditou nas ações de Noé. Novo fracasso. Noé acolheu cobras e lagartos, inclusive no sentido figurado.

O mico-leão-dourado, em extinção, pode ter sua espécie perpetuada, preservada, a partir de matrizes que vivem em cativeiro, devidamente protegidos em reservas ambientais. Habitats naturais.

O homem, homo sapiens, não terá a mesma sorte. A impossibilidade está em ser impossível obter matrizes perfeitas: não existem homens física e mentalmente saudáveis, com valores éticos e morais insuspeitáveis. Para dar início a nova geração de seres humanos. Quem sabe, talvez, biônicos sejam possíveis.

Logo, a tarefa voltaria para Deus, se a ideia fosse preservar o bicho homem. Partir de protótipos como chimpanzés levaríamos outros milhares de anos para chegarmos ao estágio em que hoje nos encontramos.

Agora com recursos como inteligência artificial, algoritmos, exames de imagem, testes holográficos, quem sabe modificações genéticas, transgênicos, próteses e outras invenções/criações deste mesmo “homem” que dizemos não haver dado certo, quem sabe Deus aperfeiçoaria sua criação?

Deixo no ar uma indagação. Este homem que não deu certo, segundo alguns respeitáveis pensadores, humoristas, agnósticos e assemelhados, se origina da mesma cepa que concebeu e construiu o Canal da Mancha? Da mesma casta que colocou em órbita uma estação espacial, e desenvolveu foguetes que fazem percurso de ida e volta? Que criou os smartphones, sem os quais não se consegue fazer compras, acessar a conta bancária, mandar fotos e textos para os amigos, assistir programa de TV e até falar com outra pessoa a distância?

Foi assim - falar a distância - que o Alexander começou, com a criação da  Companhia Telefônica Bell. 

Deus começou com um Paraíso, e um casal  ingênuo e curioso, que entendia a língua da cobra e foi induzido a comer a maçã.

Concluo que, sem a maçã, não estaria aqui e agora cometendo estas mal traçadas linhas.

Sorry periferia, como diria o cronista mundano.

Deus poderia, para seu projeto dar certo: não ter criado a cobra ou, alternativamente, ter criado a camisa de vênus.