18 de julho de 2019

MADAME BOVARY e outras histórias de amor bandido



Na estante de nossa casa tinha uns poucos livros proscritos. Mamãe ficava de olho, policiando nosso acesso.

Certa feita ouvi-a criticando papai por mante-los a vista. Não eram muitos e nem eram obscenos, mas na época estes cuidados eram exagerados.

Um deles era "O Cortiço", do  Aluísio Azevedo. Outro era "Madame Bovary". Tinha alguns poucos mais, mas nem me lembro quais.

Nada comparado a "Cinquenta tons de cinza", recente sucesso literário, best-seller lido por 9 entre 10 mulheres descoladas e por 10 entre 10 mulheres recatadas, pudicas.

Ou semelhantes ao modelo "Lolita", do Nabokov, citado ad nauseam, tido e havido como marcante no gênero.

Flaubert, embora absolvido, foi levado aos tribunais por sua obra. Trata abertamente de traição, adultério, que na época, num romance, eram temas proibidos.

Foi taxado de imoral. Assim como nosso Nelson Rodrigues. Entretanto a obra de ambos permanece viva, atual, reedita, filmada e encenada.

Não, não estou comparando, nem poderia.

Gustave Flaubert é reputado como mestre na estruturação do enredo, na precisão e detalhes narrativos, na fina ironia, no uso do vocabulário.

Não por outro motivo consta que levou cinco anos escrevendo o citado romance, que só consegui ler quando já estudante secundarista, pegando-o na Biblioteca Estadual, na Praça da República, defronte ao Liceu Nilo Peçanha, onde estudava.

Seus livros marcam uma ruptura com o romantismo em voga no século XIX.

Nosso dramaturgo tupiniquim tem, claro,  um estilo muito próprio, inconfundível na língua portuguesa. Se eu ouvir umas poucas falas, ou ler algumas poucas linhas,  sou capaz de identificar se o texto é do Nelson Rodrigues.

Mas longe de mim compara-los. Cada qual com sua genialidade. 

Quem assina o Netflix tem a oportunidade de assistir ao filme "Madame Bovary". Recomendaria sem restrições. A fotografia é magnífica, e as cenas de nudez e sexo são muito leves, sutis.

Aquele tipo de bosque, e aquela espécie de matilha, tive a oportunidade de conhecer no Vale do Loir. 



Não me perguntem a razão, mas comparo a jovem  e bela Emma, senhora Bovary, com Séverine, a jovem rica e infeliz de "Belle de Jour".

4 comentários:

Jorge Carrano disse...


Bem, tem aquela máxima: o livro é sempre melhor do que o filme.

Riva disse...

Confesso que apesar de existir uma pequena biblioteca na casa dos meus pais, desconhecia quaisquer livros proscritos.

O único que lembro de, garoto ainda, entrar lá e ler tipo escondido, era um sobre "funções sexuais" .... nossos pais nunca conversaram comigo sobre o tema. Tudo surgiu através de amigos e revistinhas do Zéfiro.

A iniciação sexual da minha geração deve ter sida toda com o mestre Zéfiro ! rsrsrsrs ... e quando surgiram aquelas revistinhas coloridas suecas ....foi uma loucura !

Por que estou escrevendo sobre isso ??

Jorge Carrano disse...


Depois da morte de meu pai, a estante continuou lá em casa, e minha irmã, ávida leitora ficou com os livros.

Tínhamos a coleção de Stefan Zweig, incluindo "Brasil, pais do futuro".

Que futuro, cara pálida?

Riva disse...

Nossa pequena biblioteca era muito boa. Com a cegueira da minha mãe, meu pai passou a ler toneladas de livros para ela - que gostava muito das aventuras do James Bond.

Sensacional também era uma coleção da SELEÇÕES READERS DIGEST só dos anos da 2ª Guerra Mundial. Infelizmente foi 100% devorada por cupins .... uma perda !