24 de abril de 2016

RETROVISOR


Estou para ver alguém tão sem palavra, tão sem comprometimento com a verdade e sem propósitos definidos do que eu.

Ainda nem teria secado a tinta (se estivéssemos nos primórdios das penas de ganso e canetas tinteiro) do que escrevi noutro dia, volto ao passado, olhando pelo retrovisor.

Mas faço-o por uma boa e inadiável causa. Neste mês de abril fiz referência ao meu pai, nascido sob o signo de Áries. Escrevi a guisa de homenagem e não destaquei uma dos vieses mais importantes de seu pensamento, de seus projetos de vida.

A preocupação com educação (lato sensu), mas especialmente a formal adquirida nos bancos escolares e universitários. Era para ele o maior patrimônio que um pai pode deixar para um filho.

Se vivo fosse, tendo um neto DOUTOR, titulo acadêmico conquistado com méritos, e ademais professor universitário, e estaria soprando trombeta a fim de atrair publico, e como um arauto medieval proclamar aos quatro ventos: meu neto é doutor!

Este detalhe (importante) de sua visão paterna foi salientada num e-mail que recebi faz tempo, de um amigo de infância, ao qual não fiz suficiente justiça (mas farei), pela parceria, pela amizade, pelas experiências que vivemos.

Este amigo se chama Doraly José do Canto. E seu e-mail era uma resposta esclarecedora sobre por onde havia andado durante anos em que andou sumido. Perdemos-nos nos labirintos da vida. Mas como disse ainda escreverei sobre parte de nossa juventude/adolescência. Já quebrei mesmo a jura de quebrar o retrovisor (rsrsrs).

Eis, na íntegra, o e-mail que conservo na pasta "PESSOAL" de meu programa de mensagens eletrônicas. O destaque é para o trecho que ele comenta uma conversa nossa com meu pai.



"Bom dia!

Mais uma vez planejei (sonhei!) fazer uma coisa e aconteceu(!) outra, não lembro sobre o Lit's cooks, provavelmente era emprego em um dos navios que faziam rotas turísticas entre USA e Bahamas que foi uma das tentativas em viajar e conhecer lugares paradisíacos, e ainda ganhando dinheiro (não acreditava ser possível como turista).

Meu 1º trabalho foi fazendo faxina noturna em supermercado, e urbanização (fazendo muros, calçadas, replantando arvores, cortando gramas, etc...), como  a alimentação era muito cara e pelo volume de trabalho tinha de comer muito e bem, migrei para trabalhar em restaurante lavador de panelas e ajudante de garçom o dinheiro era razoável, mas, a comida era farta, ai cheguei à profissional, tanto na área de Preps (preparador dos alimentos para os cozinheiros), como saladeiro e como cozinheiro propriamente dito na área  de frituras e padaria.

Quando da 1ª viagem fui de trem da cidade do México até (Ciudad Juárez) divisa USA (El Paso-Texas) dai de trem novamente até Los Angeles-Califórnia aí por 8 meses (fiz turismo  trabalhava durante a semana e curtia aos finais (Disneyland, Beverly Hills, Santa Monica, Pasadena, Bush Garden, San Bernardino, Las Vegas e Hawai). em outro momento (foram 3 anos) após retorno ao Brasil já com a Geralda, morando no ES, pelas contigências, do plano Cruzado (Funaro, trabalhava vendendo e a empresa não entregava por conseguinte não recebia, após 3 meses acabou a reserva), preparei as malas e fui novamente para os USA, agora para Massachussets (Boston, Framingham, Marlboro, Hudson, Worcester, Clinton), New Hampshire (Nashua), New York, (Long Island, Blooklyn).

Carrano, você sabe que nas minhas reflexões, lembro claramente quando seu pai mandou me chamar para ir a sua casa e nos sentou juntos, e nos chamou a responsabilidade, porque você tinha tirado uma nota ruim, não lembro a matéria, e disse que se queríamos sair juntos deveríamos também estudar juntos e tirar boas notas!!!!

Minha mãe era analfabeta e meu pai semi e era envolvido com o trabalho e com objetivo de acumular dinheiro, escola não era importante, já sabia as 4 operações e escrever o suficiente para se fazer entender e a partir daí tinha de objetivar montar um comércio (preferência boteco-Cachaça e café davam lucro de mais de 100% ).

Meu objetivo com relação à Marinha (não precisar pagar escola, ficar longe da família e viajar conhecer  lugares), Lembro também de nossas viagens, e acima de tudo lembro de sua mãe dona Edith, que me tratava com tanto carinho era o meu sonho de mãe.

O tempo que estivemos juntos foi muito importante (a esta altura podemos dizer que foram poucos), mas, muito importante,  porque convivi com alguém de personalidade forte, porque convivi com uma família no cerne da palavra, que foi muito importante quando tive de sobreviver.

"A graça do Senhor Jesus Cristo seja com seu espirito" Fl.4.23
Doraly 


O autor e seu amigo, em Saquarema

3 comentários:

Riva disse...

Demais ..... se quiserem andar juntos, que o façam com o estudo também .... #simplesassim

Lembro de já ter mencionado (acho), mas minha sogra se chamava Edith ... uma pessoa mega especial, que nos deixou muito cedo, na mesma idade e época que meu pai, ambos com 63 anos. Ela nos deixou em setembro e meu pai em novembro do mesmo ano, 1982.

Saudade imensa !

Fui ali pra não chorar.

Jorge Carrano disse...

Tentei, Riva, escrever algo sobre o Doraly, para deixar o registro de nossa amizade.

Foram tantos os sonhos e planos que compartilhamos. Tantas as aventuras bem-sucedidas e outras nem tanto. Horas de conversa.

Foi muito difícil explicitar passagens, casos, situações daqueles tempos.

Confesso meu receio de suscitar um ou outro fato intempestivo; enfatizar alguns aspectos do perfil do Doraly que conheci.

Temo que algumas coisas (carnaval, jogo nas patas de cavalo, por exemplo) do passado, sejam incompatíveis com a fé religiosa que ele agora mantém viva.

Tem fato um que não omitirei, e nem precisa de tortura: ele era muito fá da Sapoti, a cantora Angel Maria, que surgia com força no cenário artístico.

Babalú!!!

PS: minha mãe tratava meus amiguinhos - desde os bancos do primário - de maneira tão atenciosa que não houve um que não a admirasse e respeitasse.

Ana Maria disse...

Fomos abençoados por termos nascido na nesta família.