13 de fevereiro de 2015

O rabo abanando o cachorro

Recebi um e-mail com o texto a seguir, cuja autoria é atribuída ao desembargador Pedro Valls Feu Rosa, do Tribunal de Justiça do Estado do Espirito Santo.

Acho que vale a pena repercutir.

O rabo está abanando o cachorro!
 “José foi assaltado. Levaram o carro dele. Ao chegar em casa de táxi, ele imediatamente assumiu a culpa pelo roubo: “eu dei bobeira, não deveria ter parado naquele semáforo”.

Maria foi estuprada, e quase morreu. Ao prestar depoimento, ela deixou bem clara sua responsabilidade pelo episódio: “eu vacilei, não deveria ter ido comprar pão sozinha”.
Um ladrão arrancou o telefone celular das mãos de João enquanto ele atendia uma ligação. Ele – o João, e não o ladrão – assumiu total culpa pelo crime: “eu não sei onde estava com a cabeça quando fui atender uma ligação no meio da rua”.

 Maria foi morta durante um assalto. Ela gritou e acabou levando um tiro. Por ocasião de seu enterro, Maria foi condenada por todos os presentes: “que estupidez dela ter gritado, todo mundo sabe que durante um assalto o melhor é ficar em silêncio”.
Mário, um dedicado Policial Militar, foi morto a tiros por traficantes do morro no qual morava. Seus familiares, entrevistados por um jornalista, o recriminaram duramente: “ele sempre foi cabeça-dura, nunca quis esconder a farda quando voltava para casa”.

No mesmo morro Paulo, um líder comunitário, foi esfaqueado até a morte pelos mesmos traficantes. Seus amigos o criticaram ferozmente: “que falta de juízo, procurar a Polícia para denunciar que o crime estava dominando o morro”.
Marcos teve sua loja assaltada, e quase levou um tiro. Seus empregados reclamaram dele: “que estupidez, deixar aquele monte de mercadoria exposta na vitrina”. Marcos passou a deixar tudo trancado em um cofre. Mas a loja foi assaltada de novo, e um de seus funcionários, após quase levar um tiro por ter demorado a abrir o cofre, agrediu-o violentamente: “seu miserável, fica trancando tudo, mais preocupado com as mercadorias do que com a gente, e quase levamos um tiro por sua causa”.
Carlos estava jantando com sua namorada em um movimentado restaurante quando uma quadrilha armada saqueou todos os clientes. Seu futuro sogro não gostou: “este rapaz é um irresponsável, ele sabe muito bem que não estamos em época de ficar bestando por aí, jantando fora, e acabou passando por um assalto e traumatizando minha filha”.
Joel entrou em um subúrbio com o caminhão da empresa para entregar pacotes de biscoito nos bares de lá. Após ter tido os produtos e o caminhão roubados, e quase ter sido morto, foi despedido por seu chefe: “que sujeito burro, ir com o caminhão lá naquele bairro sem pedir licença para o líder do tráfico local”.
Patrícia viajou a negócios. Desembarcou no aeroporto com seu “notebook” e tomou um táxi. Não conseguiu andar dois quarteirões – foi assaltada em um semáforo. Na empresa, foi imediatamente repreendida: “você não poderia ter desembarcado sem antes esconder o “notebook”, deste jeito você pediu para ser assaltada”.
E é assim, de exemplo em exemplo, todos já parte do nosso cotidiano, que vamos chegando a uma verdadeira “rotina do absurdo”.  Aqui no Brasil é tão normal um cidadão ter medo de andar pelas ruas, é tão comum um policial ter que esconder sua profissão para não morrer, é tão usual pessoas terem que pedir permissão a traficantes para subir em morros e é tão rotineiro abrir-se mão da cidadania mais básica que já não causa surpresa as vítimas estarem se transformando em culpadas pelos crimes.
Diante desta tenebrosa realidade, patrocinada pela fraqueza e falta de firmeza das nossas instituições, talvez  já não nos cause surpresa ver um rabo abanando um cachorro.

                Pedro Valls Feu Rosa


Quer dizer que nós somos os culpados pelos bandidos nos atemorizarem? Afinal de quem é a culpa de termos chegado a estes absurdos? O que iremos fazer para mudar este estado de terror? Continuar votando em quem não nos protege ou reagir ante tamanho despropósito e nos comportando como um povo que não sabe se valorizar? O complexo de vira-latas é um problema nacional; tá na hora de mudar. 


Nota do editor: Ver matéria em http://tribunaempresarial.no.comunidades.net/index.php?pagina=1728110714 

8 comentários:

Freddy disse...

Não faz tanto tempo assim, ao criticar as primeiras grades protegendo portarias de edifícios, alguém me disse (e na época eu não acreditei):
"-Vai chegar o dia em que nós, cidadãos do bem, estaremos dentro de grades, presos, e os ladrões circulando livremente pelas ruas."

Santa inocência a minha: já vivemos isso hoje...
=8-/
Freddy

Riva disse...

Estamos em guerra, e enquanto não forem utilizadas táticas e estratégias de guerra para abafar o mal, a tendência é o rabo ficar cada vez mais abusado.

Mas essas estratégias só podem ser utilizadas por quem tem apoio e credibilidade com a população, para costurar as alianças necessárias. Como fez Giuliani em NY.

Precisa continuar ?

Estamos sós ...

Riva disse...

http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/02/bjustica-hipoteca-sede-da-petrobrasb-para-evitar-calote-bilionario-da-estatal.html

.... está feia a coisa !

Jorge Carrano disse...

Só ficará menos feia quando Dilma for apeada do poder, Lula for preso, a credibilidade do pais melhorar na comunidade internacional e internamente também ficarmos mais otimistas.

Freddy disse...

Continuo abismado pela blindagem do Lula e da Dilma no meio desse tiroteio todo. Começo a temer pelo pior, que é a oposição ser comprada a peso de ouro e o Brasil descer a ladeira, tornando-se a maior republiqueta do 3º mundo...

Riva disse...

Sobre blindagens e outras abordagens :

http://oglobo.globo.com/brasil/ministro-da-justica-recebeu-advogados-da-odebrecht-em-seu-gabinete-15341511

(pano longo)

Riva disse...

Tiroteio essa madrugada no Centro Histórico de Paraty, com o bloco de Carnaval principal da cidade. Mais de 10 baleados .....

Não resta a menor dúvida : Brasil está numa merda total, dominado pelo mal, pela escrotidão.

Freddy disse...

Quantas malas eles levavam na mão??
=8-(
Freddy