18 de novembro de 2010

Mico

Segundo o Aurélio, a palavra mico desígna uma espécie de primatas. Quando, porém, utilizamos a expressão “pagar mico”, no sentido popular (gíria) tem a significação de colocar-se em situação embaraçosa ou vexatória.

Já paguei alguns micos na minha vida, uns mais vexatórios. Outros mais engraçados.

Hoje lembrei de um, ocorrido em São Paulo, quando lá morei há já lá se vão 30 anos.

E lembrei porque ouvi um CD do Billy Eckstine, band leader e cantor de grande prestígio no passado.

A historia foi assim: estava há pouco tempo em São Paulo, que era o Eldorado para jovens executivos, nos anos 1960/1970. Là estavam as grandes empresas e, por conta disto, as melhores oportunidades de emprego.

Antes de mim, o amigo Castelar, profissional do ramo publicitário, já havia mudado de mala e cuia para aquela cidade.

Quando cheguei, ele se desdobrou em facilitar minha adaptação naquela selva de concreto que não tinha sol, nem calor, tampouco humano.

Um dia ele telefona e convida para um chope ao final da tarde, pois ele estaria recepcionando um amigo, com quem trabalhara numa agência de publicidade no Rio de Janeiro, e que estava na cidade a serviço. Disse que eu gostaria muito do Alvinho, que era uma pessoa culta e espirituosa, boa conversa em suma.Para mim seria um prato cheio, pelo isolamento em que vivia. No horário aprazado cheguei ao bar, na Rua Frei Caneca, sugerido pelo Castelar.

- Carrano, este é o Alvinho de quem falei. - Alvinho, o Carrano é meu amigo de longa data e curtimos basicamente as mesmas coisas. Feitas as apresentações, a conversa começou a fluir regada à chopes.

Estávamos fazendo uma sessão “horta da Luzia”, não sobre o que a Luzia perdeu na horta, que todos sabem o que foi, mas da horta da Luzia mesmo, expressão cunhada pelo Ivan Lessa no saudoso O Pasquim, dando-lhe a conotação de memória. E a Horta da Luzia virou sinônimo daquele lugar onde guardamos lembranças insuspeitas, como os comerciais do rádio, músicas marcantes, filmes inesquecíveis. Aqui mesmo neste blog, revirei a horta da luzia, lembrando do programa O Estudante em Foco e das pessoas que o produziam, em especial Esther Maria Lucio Bittencourt.

Voltando a São Paulo e a nossa conversa no bar.

Eu queria fazer alusão a uma música, gravada pelo Billy Eckstine e cadê que a memória funcionava. Não lembrei o nome.

Atalhando a história, corto para as despedidas. E acabou que tanto eu quanto o Alvinho iríamos para a mesma direção. Ele hospedado na Rua das Palmeiras e eu na Avenida São João (morei em hotel por 13 meses, perto da chamada boca do lixo).

E nada de eu lembrar o nome da música. - Prazer em te conhecer. - Meu também. – A gente se esbarra por aí. – Certo!

Estou no banho e subitamente me veio à memória o nome da tal música.

Vou à lista telefônica em busca do número do hotel em que ele estava hospedado, que na época eu sabia (agora já esqueci).

Peço uma linha, no meu hotel, e faço a ligação. Atendida a chamada, digo que queria falar com Alvaro, funcionário da Norton Publicidade lá hospedado. Um breve silêncio e a telefonista informa: não temos nenhum hóspede com este nome. Como não – digo eu – acabei de deixa-lo aí na portaria. Ele é tratado por Alvinho - Um momento, por favor. Outra breve espera e a confimação: não tem nenhum Alvaro, ou mesmo Alvinho, hospedado, mas da Norton tem uma pessoa de nome Carlos Eduardo. Ocorreu- me perguntar ao tal Carlos Eduardo, que certamente conhecia o Alvinho, como falar com ele. Passe, por favor, este Carlos Eduardo, pedi. Ele atende e eu me apresento: meu nome é Jorge Carrano e até uma hora atrás estava com o Alvinho. Agora queria falar com ele e não o estou localizando. Poderia me ajudar? A resposta veio rápida: - Claro, eu sou o alvinho.

A explicação era a seguinte. Ele era muito branco pois não ia à praia. Naquela época, prevalecia a máxima: intelectual não vai à praia, intelectual bebe.

Como era muito branco, ganhou o apelido de Alvinho. E eu paguei meu mico. Bem, a música era Ebb Tide, gravada por muita gente, mas eu gostava da versão com o Billy.

Um comentário:

Jorge Carrano disse...

Jorge Carrano disse...

O Castelar , por e-mail, informou ter deixado um comentário.
Lamentável e inexplicavelmente dito comentário não chegou a este blog. Pedi para que tornasse a enviar, o que não foi possível.
Mas, de novo por mail, ele disse o seguinte:

Amigo,
Como escrevo direto “ao correr da pena”, como costumávamos dizer, não tem jeito.
Mas o que eu fiz foi agradecer a lembrança do alvinho, de quem não sei notícias há muito tempo e que retornou através do seu post.

Abração
castelar

19/11/10 11:50