14 de novembro de 2010

Direita e esquerda

Estou rotulado como sendo de direita porque votei declaradamente no José Serra. Rio muito com os meus botões. Somente pessoas desinformadas, ou ingênuas, poderiam acreditar que o Serra representa a direita e o capitalismo selvagem (que coisa mais démodé).

Alguém, em sã consciência, sendo bem informado e acompanhando, mesmo à distância, a trajetória política do Serra, desde os tempos da UNE, acha que com ele na presidência os bancos teriam ganhado tanto dinheiro, como ganharam com o Henrique Meirelles no BC, com a benção do presidente Lula, que manteve a política econômica do Fernando Henrique?

Redução dos juros, para incentivar o consumo, aumentar o nível de investimentos e, por consequência, gerar empregos foi, desde sempre, idéia fixa do Serra. Por isso, no fundo, os banqueiros não o queriam na presidência. Nem nesta e nem na outra eleição.

O homem que, ministro da saúde, foi alvo da ira da poderosa indústria farmacêutica, pela quebra de patentes de medicamentos contra a AIDS e, pior, embora não tenha sido o mentor dos produtos genéricos, foi quem teve a coragem de pegar na unha e implantar o programa, desafiando, de novo, o poder internacional da indústria de medicamentos, é conservador de direita?
Gente, eu estava do lado de lá do balcão. Era diretor de um laboratório, que embora de pequeno porte, dava-me assento nas reuniões do Sindicato patronal. Por isso sei; ele - Serra - era odiado pelo menos por este segmento da indústria. Posso falar porque vi e ouvi. Eu era, então, por dever funcional e um pouco de convicção, contra os genéricos*. Mudei de idéia quando mudei de lado do balcão, passando a consumidor, apenas.

Quando ficou inevitável, os laboratórios, mesmo os multinacionais, adotaram a estratégia vencedora que é: se não consegue vencer o inimigo, alie-se a eles; e passaram a fabricar genéricos.

Não vou ficar aqui e agora fazendo apologia do Serra, até porque ele não é o homem que eu escolheria para governar o país, se me coubesse a tarefa. E achei medíocre sua campanha.

Neste último pleito, parte da juventude aplaudia o surrado discurso do Plínio de Arruda Sampaio, comunista de carteirinha, figura patética que ainda fala em : suspensão do pagamento da dívida externa e auditoria nas contas. O Plínio não sabe que o país pagou TODA a divida, no governo Lula, e agora tem dinheiro no FMI (aquele mesmo órgão que os estudantes queríamos fora!) . Coitado do Plínio e coitados dos estudantes de agora, tão alienados.

No quartel, na época o 3º Regimento de Infantaria (foi extinto), em São Gonçalo, sob o comando do Sargento, eu marchava no compasso: direita, esquerda, direita, esquerda...

A imagem é pobre, mas assim como no quartel, um passo com a direita e outro com a esquerda é que nos leva ao objetivo (ideal, meta, goal). Países como Peru e Chile, para ficar aqui por perto, comprovam isto. Guardadas as devidas proporções (território, população e riquezas), estão com índices de desenvolvimento (mesmo sociais) melhores do que os nossos.

Se eu sair de casa para ir ao escritório, e tomar sempre à direita, sempre que a alternativa se oferecer, o máximo que conseguirei será dar a volta no quarteirão, e voltar ao ponto de partida.

Assim é na política, à direita e à esquerda, o caminho vai sendo construído e podemos encontrar melhores opções e soluções. Desde que o objetivo do poder não seja o poder, se é que me entendem.

Aos que acham que pretendo ficar em cima do muro, respondo que estarei agarrado ao Aristóteles e sua filosofia de que no meio está a verdade e a luz.

No Brasil ninguém é de esquerda**, no dizer do Gen. Golbery. As pessoas estão na esquerda.

Quando ouço dizerem ou leio que o arquiteto Niemeyer, o escritor e compositor Chico Buarque ou o cartunista Ziraldo, por exemplo, são comunistas, não posso deixar de lembrar do pintor Salvador Dalí, que perpetrou a seguinte definitiva frase a propósito do posicionamento ideológico de Pablo Picasso: pintor como eu, gênio como eu, catalão como eu, e comunista... como eu não sou.

Estive “na esquerda’ e posso voltar, mas nunca fui e nunca serei um vândalo que destrói estufas de pesquisas genéticas (anos de trabalho) ou joga o trator sobre plantações.

Nunca fui, ao tempo de estudante, embora engajado em alguns movimentos (pacíficos), um arruaceiro, bandido, travestido de estudante, como alguns “profissionais”, que com os rostos encobertos e picaretas nas mãos, depredam patrimônio público, como na Universidade de Brasília.

Também desaprovo esses movimentos sindicais truculentos, que nada conquistam de efetivo, e discordo igualmente de uma facção da Igreja, que fez opção pela pobreza e não pelos pobres.

Assim, transitei com independência de idéias e valores, pela direita e pela esquerda.

Encerro com o seguinte comentário, a guisa de ilustração: estive, quando estudante, em um evento no Teatro Municipal de Niterói, que era a favor do movimento castrista em Cuba. Era, então, contrário ao regime de Batista, e hoje sou contra Fidel. O que o povo cubano ganhou com a troca?



*eu concordava que era um absurdo os grandes laboratórios investirem milhões de dólares contratando os melhores cientistas, alguns com prêmio Nobel, para desenvolverem produtos, cujas pesquisas levavam anos, para depois empresários oportunistas, com baixo investimento em suas empresas, poderem fabricar os mesmos medicamentos. Era favorável a patente, ao direito exclusivo de fabricação, até que pudessem ser amortizados os investimentos feitos pelos grandes laboratórios que desenvolveram os medicamentos.


** Logo depois do Golbery fazer este comentário, numa entrevista nas páginas amarelas de Veja, o min. Eduardo Portela cunhou a frase que repercutiu bastante, de que ele não era ministro, estava ministro. Ou seja, parafraseou o Golbery, sem dar a este o devido crédito.




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