4 de novembro de 2018

Crônicas musicadas

Os poetas populares são pródigos em  compor, musicalmente, ótimas crônicas de costumes. O mais das vezes temporais, sendo inteligíveis na época em que produzidas.

Com o passar do tempo, e a mudança de hábitos, costumes e comportamentos, ficam  como documentos históricos, retratos de uma época. Mas difíceis de entendimento pelas gerações mais novas.

Numa época em que havia comedimento no uso de palavras chulas, de baixo calão, era compreensível a modinha de carnaval apenas insinuar, sem mencionar explicitamente, que algum homem tinha opção sexual diferente.

A marchinha Cabeleira do Zezé, por exemplo tem os versos:
"Olha a cabeleira do Zezé,
Será que ele é, será que ele é?"

E a turma no salão da matinê gritava, ao final do verso indagador: BICHA! Era o máximo a que nos permitíamos. Ouçam!



Muita gente conhece esta fachada abaixo, mais atual.


A velha e tradicional Confeitaria Colombo, inaugurada no ano de 1894, em certa época de sua história, era palco de alguns velhinhos, de bengala e polainas, que postados na porta ficavam a observar os brotinhos que passavam.


Os "brotinhos" (jovens mulheres) eram cobiçadas pelo velhinhos que tinham a esperança de conseguir que aceitassem, eventualmente, um convite para um chá nos elegantes salões da confeitaria.

E esse hábito foi musicado, e aparece na marchinha "Sassaricando" (giria em desuso). Leiam a letra.


A reciclagem de material, no Brasil e no mundo, é uma prática consagrada. Plástico, papel, latas de alumínio, e outros itens reaproveitáveis em processo industriais.

Mas houve uma época em que existiam trabalhadores especializados em catar papeis, nas  ruas, praças e jardins. Utilizavam quando necessário, nos gramados e terrenos baldios  um pedaço de madeira, uma espécie de cabo de vassoura, que tinha na ponta um espeto metálico.

Ouçam e vejam imagens  clicando abaixo.



O catador de papel recolhia e colocava em sacos. Havia o caráter de reaproveitamento, mas o objetivo principal era de limpeza.

Os funcionários públicos tinham um plano de carreira que era classificado pelo uso de letras do alfabeto. Quando mais avançadas eram as letras, mais importantes eram os cargos e por via de consequência maiores as remunerações.

O funcionário letra "O", por exemplo, era bem remunerado e exercia função diferenciada.

O protecionismo, e  o nepotismo já   eram comuns naquele tempo. Isto foi retratado na marcha carnavalesca "Maria Candelária", de autoria de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti.

As desigualdade sociais também foram focadas em algumas músicas carnavalescas. Ouçam a saga do pedreiro Waldemar e sua via crucis diária até o local de trabalho.


A parceria de Peter Pan com Afonso Teixeira, assim como as duplas Haroldo Barbosa e Antonio Almeida, assim como Roberto Martins e Wilson Batista eram mestres neste gênero musical e no aproveitamento de temas do cotidiano. E Hervê Clodovil? Não pode ser olvidado.

Viva os poetas populares, compositores, cronistas de costumes do nível de Rubem Braga, Antonio Maria, Carlinhos de Oliveira, Sergio Porto, Paulo Mendes Campos, Nelson Rodrigues e Fernando Sabino.

Desafio, duvido e faço pouco, que daqui a alguns poucos anos, alguém se lembre das letras dos punks, funks e assemelhados que hoje atormentam nossas  vidas.

2 comentários:

Ana Maria disse...

Vc esqueceu outros muito talentosos.

https://m.letras.mus.br/dicro/546092/#lyric

https://m.letras.mus.br/bezerra-da-silva/44563/

Jorge Carrano disse...


Sim, é verdade, mas longe de mim a intenção de esgotar todos os nomes talentosos.
Obrigado pelos links.