9 de outubro de 2018

Já foi assim ...

No início da década de 60, no século XX, os bancos funcionavam aos sábados, até o meio-dia. E remuneravam nossas contas-correntes a razão de 0,5%%  (meio por cento) ao mês.

Na aludida época trabalhei em banco, aliás meu primeiro emprego, e era obrigatório o uso de gravata (não necessariamente paletó). O paletó e a gravata eram exigidos dos gerentes.

Já era passado, quando ingressei na área, a coisa de guardar o dinheiro debaixo do colchão por desconfiança da solidez dos bancos. Mas os bancos tinham que ter sede própria e colocavam na fachada uma placa indicativa "Sede Própria", como símbolo da solidez. Quanto mais portentoso o prédio, quanto maior o pé-direito, mais amplo o saguão melhor, maior a confiança que inspirava.

Agora "Centro Cultural do BB"






Passaram-se alguns anos e voltei ao ramo bancário, mas já agora na área de recursos humanos.

Os bancos já eram, então, verdadeiros supermercados. Além guardar seu dinheiro, e emprestar a quem precisava, eles vendiam seguros, turismo, vendiam aplicações financeiras rotuladas como fundos, cadernetas de poupança tinham projetos de reflorestamento, possuíam corretoras de valores mobiliários e outras coisas mais.

E inventaram, para tormento dos clientes, pessoas físicas ou jurídicas, as aos operações casadas. 

Transformaram-se em conglomerados, com várias empresas associadas, coligadas ou sob controle acionário.

Muitos outros anos após, trabalhei numa siderúrgica que pertencia a um banco. Na verdade  pertencia a um grande grupo financeiro, que possuía vários outros negócios, inclusive  na área rural (cultivava laranja) em vasta extensão de terra.

Não foi o meu caso, mas o emprego como bancário, que era tido e havido como transitório, passou a ter horizontes mais largos. Pelo menos foi meu discurso durante o tempo em que atuei na área de recursos humanos, a fim de motivar  o pessoal a planejar carreira na organização, mesmo que em outra áreas exploradas pelo grupo econômico.

As pessoas "estavam" bancárias mas de olho no mercado, mister quando concluíam algum curso superior ou técnico. Nossa política era seduzir estes empregados, já adaptados a  filosofia empresarial,  a que se fixassem no banco, reduzindo o turnover.


Lembro de uma matéria que publiquei em nosso house organ mostrando até mesmo para os estudantes de engenharia florestal que eles poderiam planejar seus futuros continuando no conglomerado empresarial.  Tínhamos, na época, projeto de reflorestamento, o que era moda em face dos incentivos fiscais.

As coisas mudaram desde 1962 quando comecei no Banco Metropolitano,  Os bancos não financiam mais as atividades primária e secundária. Agora são parasitários têm o dinheiro como fim em si mesmo.

Não adiantam bons projetos de investimento na indústria,  no comércio ou no campo, mesmo quando precedidos de sérios estudos de viabilidade. Comprar papeis de governos perdulários rende muito mais.

Lembram dos overnight e open night? Tinha atividade mais predatória? Mais parasitária? Colocar o dinheiro em aplicações financeiras e ir para a praia era mais atraente do que entrar numa atividade de risco, no comércio ou na indústria.

Nos anos 1980, como diretor de empresa industrial, nossos resultados não operacionais eram superiores aos decorrentes da operação principal. Explicação? Overnight.

Atualmente os bancos não emprestam dinheiro para quem não tem. São tantas as garantias exigidas, saldos médios, etc, que aquele que não tem fica sem o dinheiro. A não ser via empréstimos consignados, pela garantia.

Nos anos 1960, para resgatar um cheque era preciso apresenta-lo num balcão e ir aguardar na boca do caixa ser chamado pelo funcionário (o caixa) que efetuava o pagamento. 

Do balcão ao caixa, o cheque passava pelo setor de contas correntes. O funcionário verificava numa ficha, com lançamentos mecanizados, se havia saldo disponível naquele conta. Depois conferia, por similaridade, na ficha de autógrafos, se a assinatura do emitente estava correta.

Após este ritual o chefe das contas correntes carimbava e rubricava o cheque liberando o pagamento. O cheque era colocado uma pequena calha que despencava dentro do caixa (espaço físico).

Depois vieram os chamados caixas executivos, e todo o procedimento passou a ser feito pelo mesmo funcionário "o caixa". Tudo é controlado eletronicamente.

Voltarei outro dia a tratar de coisas que não são mais como no passado, na política, nos esportes, na religião, no seio familiar e de novo na economia (indústria e comércio).

4 comentários:

Riv@ disse...

Acho que vc leu o(s) livro(s) do Yuval - Sapiens e Homo Deus. Eu li o segundo.

Não adianta falarmos sobre isso. Nada mais será.
Imagina se nossos avós e bisavós estivessem vivos assistindo essa "evolução".

Nada mais será.
Perdi a pressa...uma boa estratégia para me acalmar diante disso tudo.

Sds Tetra

Calfilho disse...

Bastante interessante sua crônica, Carrano. Nossa geração e a classe média dos anos 60 do século passado teve, em sua maioria, para os jovens que ingressavam no mercado de trabalho, o banco como um dos primeiros empregos. Foi o seu caso, o meu, o do Sílvio Lessa (lembra dele?) e vários outros da nossa idade. Eu ainda peguei a época em que as fichas das contas dos clientes eram preenchidas a mão, a mecanização veio algum tempo depois.Já no quarto ano de Direito mas sem ter a pretensão de seguir a carreira, logo após a morte do meu pai, fiz concurso para o Banco do Brasil, na época um grande emprego, que me garantiria o futuro e a estabilidade. Aprovado, fui trabalhar no interior do Estado, onde os serviços bancários ainda eram mais rudimentares. As únicas máquinas que haviam na agência eram as de datilografia e as de somar... além das cafeteiras e geladeiras, é claro. Toda a escrituração era manual. Para um cheque ser descontado era necessário passar pelo ritual que você descreve. Outra coisa: os bancos particulates já admitiam algumas funcionárias, mas o Banco do Brasil não: só eram admitidos homens. Talvez até pela dificuldade de locomoção das mulheres para cidades do interior do país ou por puro machismo mesmo...

Riv@ disse...

...e eu não fui para o BB em 1970 ..... vou carregar essa para o meu epitáfio !

Hoje estaria com uma manada na sombra !

Ana Maria disse...

Era um dos primeiros e respeitáveis empregos.
A exigência da gravata e camisa social conferiam status ao funcionário.
Aliás, não deve ser isso. Os comerciários também usavam o mesmo traje.
Provavelmente a posição social se devia à estabilidade.