“Velhice chegando
e eu chegando ao fim.”
Bem, Antonio Maria morreu de infarto aos 43 anos. Sempre se poderá dizer que o “velhice chegando” era relativo ao personagem da canção, e não a ele próprio. Mas o fato é que, já nos anos cinquenta, as pessoas se achavam velhas antes de completarem 60 anos.
Imaginem na década anterior. Quando eu contava 5 anos de idade, em 1945, a pessoa mais velha de que tenho memória era a minha avó materna (a paterna era um pouco mais velha, mas a materna era mais próxima a mim). Ela deveria ter não mais do que 52 anos de idade. Uma anciã. Para um garoto de 5 anos.
Todo este intróito foi para dizer que completarei 70 anos no próximo dia 21 de abril. E não me considero velho.
Hígido e em plena atividade, surgiram (e surgirão mais) algumas limitações naturais, mas até agora absolutamente contornáveis.
Desde há muito já não corro no calçadão. Agora cominho, lentamente. Subir a Estrada Fróes, de um lado, ou o morro da Boa Viagem, até o MAC, do outro, já se tornou tarefa cansativa. Faço, eventualmente, ofegando.
As benesses, tais como pagar metade do preço dos ingressos nas casas e salas de entretenimento; não pagar passagem de ônibus; ter direito a fila diferenciada nos bancos, nada disso compensa a perda gradativa da memória, da visão, do vigor sexual e coisas menores que não vale a pena comentar.
Os netos não substituem os filhos. É diferente. O amor pode ser o mesmo, mas você não põe o espeque, entende?
Mas entendo porque o conselho do Nelson Rodrigues aos jovens era para que envelhecessem. No mais das vezes a impetuosidade, o desassombro, o desapego, não contribuem para boa formação de um ser humano.
É legal completar 70 anos e, olhando para trás, ver o que foi construído.
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