Nos bancos escolares primários e ginasianos, nos idos anos 40 e 50, do século XX, atualmente fundidos e denominados de ensino fundamental, eram muitas matérias nos curricula. Onze, salvo traição da memória.
Ademais, os assuntos abordados em alguns casos eram rotulados de "cultura inútil". Criticávamos o ensino do latim, taxado de língua morta. E as matérias "canto orfeônico" onde aprendíamos na clave de sol a posição das notas na pauta, sobre as linhas e nos espaços, que eram: fá, lá, dó, mi. Para que se não tinha talento e nem vocação para a música?
Trabalhos manuais, disciplina do ginasial, nos levava à fraude. Como fazer uma caminhãozinho de carga, em madeira, sem ferramentas adequadas, sem habilidade manual? Solução? Comprar nas Lojas Americanas e deformar um pouco para parecer artesanal. Lixa aqui, passa a grosa ali e pronto.
A professora Clotildes, coitada, simpática e gentil, dava nota oito e vida que segue.
Vejam em:
https://jorgecarrano.blogspot.com/2012/09/embalagens-ii.html
Mesmo na geografia, decorar os afluentes do Amazonas, nas duas margens, era um exagero e sem relevância. E quanto as capitais dos estados brasileiros e países mundo afora?
Chamávamos de cultura inútil.
O tempo se encarregou de dar razão aos mais céticos. Belgrado não era a capital da Iugoslávia? Agora é da Sérvia? O que aconteceu? O fim da Iugoslávia resultou na formação de sete diferentes países autônomos cujas capitais - lanço um repto - duvido que saibam de cor, sem o Google.
Até que, em 2015, a cultura inútil virou game e foi divertido, como narrado em:
https://jorgecarrano.blogspot.com/2015/12/natal-com-bacalhau-torta-de-nozes-e-quiz.html
Mas como asseverado no comercial, " o mundo gira e roda".
Vai daí que, não demorou constatar, na Faculdade de Direito, que se o latim era língua morta, estava insepulta.Dizia o professor de Direito Civil que nosso arcabouço jurídico era calcado no romano; e por isso, para confirmar, havia uma disciplina "direito romano", logo no primeiro ano.
Servitus pecoris ad aquam adpulsus, toma decorar esta e outras servidões romanas que foram incluídas em nosso sistema jurídico. Muitos de nossos institutos da lei substantiva foram criados no velho império e perpetuados em latim.
E na lei penal também, como por exemplo: "nullum crimen nulla poena sine praevia lege."
O método de alfabetização era eficaz e daí para a escrita as etapas faziam sentido. Começávamos fazendo cópias, depois ditados e só então chegávamos à redação, até hoje constante no ENEM.
A redação tinha um processo iterativo. Podia ser uma descrição, onde a imaginação não cabia; e a composição, onde a imaginação era importante.
Lembro que numa prova de português (o idioma), a temática da narração/descrição pedia uma festa junina e alguém da turma lascou "que na casa do tio soltaram muitos fogos, balões e fogueira".
Perdeu pontos, claro, porque a professora Arlinda, obtemperou que ninguém "solta" fogueira.
No meu vestibular o tema da redação foi "A Guerra e a Paz". Alguém sussurrou, lamentando, que não leu a obra de Tolstói. Mas se fosse ao detalhe verificaria que a célebre obra até poderia servir de inspiração, mas não era essencial haver lido. Bastava distinguir tempos de paz e de guerra, fazendo paralelo. De preferência louvando a paz, ressalvando ser impossível se envolver homens. O que fiz remontando a Abel e Caim.
A ideia, neste post, era ressaltar que o saber - cultura - não ocupa espaço e não há faixa etária limitadora. Isto porque assistindo ao Globo Rural, ontem, aprendi que colher é diferente de coletar no mundo agrícola.
Voltarei outro dia para abordar o tema.


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