16 de junho de 2017

Preguiça e/ou ócio

Êta coisas boas, sô!!!

Mas são coisas diferentes? Sei lá, vamos aos “aurélios”. E ao Google. Em apertadas definições, encontrei:

- ócio: folga, espaço de tempo em que se descansa;
- preguiça : estado de prostração e moleza; aversão ao trabalho.

Inventaram um “ócio criativo”. A monografia, o livro, é de Domenico Di Masi. Mas será dele a ideia de que a pausa na atividade diária, no estudo, no exercício da profissão, para descanso e lazer, é uma coisa importante e que se inclui no conceito de trabalho?

Não deve ser, é coisa dos romanos.

Eu deveria ter conhecimentos, rudimentares que fossem, da língua dos romanos, o latim. Tive alguns anos de estudo durante o ginasial e no vestibular era matéria que reprovava.

Falo do latim agora porque o nosso ócio vem da palavra latina otiu, que significava, para eles, lazer. Logo, nada condenável. Não é pecado querer momentos de lazer, folga do trabalho. O dolce far niente.


De meu ponto de vista entendo o ócio como um tempo livre, disponível, vago, para nada fazer mesmo, nem pensar (se é possível), apenas relaxar, vadiar, descansar, um momento de preguiça.

Olha a preguiça aí, associada ao ócio.

Mas da preguiça eu me envergonho, reluto e reajo contra. O ócio é socialmente aceitável. Quem condena o desfrute de alguns momentos de ócio, de prazer?

Colocar uma coletânea do Ray Charles para tocar, fechar os olhos é deixar o pensamento livre, leve e solto, sem destino, easy rider, é muito prazeroso, é muito produtivo pois alimenta a alma.

A preguiça faz limite com a malandragem, que é diferente da vadiagem.

Agora explico o porquê de estar escrevendo sobre isto. Estava ontem deitado, à tarde, no pós almoço, agasalhadinho (devia fazer menos de 20 graus) e tirei uma pestana. Afinal um feriado de cunho religioso, num país laico, tem que servir para alguma coisa.

Despertei e comentei com minha mulher, que já estava acordada: a cama está uma delícia, não é que não tenha coisa alguma para fazer, sempre se tem, mas estou com preguiça.

Essa preguiça era falta de ânimo, de vontade, de levantar para dar sequência a uma empreitada que comecei há três anos: descartar inservíveis, incinerar papeis velhos, livrando-me de muitos ácaros que devem povoar meus arquivos de casa. E do cheiro, nada agradável, de papeis velhos quando se abre uma ou outra gaveta.

Mas o ócio, o estar ali deitado confortavelmente sem sentimento de culpa pois era feriado, acabou cedendo lugar ao estado de preguiça que me pareceu presente.

Não posso, não devo, ter preguiça. Afinal tenho tarefas, que eu mesmo me impus, para cumprir. Logo o momento de ócio (necessário, positivo) foi sucedido pela sensação de preguiça (negativa, censurável).

A conclusão a que chego (perdoem a bobagem) é que a preguiça é um ócio do mal, a preguiça é a face perversa do ócio.

Ontem acabei deixando a cama, rápido, não para me dedicar a arrumação e organização dos arquivos, mas para perpetrar este texto, que terei a ousadia de fazer publicar no blog.

Em suma. Quando ainda deitado pensando sobre uma eventual diferença fática entre ócio e preguiça, estava exercendo o ócio criativo, pois bem ou mal resultou neste post que você acaba de ler.

Notas do autor:

1) tenho enorme vocação para o ócio, por isso combato pertinazmente este impulso trabalhando duro e com responsabilidade.

2) passei toda a infância e pré-adolescência ouvindo que o latim era uma língua morta e por isso não fazia sentido estuda-la (apenas o suficiente ara não ser reprovado). Ledo engado, verifiquei mais tarde. Nos anos 1960 quando ingressei na faculdade e sabia muito pouco latim. E aí vieram os fundamentos básicos de nosso Direito, os institutos do direito romano (uma cadeira no curso de bacharelado) que são ainda o alicerce de nossa legislação. Sem contar que é a fonte da qual deriva nossa língua. Quem conhece latim tem mais qualificação para escrever em português.

3) imagens pinçadas no Google.


5 comentários:

riva disse...

Não sei se é preguiça, mas ando meio tipo preguiçoso sim, andar lento, sem pressa de chegar a qualquer lugar, optando por coisas menos trabalhosas, deixando de me incomodar com aquelas que me tiram do conforto espiritual.

Ontem, por exemplo, conseguimos finalmente vir à nossa casa em Friburgo, depois de 8 meses. A MV está autorizada pelos médicos. Consegui vir a 80 km/h o tempo todo, e isso, posso garantir, não é normal. Seria um sintoma de preguiça ?

Enfurnados em casa, 9º à noite, e bate aquela preguiça de se arrumar e sair. Pedimos o jantar pelo telefone, e o almoço de hoje também. Preguiça ?

Só quero ficar quieto. Apenas isso.


Jorge Carrano disse...

Indolência?

Bom saber sobre a recuperação da MV.

Riva disse...

O significado de "indolência" é meio confuso, mas com certeza não é ausência de dor. Com certeza não é, muito pelo contrário.

Ontem, quando chegamos em Friburgo, fomos direto almoçar no LA BAMBA, que adoramos, e Freddy também vivia lá, amigos, cozinha excelente, preços, tudo.
Quando o dono me viu entrando no restaurante, falou logo ..."pensei que ia trazer seu irmão com você !" , pois Freddy vendeu a casa de Friburgo e nunca mais foi lá.

Putz, tive que contar o que ele não sabia ..... e como doeu, muito mesmo.

Então não deve ser indolência ... acho que é um pitstop mesmo, uma reavaliação do valor das coisas, do entorno, atividades, pessoas, rumos,tudo. Uma certa preguiça de ir em frente como ia antes. Um novo "pace".

E sobre esse tema, de passar a ver o mundo com um olhar diferente, estou lendo o livro A ÚLTIMA MENSAGEM DE HIROSHIMA, escrito por um dos sobreviventes da bomba, Takashi Morita, que na época lá vivia e tinha 21 anos.

Riva disse...

Tenho todos os meus posts aki do Pub da Berê arquivados, sob o título MINHAS CRÔNICAS.

Estou pensando em, com calma, pinçar as do Freddy também, para depois enviar para suas filhas.

Aki em Duas Pedras, no momento 19:50h, já estamos com 14º e um cabernet chileno.

Jorge Carrano disse...

Riva,
14° para mim é muito frio. O cabernet a que você se refere deve ser o Sauvignon. Para os experts, a menção a casta cabernet geralmente alude à variedade Franc (mãe da Suvignon).
Boa pedida.
O Freddy deixou um bom acervo, que merece ser garimpado.