Adversários históricos, franceses e ingleses se unem quando
há uma causa comum, um valor mais alto em jogo. Por exemplo, a liberdade.
Se estes povos litigaram por anos, em guerras intermitentes que
somaram 116 anos, entre os séculos XIV e XV (os historiadores arredondaram para cem anos), período que entrou
para a história como “Guerra dos Cem anos”, se e quando estão em jogo valores
como liberdade, igualdade e fraternidade, unem-se e brigam lado a lado.
Quando ginasiano acompanhava as aulas da professora Molca (não lembro se a grafia era Molka),
que colocava no quadro negro a sinopse das diferentes batalhas, monarcas
envolvidos, consequências, aliados, etc. não podia imaginar que um dia iria me
lembrar disto por causa de atentados terroristas.
De Gaulle |
Mas não é a primeira vez que os ingleses adotam causas dos
franceses e se dispõem a lutar ombro a ombro. A atitude britânica, durante a II
Guerra Mundial, acolhendo os partisans,
membros da resistência, em solo londrino, onde foi instalado o Bureau Central,
foi de vital importância para a vitória da resistência e consequente liberação
da França do domínio nazista, em 1944.
Foi da Inglaterra, onde esteve refugiado, que De Gaulle
proferiu famoso discurso exortando os franceses a que reagissem à ocupação dos
alemães.
Logo após os atentados da sexta-feira, dia 13, em Paris, as
seleções de futebol dos dois países realizaram uma partida amistosa,
preparativa das respectivas equipes para a disputa da Eurocopa a ser realizada no
próximo ano na capital francesa.
O jogo já estava programado há muito tempo e não foi
cancelado, como aconteceu em outros países onde haveria a disputa de outras
partidas igualmente amistosas envolvendo seleções europeias.
Foi de arrepiar. A causa não era da França, era da humanidade
que presa a paz, a liberdade, a igualdade.
Quebrando o protocolo, a sequência de execução dos hinos das duas nações
envolvidas no confronto esportivo foi alterada e o hino britânico foi tocado
primeiro, por uma banda, ao vivo. A Marselhesa (La Marseillaise), belo hino nacional francês
teve sua letra colocada nos telões do estádio (Wembley) a fim de que todos pudessem
cantar. Formou-se um coral fantástico de 80.000 mil vozes, embora alguns sotaques
soassem estranhos (rsrsrs).
Presente à cerimônia no estádio, o príncipe William,
herdeiro da coroa britânica, depositou flores no gramado antes da partida.
Estava presente também o primeiro ministro inglês David Cameron.
William cantando a Marselhesa, tendo ao lado os técnicos da França e Inglaterra |
Por essas e outras foi que noutro dia escrevi que nós,
terráqueos , precisaríamos de um evento, um risco, que nos unisse em face de uma
causa comum. Como por exemplo alienígenas querendo raptar nossas mulheres a fim
de melhorar a raça no planeta deles, onde as mulheres têm um só
olho, no meio da testa. E são ruins de cama (rsrsrs).
Já que estou remontando as aulas de história geral, ginasiano
que fui na primeira metade dos anos 1950,
mal comparando, seria algo como o “rapto da sabinas”, protagonizados pelos
romanos nos primórdios da criação de Roma.
Voltando à união pontual França-Inglaterra, ainda hoje
assisti, via TV, no pequeno estádio do Watford, as 21.500 pessoa presentes (capacidade
máxima do estádio), em profundo respeito, ouvindo o hino francês e assim se mantendo, na sequência, durante o minuto de silêncio tradicional.
Vicarage Road, estádio do Watford |
E assim foi em todas as partidas desta rodada da Premier
League. A Marseillaise entoada nos estádios.
Meus Deus!!! Existe civilização ... pena que tão longe.
Tenho minhas razões para ter o respeito, a simpatia e a
identidade que tenho com os ingleses.
20 comentários:
Pois é, amigo, pena que tão longe ... longe geograficamente, mentalmente, espiritualmente.
As duas guerras mais recentes, as de 14 e 39, acredito entraram na veia desses povos, consolidando esses valores.
Paul McCartney, baixista dos Beatles, escreveu uma autobiografia maravilhosa, quase uma Bíblia, de tão grande. Lendo seu livro, tomei conhecimento pela primeira vez de como era o dia a dia das famílias inglesas antes, durante e pós 2ª Guerra Mundial. Fiquei impressionadíssimo com tudo que li, como era viver num cenário desses. Experiências vividas que deixam cicatrizes muito profundas, ensinamentos, e a certeza de que todos devemos lutar pela paz entre os povos .... mas está difícil ficar sem fronteiras, muito mesmo.
Eu acredito que a Europa vai ter que rever esse conceito, e cada um fechar suas fronteiras para tentar controlar melhor o ir e vir das pessoas .... ficou inviável como está.
Fico aqui pensando o que poderia acontecer, para 80.000 hermanos cantarem o nosso hino num jogo Argentina x Brasil, em Buenos Aires. Essa é a dimensão do que aconteceu em Paris.
Boa pergunta, Riva. Acho que nem se ajudássemos a expulsar os ingleses das Malvinas.
Já que você mencionou o Paul McCartney, acrescento que o Watford, clube inglês citado no post, teve seu controle comprado, há muito tempo, pelo Elton John.
Também em Madrid, antes do jogo entre Real Madrid e Barcelona, neste instante, o público presente (cerca de 90.000) ouviu em absoluto silêncio a execução num belo arranjo para cordas, da Marselhesa.
Uma bandeira francesa foi desfraldada na plateia.
Lindo e comovente!
Acho que vale a pena ressaltar que no caso acima comentado, catalães e madrilenhos têm, eles mesmos divergências políticas.
Neste momento de luto universal esqueceram as divergências e a independência da Catalunha ficou em segundo plano.
Até o conselho de segurança da ONU chegou a um consenso. O que não é comum. É preciso combater o terrorismo e o retrocesso civilizatório que esses animais representam.
E Piquet, por esse motivo, era super vaiado sempre que pegava na bola.
Sim, Ricardo, é verdade.
Sim, Riva, é verdade. Até jogando pela seleção espanhola ele tem sido vaiado.
Todos sempre temeram uma 3ª guerra mundial, achando que seria nos mesmos moldes das anteriores.
O 11 de Setembro mostrou um novo caminho estratégico - atacar um país com suas próprias armas. E agora, o EI mostra que ataca com um exército composto por cidadãos do país atacado.
Em resumo, a 3ª guerra já começou, e o inimigo tem objetivo, não tem um rosto, nem território, nem liderança. E pior, não têm medo de morrer.
Oremos, cada um do seu jeito, por dias melhores para todos nós e para as próximas gerações.
Os aliados venceram os kamikase na 2ª GM.
Esperamos que consigam uma maneira de vencer os homens-bomba sem ter de recorrer a extremos, apesar de que o contrário pode acontecer: não temendo a morte, eles podem usar não apenas bombas atômicas como fazer guerra bacteriológica. Eles não são membros da ONU.
Países e pessoas costumam ser solidários em tragédios.
Aqui no Brasil, quando de faz necessária a doação para vítimas de catástrofes, a arrecadação supera em 100% o volume necessário.
Passado o impacto...
Refresquem minha memória: parece que antes de começar o jogo Brasil 3 x 0 Peru houve um verdadeiro minuto de silêncio no estádio, em respeito às vítimas na França. Teria sido um momento raro.
TODAS as arrecadações e doações nesse brasil bandido são desestruturadas, sem nenhuma gestão, como na verdade é no resto do país em qualquer atividade. O povo se doa, se envolve, e o merdalhal vem depois .... lamentável !
Resultado ? Furtam as doações, para vender depois .....um CRIME HEDIONDO, punível na China, por exemplo, com execução em praça pública, cobrando-se a bala da família do FDP.
O Riva se apropriou (na verdade se antecipou) do comentário que eu faria replicando Ana Maria.
Nenhuma chance de comparar alguns movimentos no Brasil quando o arrecadado geralmente não chega aos necessitados nas áreas atingidas. Ou apodrecem em galpões ou são desviados por prefeituras e igrejas.
É fácil trocar o ingresso para um show por duas latas de leite em pó ou outro produto não perecível.
Quero ver abrir a casa para um desabrigado, que dormiria na rua por falta de transporte, fazer filas imensas no dia seguinte diante dos 19 bancos de sangue da cidade, como aconteceu em Paris.
Quero ver a população abdicar de direitos individuais em nome da coletividade. A população, ouvida em pesquisa, aprova por esmagadora maioria os planos restritivos de direitos dos cidadãos em razão da necessidade de adoção de medidas mais rigorosas (ir e vir, aeroportos, metrô, etc.).
Ana Maria, lamento mais estamos muito longe da civilização (lato sensu) e é com muito tristeza que eu afirmo.
O francês é arrogante? É antipático? Mas tem enorme consciência de valores como liberdade e fraternidade. E não é só um dístico, uma frase de efeito.
A população que nasceu por volta de 1995 e que hoje tem aí seus 20 anos, ou seja, iniciando de fato sua interação com a sociedade, é (em sua maioria) carente de moral, de princípios, de civilidade, de exemplos a seguir.
Isso não se conserta da noite para o dia.
Estamos, pois, f...os.
Enquanto isso... arriba Flu!
<:o)
Fiquem de olho na atuação do judiciário português. Poderemos ter boas notícias oriundas dos tribunais lusitanos.
Pelo amor de Deus. Falei de solidariedade em casos de tragédias. O depois é outra discussão. Incompetência, corrupção não anulam o sentimento da população.
Enquanto os taxistas parisienses transportavam as pessoas sem cobrar, se fosse aqui iam cobrar por corrida !
Sobre a solidariedade, ontem em entrevista após o jogo do FLU, Fred comentou que as doações eram tantas para as populações em MG que tiveram que pedir para dar um tempo, para poderem organizar o que chegou.
A essa hora muita coisa já deve ter sido furtada para venda posterior !
Gooooooool da Argentina!
BUENOS AIRES — O presidente eleito da Argentina, Maurício Macri, deu na manhã desta segunda-feira sua primeira coletiva após confirmado o resultado das urnas e reafirmou que irá buscar a suspensão da Venezuela do Mercosul devido a acusações de abusos de direitos e perseguições a políticos da oposição por parte do governo de Nicolás Maduro.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/macri-diz-que-vai-pedir-suspensao-da-venezuela-ao-mercosul-18117248#ixzz3sLICUOVm
Macri, não nos decepcione .... uma luz no fim do túnel para a America do Sul.
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