27 de abril de 2010

A Pilar, como se dissesse água

O título aqui em cima, é a dedicatória feita pelo José Saramago para Pilar del Rio, espanhola, esposa do escritor há mais de vinte anos.

Uma das mais sucintas, mas das mais emocionantes que jamais li.

Por outro lado, sua mulher, na mesma linha da parceria, da cumplicidade, da admiração e respeito, o defendeu com muita elegância, quando foi criada uma enorme polêmica, originada entre os católicos mais beatos, quando do lançamento do livro "Caim". Vejamos o que disse Pilar:

"Saramago é um ser excepcional, a sua dimensão é distinta e o seu perfil não é o habitual, por isso há tanta gente que não o entende. Não houve polémica nenhuma, umas quantas pessoas imorais que não leram o livro é que se pronunciaram, quando deviam estar de pé, aprendendo a escrever. Um romance nunca pode ser polémico. O meu marido recebeu foi os parabéns de todos, e isso vê-se com os livros que já vendeu. O ruído e a fúria não entraram em minha casa."

O próprio Saramago, por sua vez, quando do lançamento público da obra, limitou-se ao seguinte comentário:

"Não procurem os hematomas, tenho a pele bastante dura e esta será a única alusão directa, de alguma maneira, à suposta polémica que se desenvolveu em vários tons, a mando da Igreja Católica, apoiada por quem tinha rancores pessoais. Sem querer parecer vaidoso, estou acima de tudo o que dizem de mim."

É desta maneira de dizer as coisas que sou apaixonado. Sei que Saramago não vende tanto quanto são vendidos os Amanheceres e os Eclipeses da vida. Suas obras, quando chegam às listas de best sellers, jamais alcançam o primeiro posto e nelas permanecem pouco tempo. Acho que é por isso que sou fã.

Ele guarda, para meu gosto, uma relação muito próxima com Woody Allen, que também não faz sucesso junto ao grande público, mas que para mim é sinônimo de inteligência.

Para encerrar esta minha babação pelo grande escritor português, transcrevo trecho de sua mensagem, quando criou uma fundação que leva o seu nome:

"Bem sei que, por si só, a Fundação José Saramago não poderá resolver nenhum destes problemas, mas deverá trabalhar como se para isso tivesse nascido. Como se vê, não peço muito, peço-vos tudo”

Não peço muito, peço tudo; assim como dizer Pilar, como se dissesse água, deixam-me rubro de vergonha por tentar escrever.Verdade!

3 comentários:

Anônimo disse...

Oii , eu adoreiii seu post sobre o Saramago =]

Jorge Carrano disse...

Muito obrigado.
Sou um fã incondicional do autor, um dos melhores em lingua portuguesa.
Acompanho, principalmente depois de sua morte, com regularidade, o website da Fundação que criou.
Volte sempre.

Jorge Carrano disse...

Ah! Esqueci. A Fundação está em http://www.josesaramago.org/ e lá são encontrados vários textos do mestre.
Saudações cordiais