13 de abril de 2010

Finais

Com uma alavanca pode-se mover o mundo. Com um bom desfecho em mente, pode-se dar início a uma história. O que quero dizer é o seguinte: um bom final é a receita para um conto ou um roteiro cinematográfico.

Tome-se como exemplo Casablanca. Seria talvez um dos muitos filmes esquecidos nas empoeiradas prateleiras, se a Ilsa Laszlo (Ingrid Bergman) não tivesse embarcado naquele avião. Sem o Richard Blane (Humphrey Bogart). O final do filme é o grande diferencial, é o que faz dele um cult.

Mesma nuance ocorre com  o western Shane. Ele se transformou num clássico do gênero, porque o Shane (Alan Ladd) foi embora. Tivese ele ficado, como o Joey, filho da Marian Starret (Jean Arthur), poderia dizer que a mãe dele amava o mocinho? Jamais.

Mesmo quando o final não é muito feliz, ele pode ser memorável. Pelé fez tudo certo. Deu uma bela finta de corpo no bom goleiro do Uruguai. Chutou em direção ao goal e a bola, caprichosamente, não entrou. Mas se tivesse entrado, não seria um dos goals top ten do Rei. Seria mais um bonito goal, só. Este lance é exibido ad nausean, nas resenhas, porque a bola não entrou.

Ainda na linha de Casablanca, recordo das Pontes de Madison, filme* no qual durante cinco dias se desenvolve um romance emocionante entre Robert Kincaid (Clint Eastwood) e Francesca Johnson (Meryl Streep). Se a Francesca tivesse embarcado no Jeep e ido embora com o fotógrafo, o filme não levaria tanta gente às lágrimas. Não comoveria.

E se Romeu e Julieta tivessem vivido felizes para sempre, a dramaturgia teria perdido uma de suas obras mais expressivas.

Não importa se o final é feliz ou infeliz, importa ser diferente, surpreendente. Como diz um grande mestre de xadres, de origem holandesa, a melhor jogada não é a mais inteligente; a melhor é a inesperada. Aquela que o adversário não antevia.

Exemplo mais recente de final surpreendente, o Woody Allen conseguiu em Match point. Grande sacada, não é não?

No processo de criação, para o escritor, ter um bom final é um bom começo. Se o assassino for o mordomo, é melhor não escrever.



* Adaptado de um romance de igual nome.

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