15 de junho de 2020

Disco de vinil, duplo e pequeno


Por
Alessandra Tappes


Não. Não nasci em Portugal. Nunca nem pisei lá. Mas tenho uma ligação forte com essa música...

Quando criança, lá pelos meus 7 anos, meu pai trabalhava na Vidraçaria Real. E lá, lá onde cortavam os vidros, onde as serras faziam barulhos e o verniz tomava conta do ar, lá no fundo, no galpão da produção era meu local favorito de ficar. Tinha uma vitrola antiga, e nela  rodava sem parar um disco de vinil  duplo pequeno. Tocava a mesma canção nos dois lados. é claro que eu escutava os dois lados... rs.

A música que ali me fazia viajar aos 7 anos de idade, a música que eu não sabia nem o que significava a letra, fez trilha em um sonho que tive com meu querido pai há cerca de um ano atrás. Acordei sobressaltada. Corri para o celular para continuar escutando a música, na tentativa de continuar o encontro com meu pai.

Depois desse sonho, compreendi a letra. Entendi que quem regressou as suas origens foi ele...

Passados mais de 40 anos desse momento da minha infância, entendo perfeitamente a ligação da música com meu pai me levando ao serviço dele e eu rodando feito bailarina toda vez que a música se repetia.

Peço a Deus e aos bons espíritos que meu pai esteja igual nos meus sonhos: forte e gozando de boa saúde e, sempre trabalhando em prol do bem. A luz que emana dele nos sonhos, clareia meu coração turvo de saudade.

Que o dia de hoje, 14 de junho, o dia em que se comemora teu regresso à morada espiritual, seja banhada de muito amor, luz e saudade. Saudade porque somos tua parte nesse lado. Saudade poque fomos muito felizes contigo. Saudade...




Nota do blogueiro:
Idealmente este texto da Alessandra teria sido publicado no dia de ontem. Entretanto quando chegou para mim com a autorização de publicá-lo neste espaço, a madrugada já chegara.

5 comentários:

Riva disse...

Hoje, 15 de junho, meu pai faria 101 anos de vida. Faleceu aos 63, muito jovem. Foi um ser iluminado, especial mesmo, acho que já escrevi sobre ele.

Nossas lembranças da infância associadas aos nossos pais são marcantes demais. Nesse seu caso, Alessandra, a música foi o vetor, mas claro, num nível creio inferior ao amor e amizade que os uniu.

Todas as minhas lembranças da infância e/ou juventude são, não sei porque, associadas à escola que frequentava nas épocas.

Linko ( do verbo linkar, Profª. Rachel) a lembrança à turma da escola, aos professores, matérias, meus cadernos encapados por meus pais, aos recreios, ao ônibus escolar, às merendas que levava, sinto até cheiros da escola. Impressionante !

A música sim passou a ser uma referência mais tarde, com certeza devido a (tem crase?) importância que teve em minha vida, no meu dia a dia, com a Jovem Guarda, Beatles, bailes, namoradinhas.

Mas, tentando pinçar alguma lembrança de infância com alguma música relacionada, sim, tem uma que na época foi marcante. Explico.

Fomos a São Paulo, eu, meu irmão Freddy com nossos pais. Primeira viagem de avião, um Electra da VARIG. Minha mãe (já cega) foi fazer alguns exames médicos.

Nos hospedamos na Av. São João, num hotel que ficava ...... acima de uma loja de discos.

Minha mãe, por estar cega, ouvia discos o dia inteiro na nossa vitrola, geralmente bem alto. Valdyr Calmon, Altamiro Carrilho, muita música clássica, etc.

Na época, tinha uma música arrebentando de sucesso chamada DOMINIQUE. Foi um inferno, porque a loja colocava a música o dia inteiro pra tocar.

Para nosso desespero, mamãe comprou o maldito disco e passou a colocá-lo para tocar também em nossa casa, por muito tempo. Como esquecer essa música, que martela em minha cabeça até hoje ? kkkkkkkkkkkkkkkk.

Parabéns pelo texto, Alessandra. Não sei como você ainda não pensou em escrever um livro. Vc tem o dom de conseguir transformar sua sensibilidade em texto, e passar tudo isso para quem tem a sorte de o ler. Bjs.

Alessandra disse...

Riva, tudo bem?

Tão bom ter o sentimento repartido...esses que são únicos, esses de alma. Falo com sinceridade e de coração. Fico feliz, quando consigo transmitir e, mais feliz ainda por vcs que me lêem, sentir o que senti...

Falo do meu pai constantemente. Foi uma pessoa mto forte na minha vida. Estivemos ligados por 44 anos. Posso contar nos dedos os dias ruins ao lado dele, aqueles dias em que o pai vira um "padrasto". Meu pai foi doce, amigo, gentil que só, conquistador barato e mal sucedido (desses que se dão mau mas paqueras furadas, mesmo casado, olha isso) foi meu herói em quadrinhos predileto, herói na minha vida... E por aí vai. Meu pai esteve ao meu lado em todos os meus bons e ruins momentos. Foi ele quem me ensinou o valor da desculpa, ao me pedir de coração. Nunca imaginei aquela cena.

A música me guia. Dá brilho e cor. A música fala por mim quando o choro silencia a voz A música me situa. Ajuda a pensar.
Não danço nada. Mas a música tem um caso de amor com minha alma e meu coração. Eles todos dançam dentro de mim quando a escuto. E citar essa música no blog, foi apenas um adendo dentro de tudo que vivi com meu pai.

Já viu né, que se for falar de meu pai, escreveria todos os dias. É uma forma de aliviar a distância que se formou entre mim e meu pai.

Tenho ótimas lembranças dele. Algumas posso descrever como se tivesse vivido ontem. Então, eu as descrevo baixinho antes de dormir, tipo um cochilo,uma forma de controlar a crescente insônia. Quando percebo, os pássaros cantam na janela.

Agora, Dominique fez parte da minha infância...rsrs. lá num tempo bem distante, eu sonhava em ter uma filha com esse nome. Esse sonho ficou na minha primeira década da vida.

Como meus familiares são espalhados por aí, uso muito Facebook e todo ano escrevo umas linhas sobre meu pai. Esse foi um dos textos que escrevi pra ele ontem. Tenho certeza que meu pai é banhado pelos comentários de amor que todos vcs emitem ao ler.

Sabe Riva.. nunca questionei o pq de meu pai partir sem eu poder estar com ele. (Ele faleceu no sul dias antes de eu ir buscá-lo para passar uma dias aqui em Teresópolis comigo) Nunca cobrei o pq de ter acontecido dessa forma. Mas eu entendi pq. As lembranças que tenho de meu pai são mais vivas que a imagem dele da despedida. Entende?
Mantenho viva dentro de mim as doces lembranças de meu pai. E, já pulando para outro assunto mas que custaria horas, dias e dias para se prosear e se fazer entender, falo da questão do mundo de lá, do espiritismo. As lembranças doces e boas que aqui trago pra vcs e que preenchem meu peito (assim como as suas a seus entes queridos) é o alimento puro para que eles possam seguir a jornada no lado de lá. É, eu sei. Um assunto um tanto delicado...

Obrigada pelas palavras que sempre me direciona. A coragem me falta para começar um livro. Nem sei por onde mesmo.

Ótimo fim de tarde a vc. Bjs!



Ana Maria disse...

Como sempre Alessandra é a emoção personificada. Realmente da gosto ler seus escritos.
Quanto a música, pais e lembranças, relembro minha mãe cantando os sucessos de sua juventude enquanto enfrentava os afazeres domésticos. Meu pai, por sua vez, nos poucos momentos de relax, depois do trabalho, "atacava de Vicente Celestino e Silvio Caldas. Aos domingos,pela manhã, desenferrujava long plays de ópera enquanto degustação uma dose de Whisky.

Riva disse...

Sou um ser musical.

Meus pais ouviam música, estudei 5 anos de piano, 3 de acordeão, 3 de teoria musical, canto coral, e o violão foi mesmo com um livrinho do jornaleiro, da Ediouro, chamado "Violão sem Mestre".

E aí, para minha sorte (e da minha geração) surgiu MPB, Jovem Guarda, Elvis, Beatles, Led Zeppelin, Hendrix, etc.

Até hoje carrego minha alma com música : em casa, fazendo ginástica, tomando banho, cozinhando (agora na quarentena virei cozinheiro com a MV de mestre), trabalhando, faço video conferência com fundo musical, é o meu mais rico alimento.

O violão faz amizades instantaneamente. Não posso ver um piano, em qualquer lugar, que sento para tocar - em aeroportos, bares, restaurantes, hotéis - a MV fica constrangida rsrsrsrs.

Na viagem à Itália ano passado, vi um piano numa estação de trem, e sentei para tocar. Apareceram logo 3 crianças em volta pra ficar olhando. Demais !

É uma linguagem universal, que acalma, entristece também, mata saudades, enfim, emociona. Não dá para imaginar o mundo sem a música.

Jorge Carrano disse...


Estou cercado de pessoas sensíveis, amantes de música, apegados às respectivas famílias, com boas lembranças afetivas de infância e cultuadoras de valores éticos e morais.

Que mais posso desejar aqui neste cantinho virtual, que apelidamos de Pub da Berê e oficialmente, em conformidade com seu DNA, trata de generalidades?