11 de fevereiro de 2018

Sambas de enredo - carnaval 2018

Começo por minha escola do coração - Portela - que fará um link entre Recife e Nova York, através dos judeus expulsos:

"La vem a portela é melhor se segurar
Coração aberto quem quiser pode 
Chegar
Vem irmanar a vida inteira 
Na campeã das campeãs em Madureira"

Em seguida um dos melhores em minha opinião -  da Mocidade Independente - que tratará da influência da cultura indiana:

"Bendita seja a santíssima trindade
Em Nova Deli ou no céu tuoiniqueim
Ronda na pele do tambor da eternidade 
O amor da Mocidade, sem início,
meio e fim!"

Por mera coincidências as duas campeãs do carnaval passado.

Mas tem mais. Por exemplo Mangueira, que dará uma sacaneada no prefeito que não prestigiou as escolas e nem o carnaval como um todo:

"Se faltar fantasia alegria há de sobrar
Bate na lata pro povo sambar
Eu sou Mangueira , meu senhor, 
não me leve e mal
Pecado é não brincar o carnaval!"

Grande Rio, que homenageará o Velho Guerreiro, o vascaíno Abelardo Barbosa:

"Oh Terezinha! Oh Terezinha
Vai começar mais um Cassino do
Chacrinha
Oh Terezinha! Oh Terezinha
A Grande Rio é o Cassino do Chacrinha"

Unidos da Tijuca, do presidente Fernando Horta, que gostaria de ver como presidente do Vasco, que prestará homenagem a um também vascaíno multitalentoso:

"O povo do samba chamou
E fez de você um poema de amor
Na minha bandeira azul e amarela 
Mais uma estrela, Miguel Falabella."

E a modesta Paraíso do Tuiuti, com um enredo crítico focado nos 130 anos da Lei Áurea. Também azul e amarela, como a anterior Unidos da Tijuca:

"Meu Deus! Mau Deus!
Se eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social"

E a Vila Isabel, do Martinho, de Noel, este ano com Paulo Barros, o criativo carnavalesco, usando e falando dos muitos recursos tecnológicos:

"O povo do samba é vanguarda popular
Mora nos Macacos e no Boul
Vem aqui aprender ,"minha Vila tá legal"
"O moderno e o tradicional"

São Clemente - falará sobre artes plástica. E da tradicional Escola de Belas Artes:


"A mais bela arte o samba me deu
Fiz da São Clemente o retrato fiel
Os traços mais finos, com as bençãos 
de Deus
Deslizam no meu papel."

Império Serrano, vizinha da minha Portela, de tantos maravilhosos sambas de enredo, que entrariam em qualquer antologia. Falará sobre sobre a  China. 

"Quando soar o gongo
Toca esse agogô
Roda a baiana, é festa, um ritual de amor
A tradição milenar aprendendo a sambar
Com o melhor professor"

A simpática União da Ilha virá com um enredo recorrente, que é a culinária, mas que sempre nos deixa com água na boca, como a própria letra ressalta:

"Vem provar o sabor desse meu carnaval
Eu sou a Ilha, sou o prato principal
Vou deixar água na boca
Provocar uma vontade louca"

Salgueiro - terá como enredo as mulheres heroínas. Nesta época de empoderamento feminino nada mais oportuno:

"Firma o tambor pra rainha
É negritude ... Salgueiro
Herança que vem de lá (ô)
Na ginga que faz este povo sambar"

Imperatriz Leopoldinense, abordará o mundo dos museus, num samba coerente com seu título de nobreza:

"Gira coroa da majestade
Samba de verdade, identidade cutural
Imperatriz é o relicário
No bicentenário do Museu Nacional"

And last but not least, a Beija-Flôr, focará problemas crônicos do país, tais como a corrupção e desigualdades sociais:

"Oh pátria amada, por onde andarás?
Seus filhos já não aguentam mais!
Você que não soube cuidar
Você que negou o amor
Vem aprender na Beija-Flôr".

Façam suas apostas. Joguem suas fichas na roleta. Quem ganhará este ano?

A ordem acima é aleatória, não guarda relação com a do desfile logo mais. 

De minha parte, não pretendo assistir. Está fora de cogitação. Na quarta-feira ficarei sabendo do resultado. 

Divirtam-se e torçam.

Notas de esclarecimento: antigamente, quando acompanhava os desfiles e até cheguei a comparecer a ensaio da Portela, os sambas tinham um autor, ou, quando muito, dois autores. 

Atualmente os sambas são feitos por um consórcio, uma ONG, uma sociedade coletiva.

Com raras exceções, os do passado eram muito melhores. Alguns são inesquwcíveis, antológicos.

Já tratei deste assunto em postagens específicas. Se for o caso, cliquem em
https://jorgecarrano.blogspot.com.br/2016/02/era-no-tempo-do-rei.html

Ou em:
https://jorgecarrano.blogspot.com.br/2012/02/carnaval-passado-e-presente.html


E sobre a Portela:
https://jorgecarrano.blogspot.com.br/2009/11/portela.html

8 comentários:

Jorge Carrano disse...

Inesquecíveis:

1) Do Paulinho da Viola, "Memórias de um sargento de milícias", que aborda o livro de mesmo título. Diria, leia o livro ouvindo o samba.

2) "Heróis da Liberdade", de Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira, duas feras.

3) "Tiradentes", de novo Mano Décio.

4) Aquarela brasileira", de novo Silas de Oliveira

Procurem no YouTube, ou as letras no Google e me digam se tenho ou não razão.

Jorge Carrano disse...

Como foi o primeiro dia, na visão da imprensa:

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/carnaval/2018/noticia/protestos-e-estouro-de-tempo-marcam-primeira-noite-de-desfiles-no-rio.ghtml

Jorge Carrano disse...

Mencionei que no passado os sambas tinah apenas um autor, no máximo dois. Exagerando três.

Mas tem a recíproca.

Dudu Oliveira, autor do samba da "Bem Amado", de Niterói, é o responsável pelos sambas de outras cinco escolas da cidade.

Acho que ele tem uma linha de montagem de sambas de enredo (rsrsrs).

Jorge Carrano disse...

Opinião do cronista Artur Xexéo:

O samba do ano é o da Paraíso do Tuiuti. Não é o melhor enredo, a escola não vaia ganhar, ainda segundo Xexéo, mas o samba é o melhor deste ano.

Rivva disse...

Houve uma época em que a vagabundagem dava uma trégua no Carnaval.

Agora fica mais braba ainda ...... protejam-se !

E a GLOBO, transmitiu o Vampiro com a faixa presidencial ontem ? kkkkkkkkkkkkkkkkk

Ana Maria disse...




Faz tempo que o blog manager era entusiasta dos sambas enredo. Ganhava os Cd's no Natal.

Por sua causa fiquei fã dos sambas de empolgação que o Martinho da Vila compôs para levantar a moral dos integrantes depois de uma feia derrota.

" Vamos renascer das cinzas, plantar de novo o arvoredo. 

No calor das mãos unidas, na cabeça um novo enredo"

https://youtu.be/HjdLpOAvqSY




Jorge Carrano disse...

Bem lembrado, Ana Maria.

Martinho é um mestre, compondo e interpretando.

Mencionei muito Silas de Oliveira, grande compositor da Império Serrano. Veja o samba que ele compôs, em 1964, para sua escola.

Martinho o incluiu em um de seus muitos álbuns. Ouçam:
https://www.youtube.com/watch?v=OyUdCNZy_WY


Neste período os sambas de enredo tinham um compositor. E eram sambas mesmo e não marchinhas disfarçadas. Comparem os sambas mais antigos com os mais recentes e verão o andamento bastante diferente.

Jorge Carrano disse...

Ganhou a escola da Globo: Beija-Flor.