6 de janeiro de 2018

Meu FLUMINENSE virou uma START UP



Por
RIVA







Aos amantes do futebol, e em especial aos reais tricolores – nada de Grêmio ou São Paulo (rsrs), estou encaminhando abaixo uma análise perfeita de um tricolor apaixonado* sobre o processo de apequenamento do meu time de coração.


Serve na verdade como alerta para qualquer clube, que tem (deveria ter) como foco principal a sua função social, o engrandecimento das suas cores e da sua torcida.

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Desde a saída da patrocinadora e, porque não dizer, gestora do futebol do Fluminense na figura do Celso Barros, o Flu resolveu adotar um modelo dito de recuperação financeira, o que na verdade, está longe disso.

Na visão da gestão do clube, nitidamente reducionista, isto significa “vamos fazer o que der com o que houver”, trabalhar por superavit (ou redução de deficit) financeiro.

Alguns ainda indicam isto como a única saída para a sobrevivência.

BULLSHIT !!! Não é nada disso …

O Flu é um gigante do futebol brasileiro, buscando erradamente dinheiro como uma empresa com fins lucrativos, o que não é, esquecendo sua função social preponderante, que  é sua razão de existir, o que realmente o sustenta.

Isso não poderia dar certo de forma alguma. Estamos falando de pelo menos 5 anos contados após a conquista do último brasileiro e, desde então, o que se conseguiu significativamente na prática? Quase nada. Nenhuma surpresa.

A pouca ou nenhuma melhora nos malditos números, que seguem péssimos após anos deste discurso fake de austeridade e recuperação, mas que na verdade é basicamente desinvestimento, projeta inequivocamente um Fluminense permanentemente em déficit e, pior, perdendo a condição de gigante ESPORTIVO construída em 115 anos de existência.

Sim, a “bufunfa” está sumindo e ficando cada vez mais inacessível e o motivo é simples: o Fluminense está mudando o seu “modelo de negócio” para um que o seu cliente alvo não se interessa:  passou a ser formador de jogadores de prateleira, porque ninguém se engana que esta exposição em massa de jogadores despreparados, subidos à fórceps, não tem o objetivo único de colocá-los no mercado para negociação o mais rápido possível. Pra piorar, gasta mal o que não tem, pagando salários irreais para jogadores fracos e trazendo jogadores inexpressivos por valores altíssimos. Ou seja, o core do Fluminense hoje não é fazer time e sim ser vitrine de açougue. Está virando um Nova Iguaçú.

Seu cliente, o torcedor, quer futebol, time forte e títulos e só vai bancar, ativando a matriz de receitas, a partir disso. Torcedor não comemora balanço positivo no final do período …. e mesmo que comemorasse, nem isso teria hoje … ou seja, mudamos o core da nossa atividade e, além de não fazermos futebol, desvalorizamos o que temos.



E chega desta conversa de modelo do Flamengo … é preciso cair na real ! O Fluminense não é o Flamengo, não dispõe das receitas e possibilidades que o Flamengo dispõe e não cabe aqui, neste momento, questionar se elas ficam disponíveis de forma justa e correta ou não para o clube da Gávea. A grana, o cliente e os apoios fundamentais sempre estiveram lá, só faltava parar (ou pelo menos reduzir significativamente) a sangria e a roubalheira. O modelo de um não serve para o outro, isto é claro que nem águas caribenhas.


Querem um exemplo? Não vamos ter nunca a mídia direcionada e disposta a alavancar a garotada na capa da frente de jornal todo dia, como fizeram com o Vinícius Júnior, garoto que tem futuro, mas no momento com bom potencial e só,  valer 200 milhões com 16 anos …

Além do mais, com o discurso de miséria absoluta que expomos ao mercado, ninguém valorizará os nossos jogadores. Sabem que negociaremos por muito menos.

O Fluminense tem que fazer diferente com os meios que tem: agradar o seu cliente, o seu torcedor. Dar a ele o que ele precisa para que ele dispare a possibilidade de criação de inúmeros produtos e serviços para seu próprio consumo. Deus do céu, olhem os melhores clubes do mundo e verão isso! Futebol forte gerando torcida comprada, espetáculos e entretenimentos em profusão, produtos e serviços, patrocínios de todos os tipos, jogadores valorizados, os bons querendo estar no clube  … não existe outro modelo viável.


Fluminense X Coritiba 1984
Não temos padrinhos, não temos mídia a nosso favor, nunca fazemos força nenhuma neste sentido também, fato … mas quando estávamos trilhando um caminho para reconquistar isso, num momento de disparar um processo virtuoso de crescimento, que teve seu ápice em 2012, os grupelhos políticos fagocitários acharam que o Fluminense estava  perdendo uma suposta autonomia sobre os seus próprios destinos. Uma profunda babaquice patológica de achar que o Fluminense se encerra dentro das Laranjeiras e não pertence ao mundo. Daí, começaram a fazer de tudo para derrubar o que vinha fazendo o clube ter os seus melhores resultados esportivos da história. Em vez de comemorarem o momento, como pessoas normais, implodiram o clube internamente … conseguiram …


Meus parabéns! O clube agora é todo de vocês. Neste caminho, vão ficar sozinhos com ele em breve, porque os clientes torcedores estão indo embora … como li outro dia, dito por um aspone de blog: “perdeu no voto, agora tem que aturar” … dá ou não dá vontade mesmo de se afastar, depois de três golfadas ?

Pra não dizer que não falei das flores, só metendo o malho e não dando alternativas, segue o que entendo como diretivas fundamentais para sair desta areia movediça:

– Pra quem não tem padrinho ou estabilidade, não há recuperação sem investimento e aumento de receitas. Aumento de receitas, no futebol, significa ter time forte e torcida feliz.

– Reduzam ao mínimo tudo o que não gera receita significativa e não seja auto-sustentável, como a atividade social (notem que sou sócio proprietário do Fluminense e isto não me beneficia em nada). Revisem e, se possível, acabem com projetos mal conduzidos, como o Samorin, e quaisquer outras bobagens que, mesmo que tenham potencial, NÃO SABEMOS FAZER FUNCIONAR e direcionem TODO o investimento para futebol profissional em primeiro lugar e na divisão de base, por consequência.

– Um clube, assim como qualquer negócio, não pode ter apenas metas de longo prazo. Isto para investidores, patrocinadores etc.. é visto assim como realmente parece ser: NÃO HÁ PLANO ALGUM. Se pretendem tornar o clube atrativo, estabeleçam metas de curto prazo, porque o resultado a longo é sempre resultado de quick wins durante todo o período.

– Esqueçam estas mentiradas eleitoreiras de estádio, recuperação,eleição via internet (só pensam nisso) e todas as obras politiqueiras. Não conseguem nem tornar o estádio das Laranjeiras um lugar habitável … aquilo está quase uma ruína, abandonado e sem gerar nenhuma receita … toneladas de espaço e dinheiro jogados no lixo … chega a dar vontade de chorar.

– Abandonem os interesses de outros clubes e vejam somente o interesse do Fluminense e do seu torcedor. Seria ideal que fosse outra a realidade, mas hoje, e enquanto não evoluirmos muito aqui em Pindorama, cada um só cuida mesmo do seu rabo e dos seus interesses. O ambiente é competitivo, tem muita grana rolando. Ninguém vai ajudar ninguém. União em torno de objetivos definidos comuns podem ser até válidas, mas é preciso entender as entrelinhas e afastar riscos futuros.

– Admitam que falta competência técnica para fazer futebol, porque isso não é pecado e enquanto ficarem achando que entendem, seguirão fechados para aprender. Não funcionará qualquer processo de profissionalização em que competência para a atividade core não seja o principal pré-requisito. Organizem-se e procurem gente tecnicamente preparada para tocar e gerir o futebol. Paguem o preço delas e paguem por resultado. Uma dica: trabalhem eficientemente para o destino do clube assim como fazem pra criar tropa de choque policial em blogs pra ficar batendo boca com oposição política (que também não se mostra com postura e “know how” para resolver nada).

– Aliás, antes que eu me esqueça, FODAM-SE os politiqueiros com seus aspones amestrados, não contribuem com nada, só emperram o clube! Despolitizem as decisões e ações no clube imediatamente, juntem forças! Livrem-se dos que só servem pra fazer politicagem … lugar de torcedor é na arquibancada. Na gestão do clube, é preciso gente comprovadamente técnica e 100% dedicada. Chega de palpiteiros de meio expediente.

– O Fluminense precisa ter time em condições de disputar para ganhar tudo que disputa para recuperar a sua clientela. Invistam o que tiverem e, se não tiverem nisso, busquem parcerias individuais, alternativas no mercado, enquanto ainda temos marca. Se for necessário, procurem crédito e rolem dívida. Dívida bem administrada e de longo prazo é sinal de saúde financeira. Administrar financeiramente é saber gerenciar passivo de investimento.

– Não existe time campeão com onze unanimidades, mas não existe um em que não haja pelo menos três ou quatro, assim como também não existe elenco formado por mais de meia dúzia de jogadores de divisão de base. A relação, salvo em caso de excepcionalidades, como estar subindo diversos jogadores acima da média, o que não é o nosso caso, não pode passar de 20%. Divisão de base é complemento. Cada ano que se passa nessa situação, repetindo estes erros, o caminho de retorno é cada vez mais difícil e o clube fica menor. Ninguém está inventando nada aqui, insisto … basta analisar times campeões.

– E, pelo amor de Deus, não tentem reinventar algo que vocês nem entenderam ainda como funciona. Todo burro ou “sem noção” com iniciativa tem potencial de destruição maior do que milhares de bombas de hidrogênio.

O Fluminense, senhores, não é uma startup em busca de um modelo e uma melhor forma de negócio. O negócio do Fluminense foi definido há 115 anos e está no seu nome. A missão do Fluminense sempre será vencer as competiçoes que disputa. E a sua visão é fazer isso já na próxima. Todo o direcional deve ser esse é isso que o sustentará gigante, como vinha sendo.


*Antônio Ramos

Ex-jogador, auxiliar técnico e instrutor de futebol

3 comentários:

Jorge Carrano disse...

Riva,

Console-se, olhe ao redor e me diga se há um só clube no Brasil, já nem falo do Rio e Janeiro, que esteja bem financeiramente, com bom elenco de jogadores e administrado com competência.

O campeonato carioca era acompanhado em todo o Brasil, e os paulistas morriam de inveja. Daí a rivalidade que existia.

Clássicos com o Maracanã lotado, com mais de cem mil torcedores, as torcidas tendo lugar cativo (por exemplo o Vasco à direita das tribunas), torcedores que eram referência, como o Ramalho, do Vasco, que soprava seu talo de mamoeiro, conclamando a torcida.

Festa de cores, com as bandeiras desfraldadas, a charanga do Flamengo, o pó--de-arroz da torcida tricolor.

Nossos clubes eram admirados na Europa. Eram sempre convidados para aos torneios de verão, como por exemplo o Teresa Herrera e o Ramon de Carranza.

A sala de troféus do Vasco ostenta alguns deles, conquistados numa época em que tínhamos, realmente, o melhor futebol do mundo.

Tudo isso é passado. Não direi, como Karl Marx que se repetirá como farsa, porque na primeira vez não foi tragédia.

Jorge Carrano disse...

O Barcelona acaba de divulgar nas redes sociais a contratação de Philippe Coutinho.

O clube catalão pagará € 400 milhões (R$ 1,5 bilhão), pela transação.

Dá para comparar com a realidade brasileira?

Jorge Carrano disse...

Os valores acima estão claramente equivocados. Foram tirados do portal UOL no momento em que publiquei o comentário.

No site da ESPN encontro agora:
"Agora é oficial: Barcelona confirma contratação de Coutinho por R$ 622 milhões".

Seja como for, é muito dinheiro. O Vasco vai embolsar cerca de R$ 15 milhões como clube formador.